Muitos confundem vitalidade eclesiástica com ativismo. Para estes quanto mais eventos e atividades uma igreja tiver, quanto maior for sua agenda, mais viva ela aparenta ser. Ocorre que na Bíblia vitalidade não tem a ver, primeiramente falando com ação, mas sim com conexão (João 15; Jeremias 2). Mesmo porque uma agenda agitada pode ser sinal de perturbação e não de paz, que marca os vínculos relacionais e as melhores decisões.
Mas o que tornaria então uma igreja apática? Sem querer esboçar uma fórmula, daquelas tipicamente americanas, nem tampouco tangenciar uma condição cabalística, quero sugerir 10 sinais da perda de vitalidade de uma igreja, do prazer de congregar e fazer parte do povo de Deus, sabendo que há outros tantos sinais para os que se dispuserem a fazer uma lista:
- Perdemos a vitalidade da Igreja quando o Evangelho que liberta é pregado em sua pureza, e os ouvintes se deixam perder no sentido desta liberdade. Essa liberdade, se não acompanhada da maturidade cristã, que traz no seu bojo a responsabilidade (Rm.14), pode gerar uma auto-condução das pessoas para uma vivência isolada da congregação. Ernst Troeltsch já dizia que “o grande problema da organização do protestantismo reside em coordenar a livre interioridade da convicção religiosa individual com as exigências de uma comunidade cultural e administrativa” (El Protestantismo y El Mundo Moderno, p.59). Na maturidade cristã quando você atinge o pleno estágio da consciência da liberdade, ganha de presente a responsabilidade. Você não foi salvo para viver longe do povo de Deus.
- Perdemos a vitalidade como Igreja quando damos por “acabada” nossa vida com Deus pelo acolhimento do Evangelho, pela recepção de Jesus (Lc.10:38) em nossa casa, em nossa vida. Há muito mais por ser feito em nós; há muito mais o que Deus quer usar em nós.
- Perdemos a vitalidade da fé quando nossa prioridade está nas coisas, algumas até importantes e legais, mas que não são espirituais (Lc.10:39-41). Olhe para o exemplo de Marta: fazendo o que era importante (preparar a casa para acolher Jesus), mas se esquecendo que o Evangelho não precisa de preparação para ser recebido. Ao nos determos junto às coisas perdemos a dimensão do que é essencial.
- Perdemos a vitalidade quando os cultos ser tornam iguais para nós, esquecendo-nos de o único a quem cabe essa avaliação é Deus, pois Ele é quem os recebe. Só Ele pode dizer que se aborrece dos cultos, das assembléias solenes (Amós 5:20-23).
- Perdemos a vitalidade quando desaprendemos a orar (Lc.11:1-13). Cabe aqui uma pergunta: orar é igual a andar de bicicleta? Uma vez orando nunca mais se esquece como fazê-lo? Bom, sem querer ser taxativo na resposta, nem tampouco simplista, parece que os discípulos tinham dificuldades com a oração. Tanto na sua formulação, quanto no caráter de quem as recebe – Deus. Possivelmente os discípulos estavam impressionados com a oratória farisaica (aliás, desde sempre discípulos de Jesus se distraem mais com a oratória dos fariseus do que focam na simplicidade do Mestre). Aí vem Jesus tendo que consertar tudo… “Pai nosso”… proximidade, intimidade e sobretudo, simplicidade. Quando o povo de Deus em uma igreja desaprende a orar ou se distrai com a oratória dos fariseus, a vitalidade da igreja se torna ameaçada.
- Perdemos a vitalidade quando passamos a suspeitar que o céu ou não é tão bom quanto a vida que temos aqui, ou que sua iminente realidade pode não acontecer (II Pe.: 3; I Tess.: 1-3). Se não arde no nosso peito o grito de Maranata (Ap.22), é porque a “paixão” por Cristo se foi há muito tempo, e com ela a vitalidade da igreja.
- Perdemos a vitalidade como igreja quando há uma discrepância e dissonância entre a abastança pessoal e a carência eclesial e de alguns irmãos (Mq.6:14-15; Ageu 1:4-8). Lembro-me do hino “Não fica bem a gente passar bem e o outro carestia; ainda mais quando se sabe o que fazer e não se faz”. Às vezes, muito raramente mesmo, me pergunto: o que seria de muitos abastados irmãos que participam da obra de Deus com “migalhas”, se Deus resolvesse agir reciprocamente, isto é, permitir que só tivesse acesso a migalhas também?
- Perdemos a vitalidade como Igreja quando a Palavra deixa de ter feições de brigadeiro ou mesmo pão-de-mel (Ez.3:3) e passa a se tornar igual à uma salada de jiló com quiabo e rabanete… Quando perdemos gosto pela Palavra de Deus, quando ela deixa de nos alimentar a alma, nossos sinais vitais diminuem sensivelmente.
- Perdemos a vitalidade como Igreja quando perdemos a nossa capilaridade, quando deixamos de sentir a necessidade do mundo e passamos a optar pelo oferecimento do mundo. Numa abordagem bíblica, o maior sinal da perda da capilaridade de uma igreja, da morte de sua sensibilidade, reside quando ela se recusa a processar e a responder aos clamores captados pelos sentidos, coisa que bem pode ser vista na Parábola do Samaritano (Lc.10) onde o levita e o sacerdote se recusaram a socorrer alguém que estava no caminho.
- Perdemos a vitalidade quando mantemos Jesus ao alcance dos nossos olhos, mas não sentado aos seus pés (Lc.10:38-42). Para muitos Jesus é alguém a ser controlado, domesticado, quando na verdade nós deveríamos nos aquietar aos seus pés. Somente assim vemos sua face; somente assim a irradiamos como sinal da Sua Graça em nós.
Findada esta pequena lista, o que fazer? Sugiro um check-up. Faça você mesmo diante de Deus. Bom é corrigir os problemas quando são pontuais. Difícil se torna recuperar quando o quadro está todo tomado e quando somente um milagre divino pode vir a restaurar nossos sinais vitais como igreja.
Que Deus o abençoe e não deixe perder a vitalidade como povo de Deus!
Pr.Sergio Dusilek
sdusilek@gmail.com