Novos Caminhos, Velhos Trilhos

abril 30, 2022

Como confiar em Deus, quando o que ele nos manda fazer nos conduz ao sofrimento?

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Como confiar em Deus, quando o que ele nos manda fazer nos conduz ao sofrimento?

Pr. Sérgio Dusilek

Igreja Batista Marapendi-RJ

Esta é a pergunta honesta que salta aos olhos de todo leitor acurado, no momento em que se depara com a fala de Paulo aos Tessalonicenses em sua primeira epístola, capítulo 2, verso 2 (1Tess.2:2). Mas talvez você indague do porquê da questão…

Vamos lá. A chegada de Paulo em Tessalônica se dá após a passagem por Filipos (At.17:1). Filipos não estava nos planos de Paulo. Ele queria ir para a Ásia (At.16:6), quando o Espírito o impediu e posteriormente lhe deu uma visão (At.16:9,10) para que fosse para a Macedônia. Pois foi lá em Filipos que Paulo e Silas tiveram a excruciante experiência de serem injusta e brutalmente açoitados (At.16:22,23; 2Cor.11:24). No caminho do cumprimento da vontade de Deus estavam as chicotadas, os açoites… como confiar nEle após isso? Como confiar quando as chicotadas traspassam os lombos e atingem a alma (Paulo fala em humilhação pública que sofreu em Filipos (v.2), traduzida em algumas versões como “maltratados”)?

Primeiro é reconhecer que o percurso da vontade de Deus não nos conduz a um “mundo de Poliana”. Por vezes, cumprir o expresso desígnio de Deus nos conduz aos açoites públicos, ao vento contrário, ao enfrentamento das tempestades. O mapa da vontade de Deus desconsidera os avisos climáticos, o radar meteorológico. Isto porque a vontade de Deus não encontra livre aceitação e fluidez nesse mundo (“que a Tua vontade seja feita na Terra como é feita no céu” é o modelo de oração deixado pelo Mestre). Além disso, nós acabamos sofrendo um processo de modelagem, de fazimento e refazimento pelo Espírito, enquanto submissos ao Seu querer.

Em termos práticos, por vezes Deus vai nos retirar de uma liderança fluída para nos encaminhar para liderar pessoas e organizações truncadas. Sem óleo (do Espírito) nas engrenagens eclesiásticas ou denominacionais. Quando assim acontecer, obedeça a Ele.

Segundo é que a confiança neste verso 2 de 1Tess.2 pode ser traduzida como ousadia, como novo voto a uma maior abertura, no mundo helênico, à liberdade de expressão. Nesse caso, o problema da confiança em Deus permaneceria… Ainda mais com a nova perseguição que Paulo e Silas sofrem em Tessalônica (At.17),agora pelos judeus. Esta produz uma nova marca no apóstolo que pode ser vista pelo termo traduzido como combate: no grego a palavra equivale a agonia. Note bem: são os religiosos, não os filósofos que perseguem o apóstolo. Lembre-se que em Atenas, os filósofos se desinteressaram pelo discurso paulino… não o perseguiram.

Parece-nos que a promessa vocacional paulina é o melhor caminho para entendermos esta confiança. Desde sua conversão, Paulo entendeu que caberia a ele dar testemunho em meio a muita provação e sofrimento. Sendo assim, confiar, descansar em Deus se torna a única alternativa para quem não encontrará descanso, inclusive nos mecanismo de projeção ao serem chamados pela turba de Tessalônica, de “transtornadores do mundo”. Se Tessalônica com suas águas termais (era a Caldas Novas/GO daquele tempo) era um natural convite ao descanso, ao relaxamento, Paulo contrapõe o acolhimento de Deus como o melhor lugar de descanso. A consciência de que sua vida estava nas mãos daquele que o chamou.

A confiança em Deus retroalimenta a fé: confiamos e ao fazê-lo, abrimos as portas para um relacionamento profundo com Deus; ao nos relacionarmos profundamente com Deus, passamos a confiar ainda mais. E esta confiança não se trata de uma experiência subjetiva, tão somente. Ela se exterioriza numa vivência ministerial exercida com lisura e honra (2Tess.2:3-12).

Por fim a confiança em Deus tem seu fôlego renovado na mensagem do Evangelho. É pelo Evangelho, para o Evangelho, por causa do Evangelho. “Sim”, já dizia o compositor sacro, “eu amo a mensagem da cruz”.

Portanto, confiar em Deus não é só a alternativa. É o resultado de quem ama Jesus e o Evangelho mais do que a própria vida. É a própria exteriorização da relação com Deus que se dá em meio ao sofrimento. Como seguir confiando em Deus quando se perde tudo como Jó? Como seguir confiando em Deus, quando no propósito de salvar as pessoas pela mensagem do Evangelho, somos por ela maltratados? A permanência, a perseverança nos dias maus, em tempos difíceis, são vigorosos testemunhos da confiança que temos em Deus, e do valor e amor que damos e temos pelo Evangelho de Jesus.

Prossiga, mesmo porque, como já dizia o poeta popular, parafraseando o Salmo 30:5:

“Mas é claro que o sol vai brilhar amanhã,

Mais uma vez eu sei;

Escuridão já vi pior de endoidecer gente sã;

Espera, que o sol já vem”.

abril 28, 2022

BRASIL: Um grande Garimpo.

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 11:45 am

BRASIL: Um grande Garimpo.

Sérgio Dusilek

Profissão tão antiga quanto a ambição humana e o desejo de ascender por atalhos, o garimpo, outrora feito sem regulamentação e cuidado, hoje é alvo de uma regulamentação própria, que visa permitir a atividade extrativista sem que deforme o meio-ambiente, deixando como lastro e rastro de sua passagem uma terra arrasada.

Logicamente que a imensidão territorial do país, os valores envolvidos na atividade, o interesse estrangeiro no contrabando de metal e de pedras preciosas, a alta taxação sobre a atividade, bem como a facilidade de mobilidade são alguns fatores que explicam a dificuldade, que passa pelo desinteresse, em caminhar pela legalidade. Soma-se a isso certa dose de uma cultura transgressora aliada ao desmonte dos aparatos fiscalizatórios.

O resultado? Meio-ambiente agredido, povos originários violentados e ameaçados, o “terror bandeirante” redivivo. O garimpo ilegal nada tem de uma pretensa e alegada liberdade para exercício de uma atividade profissional. Trata-se de uma atividade mais similar à desenvolvida por milicianos: invade áreas, impõe o medo, ameaça as pessoas, destrói o meio-ambiente, traz morte.

Diante disso, seria natural esperar que o governo agisse para coibir tal prática ilegal e não estimulá-la. No entanto, em terra brasilis, ocorre o contrário. O Governo que deveria prezar pelos limites da lei, promove constantemente sua elastização. Não é à toa que o Brasil atual se tornou um grande garimpo: promove e concede legitimidade a tudo que é ilegítimo. Transgredi e desfaz da lei a começar pelos principais mandatários, ao ponto da ilegalidade tensionar o que é legal (da lei). Parafraseando Cazuza: “transformam o brasileiro em garimpeiro, pois assim se ganha mais dinheiro”.

Não por outro motivo temos uma profusão de milícias: desde neonazistas às digitais; no garimpo e nos grandes centros; no campo e fora dele; das câmaras legislativas até o Congresso Nacional. E onde a milícia procria, a justiça, a esperança e a fé morrem. Na aridez e podridão miliciana só cresce o que é errado, o que é impuro, o que é desonesto, o que é desalentador, o que tem cheiro de morte. Nesse não-ambiente cresce também o que promove apostasia. Sim, apostasia… não é a teologia liberal que promove a perda da fé, mas a falta de justiça na terra, segundo o próprio Senhor Jesus (Lc.18:1-8).

O Estado miliciano é o estado de colônia. E nenhum Estado que retorne ao estado de Colônia o faz sem seríssimas consequências. A soberania nacional é a primeira a ser aviltada. Estranhamente é ela que vem sendo usada para “flexibilizar” várias leis, decretos, portarias, regulamentos. Aqueles que apoiam esse discurso esquecem que o fazem em nome do pretenso e autointitulado soberano da vez, e não em nome de uma soberania nacional.

Ser Colônia é assumir que o Estado brasileiro pode ser pilhado de novo. Que este país pode ser explorado pelo mundo, ao passo que seus habitantes seguem sendo socioeconomicamente rebaixados. É se prestar ao interesse internacional sem que se faça valer as aspirações nacionais. É vender o país a preço de banana…

Ser Colônia é assumir-se num Estado sem lei ou muito longe dela… tendo um oceano a separá-la. É estar à mercê do homem armado, do banditismo, do pior tipo de violência, que é a aquela fruto não da necessidade, mas da ambição e do poder. É trazer o Juiz no cabresto.

Ser Colônia é voltar ao tempo da expropriação violenta e sem rosto. É decretar que o interesse de alguns sobrepujam toda coletividade.

Ser Colônia é transformar o Brasil num garimpo, admitindo a legalidade (pela contumácia ou “jurisprudência”) do que é ilegal. É decretar o fim de uma nação que ainda nem começou. É enterrar de uma vez por todas, o “sonho intenso” de sermos um País.

O Brasil como garimpo, como Colônia, é um convite à contínua perplexidade, ao desenvolvimento de uma forma catatônica de defesa por pura desconexão com a realidade. É um convite ao choro soluçante, incontido, diante das atrocidades mais vis, como a do estupro e morte daquela criança Ianomâmi de 12 anos.

Esse “meu” Brasil garimpeiro, e não “brasileiro”; “terra” do miliciano e do grileiro, e não mais do “samba e do pandeiro”, é que precisa ser deixado para trás. É preciso seguir; não só isso: nós vamos conseguir.

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