Tenho estado muito preocupado com uma dimensão que tem sido escanteada na visão ministerial atual: a ética pastoral. As leis do mercado tal qual preconizava Adam Smith invadiram as igrejas e alcançaram os púlpitos. Há hoje sobre os pastores não só uma opressão espiritual, exercida pelo Inimigo, mas também uma pressão por resultados. Igreja boa é aquela que apresenta números bons: entradas cada vez maiores e freqüência cada vez mais intensa. Não que isso não seja desejável também no ministério pastoral, mas daí qualificá-lo como abalizador? Tê-lo como aferidor do valor de obreiro? Acho que é um pouco demais…
Há na Bíblia inúmeros relatos de cultos com números e estrondos (pareciam cheios de vida), mas que não sensibilizaram, antes irritaram o Senhor. O que dizer de Saul (I Samuel 15), da onde vem a célebre expressão: “acaso tem o Senhor tanto prazer em holocaustos e em sacrifícios quanto em que se obedeça à sua Palavra?” O numero era grande, mas a qualidade que ligada estava a obediência a Palavra, esta ia de mal a pior. E o que falar de Uzias (II Cronicas 26)? E a palavra dura de Deus vinda pelo profeta Amós (Amos 4:4,5 e 5:21) condenando a religiosidade? Sim, porque os cultos eram concorridos e as ofertas inúmeras no tempo de Amós, mas para Aquele que sonda o coração (Salmo 139) eram mera expressão de religiosidade… e como tal, sempre aborreceram a Deus. Não havia aroma suave de vidas se sacrificando para viver os valores de Deus.
Pelos critérios atuais, Noé, que é citado junto de Daniel e Jó como exemplos de integridade pela própria Palavra (Ezequiel 14:14), seriam, se fossem pastores de igrejas hoje, completamente desprezados. Ninguém os convidaria para falar, porque sob a ótica do mercado, eles não teriam nada a dizer, embora saibamos que a vida desses três homens permeou esse mundo com um cheiro agradabilíssimo, com um aroma suave (I Corintios 2:12-17). Todos cumpriram o propósito de Deus. Todos receberam a chancela da aprovação divina. Todos os três obedeceram ao Senhor. Contudo, conquanto haja relato e registro da influência que eles tiveram e do testemunho que deram, não há relato de números, de conversões na ação ministerial dos três. E agora, o que fazer?
Acho que é tempo de entendermos que a ética pastoral é idealista por natureza, porque os padrões da Palavra são elevadíssimos. Ou seja, não há espaço para o pragmatismo ético tal qual preconizava William James, John Stuart Mill e John Dewey. Não cremos numa verdade a posteriori, visto que sabemos quem é a verdade (JESUS). Ser pragmático aqui é avaliar a vida e o ministério de alguém não pelos pressupostos da Palavra, mas sim pelas conseqüências de suas ações, ou pelo alcance do seu ministerio. Nesse sentido, abre-se uma enorme janela para o relativismo ético no meio pastoral. Se o ministério se expande, ainda que o pastor esteja sendo implodido moralmente, familiarmente, espiritualmente, financeiramente, então está tudo bem. Se o pastor dá calote, mas a igreja cresce, não há problemas. Se o pastor tem conduta moral duvidosa, mas a igreja amplia sua arrecadação, não há problema. Problema existe para o pastor que é integro diante de Deus, que o obedece de todo o coração mas que por um motivo ou outro não tem seu ministério expandindo… isto não seria uma excrescência? Que tipo de coisa estamos criando e alimentando? Aliás, para quem voce acha que Jesus vai dizer “servo bom e fiel”?
Penso que é tempo de despertar. Despertar para o estrago que o pragmatismo faz que é derrubar e derrocar o poder do exemplo. Afinal, para que integridade se o que importa é a prática, o resultado final? Despertar para o fato de que o maior crescimento que nos é requerido é o vertical. Não adianta ser conhecido por todos se Ele não for do seu conhecimento. Despertar para que busquemos o crescimento numérico, mas de modo algum a qualquer preço. Despertar para que o maior crescimento que nos é requerido, no fim das contas, é o crescimento com Deus e diante dEle. E por fim, acordar para que não cometamos injustiças com piedosos e sérios servos do Senhor, cujo ministério não são vistos aqui como uma arvore enorme sobre a terra (tal qual o sonho de Nabucodonozor que Daniel interpretou – Daniel 4), mas cujas vidas sobem como aroma suave ao Senhor.
A vocês que honram o ministerio pastoral, e que exalam esse doce aroma que invade os céus, meu eterno respeito e admiração.
Pr.Sergio Dusilek
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