Novos Caminhos, Velhos Trilhos

julho 2, 2014

Uma questão delicada…

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 3:10 pm

Eu preciso aqui abordar uma questão muito delicada. Mesmo admirando o trabalho das organizações missionárias, mesmo tendo amigos missionários e outros dedicando sua vida na estrutura que busca (ou pelo menos devia buscar) ser meio de facilitação do trabalho missionário, reconheço que há práticas que me causa preocupação.

Essa semana vi no face um flyer promocional de uma organização missionária promovendo uma campanha para ajudar numa despesa médica de um familiar de um missionário autóctone. Algo em torno de um pouco mais de uma dezena de milhares de dólares. Muito pouco perto do orçamento anual dessa organização, o qual pode ser visualizado em seus relatórios.

Talvez voce se pergunte: mas qual é a preocupação diante disso? Não está certo? Não devemos cobrir essa despesa médica? Bom, é claro que a despesa deve ser coberta, assim como é louvável que a organização tenha autorizado esse gasto emergencial. Ocorre que me faz mal evidenciar na postura do “cobrir o caixa” (que já estava coberto, explico mais adiante), o desvio do foco. Para mim, a organização missionária desse caso (digo com tristeza, embora admita que possa ser aplicada a outras também) está perdendo a alma (e não é de agora) e trocando-a pelos números, pela questão administrativa, pelo resultado financeiro, pela capacidade de arrecadação.

Por que digo isso?

Primeiro porque essa organização que é reconhecidamente bem administrada, reflete seu gerenciamento no seu conservador orçamento. Eles não investem tudo que arrecadam, além de estabelecerem alguns provisionamentos (se excessivos ou não, vai depender de sua visão). Nesse sentido, ressalto que tais possíveis despesas médicas emergenciais, não previstas, já estão contempladas tanto na feitura de um orçamento conservador que promove por si uma espécie de poupança para o “tempo das vacas magras”, como também nos provisionamentos para despesas diversas que consta nessa mesma peça contábil/financeira.

Se fosse o caso de uma organização que trabalhasse no limite do seu orçamento, que investisse tudo que recebesse, a campanha para repor o caixa seria mais do que justa. Contudo, não sendo uma cujo orçamento pisa no acelerador, pelo contrário, pisa no freio, penso que tal campanha gera um constrangimento. Pelo menos, foi isso que senti.

Segundo porque ela (e outras que assim fazem) se expõe demais como “pedinte”. Penso que toda ação visando o levantamento de fundos missionários deve ser feita para alvos grandes ou pelo menos permanentes (sustento de missionários por longo tempo). Quando a petição se torna excessiva, ela tende a cansar o contribuinte/ofertante. E quando este se cansa, não há mais o que fazer. Cria-se calo nos ouvidos, e teias nos bolsos. Por isso penso que uma organização missionária de grande porte não deveria se expor em pequenas petições, mas sim se empenhar nas grandes campanhas na alimentação do ardor missionário. Nesse sentido seria, ao meu ver, muito mais produtivo se ao invés de campanha para repor uma caixa que está cheio, se essa organização enviasse um flyer dizendo do gasto autorizado (o que seria um feedback para os que ofertam) e pedindo oração pela cirurgia. Isso alimentaria a alma de quem o visualizasse. E quem sabe até alguém não se tocaria para ajudar? Perceba que embora o resultado possa ser o mesmo, a postura é diferente…

Por não me parecer razoável esse procedimento pelas razões expostas acima é que me preocupo com um possível sinal: o amor ao dinheiro. Missões só anda pra frente por conta do amor a Jesus. Amor esse que faz com que pessoas larguem tudo e se disponham a ir para o campo. Amor esse que toca o coração de quem abre mão de coisas aqui para ajudar no sustento. Mas quando o amor ao dinheiro passa a frente de Jesus, os missionários são esquecidos; o escritório e a sede se tornam um fim; a razoabilidade se perde e inúmeras petições de recursos chegam; o amor de todos esfria; as doações/ofertas minguam (ou minguarão) e a organização entra em crise financeira porque perdeu seu propósito.

Termino dizendo que me sinto privilegiado por fazer parte da IB Marapendi, de ter uma liderança e um povo com “visão para fora”, que não teme em comprometer boa parte do orçamento da igreja com missões e com a postura missional. Agora, infelizmente a organização missionária aqui exposta, pouco recebe de nossa igreja. E isso por esses e alguns outros fatores. Digo isso com lamento.

Com esperança que esse proagnóstico resultante não se cumpra,

Pr.Sergio Dusilek
sdusilek@gmail.com

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