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fevereiro 10, 2024

Por que você não sai da CBB, já que você não concorda com ela?

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 12:55 pm
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Por que você não sai da CBB, já que você não concorda com ela?

Esta foi a palavra que recebi nessa semana de um colega pastor. A seu favor, ele não é o único a pensar assim. No meio batista atual cresce, como erva daninha, os batistinhas: dispostos a defenderem a CBB contra os princípios batistas e a considerarem o expurgo dos divergentes como uma genuína alternativa batista.

Logicamente que há alguns problemas sérios com esse tipo de posicionamento e o que ele revela.

O primeiro e mais evidente é o desconhecimento do espírito batista que, por açambarcar a democracia e o governo congregacional, não pode prescindir da tensão inerente a todo processo democrático. Sim, a fundamentada e pertinente divergência deveria ser celebrada (e não combatida), como sinal da vigência da energia vital que deve pulsar em uma denominação de regime congregacional como a Batista. 

Neste sentido, a ausência de contrapontos em relatórios, não deveria ser celebrada, mesmo porque ela pode indicar uma desídia e um desinteresse crescente com a “res batista”. Cabe perguntar a quem interessa este assinalado desinteresse… 

A celebrada paz na apreciação de um relatório não é sinal, necessariamente falando, de aprovação divina. Pode ser resultado também do abuso de recursos regimentais e parlamentares, ou de manipulação, entre outros fatores.

O segundo problema desse tipo de posição é que ele nega o desconhecimento dos princípios batistas, onde reside o nosso DNA. Tal desconhecimento se manifesta, em termos práticos, com certa exigência de submissão cega a uma liderança, como se ela sempre fizesse o que Deus quer. Uma espécie de salvo-conduto prévio. Como se uma diretoria, ou um Conselho, tivesse a capacidade e investidura para dar o “imprimatur” batista. Além de não ser bíblico, tal expectativa suprime e sublima a divergência, além de colocar a pecha de “perturbador de Israel” em quem é crítico. Todavia, biblicamente falando, quem era o perturbador da Casa de Israel? Elias ou Acabe? O divergente ou o líder? O mensageiro ou o que preside, governa? 

O  terceiro problema é mais sério. Envolve uma indisposição para com quem pensa diferente a ponto de tentar descredenciar tal pensador. Trata-se de algo estranho aos batistas justamente por ser um movimento inquisitorial aliado à constituição de um pretenso e pseudo magistério teológico, o qual pretende chancelar aqueles que seriam os batistas verdadeiros. Nada mais falso e tão contrário à nossa tradição do que isso. Na esteira desse movimento, tem gente promovendo a declaração doutrinária a um credo, concepção absurda para os batistas ao longo da história, porém plenamente compatível aos fundamentalistas e àqueles que não se despiram do romanismo, mesmo após terem abandonado tal tradição. Sem contar que, frequentemente os integrantes de tal sinédrio Batista, são mal formados teologicamente falando.

O quarto e último problema que aponto aqui, nesta lista que não se esgota em si mesma, tem a ver com o futuro dos batistas. Ora, é visível o desmonte denominacional, exemplificado na crescente desmobilização patrimonial e no surgimento de pequenas denominações (no modelo assembleiano de igreja matriz e igreja filial) que ocorrem debaixo do nariz da CBB. O que poucas pessoas notam é que tibieza denominacional é diretamente proporcional ao silenciamento dos seus profetas. Quantos inquietantes avisos esta denominação ouviu? Quantos foram desconsiderados? Quantos profetas foram relegados ao deserto denominacional?

Sociologicamente falando, todo grupo incapaz de fazer, promover ou ouvir uma autocrítica, está fadado a desaparecer como instituição. Pierre Bourdieu, Rubem Alves, Roger Bastide, entre outros falam do perigo da acomodação de um grupo religioso em sua fase mais institucional. Para você descrente no que digo, permita-me  contrapor à sua incredulidade um dado comparativo: em Julho de 2003, quando ainda estava na JUMOC, o Despertar reuniu 2000 inscritos em Curitiba. Estamos falando de JOVENS de várias regiões do país. Pois em janeiro de 2024, em plena turística Foz do Iguaçu, a assembleia da CBB reuniu a mesma quantidade de inscritos. Com um detalhe: agora estamos falando de um público massivamente composto por adultos e idosos, evidentemente com maior poder aquisitivo.

A grande questão, portanto, que tais colegas (aqueles do início do texto) parecem procurar ignorar, é que quem pensa diferente do que aí está, pode representar mais o espírito batista, mais o legado genuíno, do que a versão institucionalizada vigente. A História, especialmente a que se volta para as religiões, está repleta de casos de grupos que se perderam ao longo do tempo, deixando de ser o que nasceram para ser. Tornaram-se, ao longo da história, estranhos a tudo aquilo que ensejou seu nascimento. Perderam o “sagrado selvagem”. 

Será assim com os batistas da CBB também? O tempo, que segue implacável, e a História dirão. Entretanto, uma coisa é certa: a probabilidade, diante do rumo dado pelos atuais timoneiros da CBB, é grande. Possivelmente, daqui há algum tempo, os batistas serão uma sigla religiosa vazia de significado; ou pelo menos da razão primeira e fundante a qual os fez surgir historicamente na modernidade.

Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça.

Dr. Sérgio Dusilek 

1 Comentário »

  1. Não deixo porque sou Batista a CBB é que não é. Emerson Azevedo Pr.

    Comentário por Emerson Azevedo — fevereiro 10, 2024 @ 6:42 pm | Responder


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