Só faltava essa para nós… e tinha que ser aqui no Rio de Janeiro. Com toda a violência que temos em nossa cidade, pelo menos podíamos bater no peito e dizer que malucos que atiravam em crianças era privilégio do primeiro Mundo, que por aqui tal devaneio não tinha chance de acontecer.
Não acontecia porque após ontem…
Ficou atestado o subdesenvolvimento do Brasil. Não somos desenvolvidos, embora alguns tenham (pasmem!) se sentido felizes por termos um problema típico de país do Primeiro Mundo. Nem tampouco somos “Emergentes”, porque tudo que emerge aqui no Sul é podridão. Somos é SUBDESENVOLVIDOS! Afinal, subdesenvolvida é a nação que perde suas crianças de modo estúpido. Bala perdida, tortura doméstica, violência no trânsito e agora malucos que as matam a esmo. Subdesenvolvido é também o país que espera tragédias acontecerem para somente então tomar, ou pior, publicar medidas preventivas. Subdesenvolvido é o país cujos políticos tem todo plano de contenção ou minoramento de um problema pronto, mas que esperam um trágico acontecimento para servir de lastro, de esteio e de veia para sua divulgação e promoção.
Há um embrulho emocional entalado na nação e engasgado no carioca. Essa atrocidade simplesmente se recusa a ser digerida. Também pudera: como uma pessoa premedita matar crianças, preferindo meninas e atirando em muitas para desfigurá-las? Em Realengo devia funcionar REALEJOS para as crianças. A boa perícia policial estabeleceu que tiro na face tem ligação com crime passional. Contudo, o que dizer de um cara que mata crianças que talvez nunca tenha visto? Cujo único nexo seja o estudo na mesma escola por onde passou?
Fato é que esse rapaz era mentalmente perturbado. E alguém nesse estágio patológico fazer algo inominável não é sinal do fim dos tempos. Sinal do fim dos tempos é quando gente normal sai fazendo coisa de anormal. Mas pela carta e pelo testemunho da irmã de criação, parece-me que fica patente sua ligação ou no mínimo admiração, pelo fundamentalismo. E aí, não importa muito se o apêgo foi ao fundamentalismo islâmico (como a irmã dizia que ele flertava) ou ao cristão (como transparece na carta). O fundamentalismo é um segmento próprio, separado, cujos traços em todas as grandes religiões monoteístas (judaísmo, cristianismo e islamismo) são iguais (leia o livro Em Nome de Deus de Karen Armstrong). Diferente mesmo só os objetos da sacralização. Não há nada tão explosivo nesse mundo quanto a junção de um psicótico com o fundamentalismo.
E Deus? Jesus nada tem haver com o fundamentalismo. Isso porque essa veia não é teológica nem bíblica, e sim ideológica. É projeção de mente insana sobre um caminho (religião) que procura apregoar a sanidade. Tampouco Cristo tem a ver com a psicose do rapaz. Ecoa a frase de Jesus em Mateus 19 – “não era assim no princípio”. Todas as doenças, inclusive as mentais são resultado do pecado humano. Deus jamais faria um Adão psicótico ou uma Eva esquizofrênica.
Penso que Deus se condói disso tudo. Creio que Ele chora ao ver uma maldade gigantesca como essa que atingiu aqueles que o próprio Jesus colocou como paradigmas do Reino, a saber, as crianças. Creio também que o lugar desse mundo hoje com maior densidade do Espírito é conhecido como Realengo. Porque onde há dor e tragédia, onde há estupidez e morte, onde há caos e desesperança, onde prevalece o abismo sobre as veredas planas, aí o Espírito Santo está, trazendo Consolo e cura para feridas que parecem jamais fecharão. O Espírito sempre paira sobre o caSO de caOS (Gen.1).
O que gostaria de ver? Vou dizer a você:
a) que todo o brasileiro tivesse a partir de hoje pavor de tudo quanto cheire o fundamentalismo. Seja ele Budista-tibetano, seja islâmico, seja católico ou “protestante”. Que em especial as igrejas evangélicas ao invés de ter fobia de gay (o termo homofobia é aplicado, semanticamente falando, de modo errado nesse caso), tivessem fobia de fundamentalismo, pois esse último MATA;
b) que o SUS levasse mais a sério essa questão de transtornos da personalidade e entupisse os hospitais de psiquiatras. Porque um maluco sem medicação não afeta só a ele; pode desgraçar a vida de muitos! Então, vamos parar de agir como se problema psiquiátrico fosse coisa de rico afetado e encarar como um caso grave (mais um) de saúde pública;
c) que os governantes não esperassem uma nova “Columbine” brasileira ou carioca para acabar com esse tráfico de armas pela peneira que é nossa fronteira. Que haja um plano de longo prazo e uma ação efetiva para erradicar o tráfico de armas no Brasil;
d) que o Governo do Rio se convença de que é preciso ter uma autoridade policial na porta dos colégios. Não adianta tirar polícia do asfalto para botar no morro (UPP). Se tivesse um PM na porta, dificilmente aquele rapaz teria entrado, ou obtido êxito no seu intento. Seria dificultada também o tráfico de drogas em especial praticado por uma minoria de ambulantes inescrupulosos bem como pelos “aviãozinhos”;
e) que aqueles que seguem a Jesus orem sem parar não para que o Consolo venha, uma vez que o Consolador está sobre Realengo. Intercedam para que as pessoas se permitam serem consoladas pelo Espírito. Nessa hora de perda abrupta, dois ventos podem soprar sobre os corações: o tufão “euro-aquilão” (At.27) que traz revolta, ensimesmamento; ou ainda a brisa do Espírito (Jo 3) que traz Consolo e PAZ. Que cada um que experimenta essa dor excruciante opte pela brisa do Espírito;
f) que a sociedade civil cobre de cada governante sua responsabilidade e sua ação para evitar futuras tragédias, além de minorar o sofrimento impigido pela de ontem;
g) que todos (governo e sociedade civil) se mobilizem pelo tempo que for necessário para que essas chagas sejam curadas.
Que Deus tenha piedade de nós!
Pr.Sergio Dusilek
sdusilek@gmail.com