Introdução
Já pediu algo para Deus e parece que Ele ficou em silêncio? É uma experiência angustiante, não é mesmo (Is.45:15, Jó 23:8-10)? Pois com Jesus não foi diferente. Ele fez um pedido de todo o coração ao Pai, repetiu o mesmo três vezes e só obteve o silêncio divino. Isso ocorreu no Getsêmani.
O Getsêmani era o local onde havia uma prensa (uma grande roda de pedra que moia as azeitonas, para que elas vertessem o óleo, o azeite), cercado por um olival, o qual terminou dando o nome aquele localidade de Monte das Oliveiras. Tal monte era uma cadeia de colinas das quais a mais alta situava-se a 900m acima do nível do mar. O monte das oliveiras ficava a leste de Jerusalém, separada dela pelo vale de Cedrom.
O silêncio do Pai aconteceu na última noite de liberdade de Jesus. Nas próximas 24h o Mestre seria preso, dilacerado e morto. E nesse episódio da vida de Jesus percebemos que o Senhor não era uma “aparição”, mas sim alguém que tinha carne. No Getsêmani vemos a humanidade de Jesus manifesta não só na sua angústia, mas também nos dois pedidos que fez aos discípulos (pediu a companhia e a intercessão deles). No Getsêmani notamos a humanidade de Jesus pela prensa emocional que passou e enfrentou. Aliás, como bem disse Pr.Levi Araújo, “sem prensa não há óleo e sem óleo não há unção”.
A-O PRÉ GETSEMANI
Jesus tinha acabado de receber mais uma tentação: um convite para ir para a Grécia, ser um dos grandes mestres de filosofia da humanidade (Jo12:20-25). Provavelmente eles já tinham ouvido falar de Jesus e queriam que Ele estivesse por lá, vivendo e sendo valorizado como sábio. Só que Cristo sabia que ele não tinha vindo para ser reconhecido, mas sim para se dar a conhecer e para cumprir o propósito redentivo de Deus. A prensa já tinha começado a girar antes mesmo da entrada do Mestre no Jardim das Oliveiras.
B-NO GETSEMANI
A riqueza da Bíblia mostra que os destinos da humanidade foram selados em dois jardins: a morte no jardim do Éden e a vida no jardim do Getsêmani. E isso porque Adão não quis beber o cálice da obediência; mas Jesus o sorveu até o fim (Rm.5).
A figura do cálice aqui está associada a idéia contemporânea de “injeção letal”. Tomar o cálice no Mundo Antigo era não só padecer, mas experimentar um sofrimento tal que redundaria na morte. Sócrates foi obrigado a tomar o cálice com veneno (cicuta) para que recebesse sua condenação. E Jesus estava tomando o cálice da obediência que continha o veneno da humanidade, isto é, todo pecado cometido na História. E Ele fez isso movido por amor e por livre vontade.
A noção da liberdade que Jesus tinha (daí sua angústia) está exalada na intercessão que ele fez. Jesus orou fazendo um pedido entre iguais eritao (no grego). Um pedido de Deus para Deus, de Deus Filho para Deus Pai. Ele não orou aiteo(no grego – Mt.7:7), pedindo algo ao Pai como sendo inferior/subordinado a Ele. Jesus tinha total condição de desistir, mas ele insistiu. E por conta disso temos hoje a salvação!
CONCLUSÃO-ALGUMAS LIÇÕES DO GETSEMANI
Jesus nos ensina que devemos orar e vigiar o tempo todo. Orar e vigiar impede-nos de cair em tentação e evita também que deixemos de notar a chegada do fim (Mt.24:42). Por vezes nos comportamos como os discípulos: fizemos tanta coisa no dia que quando anoitece e chegamos ao nosso jardim (nossa casa) não conseguimos nem orar. Só o que fazemos é dormir. Penso que quando isso ocorre ocasionalmente, por atendimento a uma emergência ou outra até que é tolerável. Contudo, se sua vida no quarto só se resume a dormir, creio que você precisa urgentemente fazer uma alteração de agenda. A prioridade tem que ser Deus.
Precisamos aprender também que nem todo pedido nosso vai redundar em atendimento imediato, como a nossa geração do controle remoto gosta tanto de ter, nem tampouco em algo próspero (como muitas igrejas apregoam por aí). Pode ser que o Pai queira que sejamos como a 2a parte da galeria da fé (Heb.11:32-40). Gente da qual o mundo não é digno, mas que honra a fé e é herói dela também.
Jesus nos exemplifica que nas horas de angústia, de agrura, é também a hora de ficar com os discípulos. Temos de ter companhia de discípulos de Jesus nos momentos da vida em que somos prensados pelas circunstâncias adversas. O Senhor se manteve a uma pequena distância dos apóstolos (mikron – grego). Jesus se mostra também um Deus que se recusa a ficar longe de nós, mas que anseia por proximidade. Na hora do aperto, quem está próximo de você? Quem você convida para entrar no “jardim espiritual”contigo?
Por fim há uma figura interessante aqui. Alegoricamente podemos traçar um link entre o Getsêmani e o Pentecostes. Jesus, prensado e vertido em azeite no Getsêmani, sinaliza para a vinda do Azeite celestial, o Espírito Santo da promessa, no período do Pentecostes (At.2). Não houve prensa desnecessária, mas até o Getsêmani foi anunciador do cumprimento da profecia de Joel 2:28.
Quando somos prensados, devemos recorrer a única coisa que cabe-nos fazer no nosso Getsêmani – orar. Se você está sendo prensado(a), ore, se derrame diante de Deus, mas se sujeite à vontade Soberana dEle. Saiba também que todos as prensas pelas quais passamos Deus usa para nosso bem (Rm.8:28). Há coisas que não entendemos agora, porém a compreenderemos depois. Foi assim com Jesus, por que não seria assim conosco?
[ESTUDO PUBLICADO NA REVISTA DIÁLOGO E AÇÃO TERCEIRO TRIMESTRE DE 2008]
Pr.Sergio Dusilek
sdusilek@gmail.com