O primeiro rei mencionado foi um baita líder. Ele buscara o Senhor (26:5) e o Senhor o abençoara. Tinha poder, fama, a tal ponto que inimigos históricos lhe presenteavam (26:8,15). Era visionário, a ponto de abrir novas fontes e incentivar o processo produtivo do Setor Primário, notadamente da Agricultura (26:10). Era construtor (26:9) e estrategista, a ponto de inventar novas armas de guerra e estabelecer diferentes torres que funcionavam como lugares de refugio e de sentinela. No entanto, o texto bíblico diz que no auge do seu benéfico e diferenciado reinado seu coração ficou envaidecido (26:16). Aquele para quem as portas sempre se abriam, ou mesmo para quem as portas nunca o impediam, acabou por DESPREZAR A PORTA DA CASA DO SENHOR (26:16-19,21). No alto da sua vaidade, achou que podia ele mesmo assumir os ofícios do sacerdote. A Palavra diz que os sacerdotes que ali estavam eram homens de fibra (26:17), expressão usada não só porque resistiram ao poderoso rei, mas talvez também por conta do alto risco envolvido. Afinal, da última vez que os sacerdotes resistiram a um rei, foi a turma de Aimeleque à Saul, quando 85 homens vestidos de linho foram mortos por Doegue, motivo que levou Davi a escrever o Salmo 52. Uzias, um rei bom amado e temido, se tornou leproso porque desprezou a Porta da Casa do Senhor, não reconhecendo os limites de sua atuação, nem tampouco o espaço do sagrado.
O segundo rei foi seu filho Jotão (27:2-3). Jotão foi aquele que não passou da Porta da Casa do Senhor. Conquanto fosse um rei que seguisse a Deus e aos seus preceitos (27:6), a sua relação com o Senhor se tornou da porta para fora. O grande símbolo desse fato é que ele edifica uma Porta do Templo (27:3). Era uma relação com Deus distanciada, sem inspiração e pouco inspiradora. Possivelmente ele esteve no Templo com seu pai quando Uzias desprezou a Porta da Casa do Senhor, ficando leproso (26:19-20). Aquela que fora a cena mais dramática da sua vida talvez tenha influenciado esse relacionamento da “porta para fora”. Quem sabe por vergonha do que acontecera; quem sabe por medo de Deus e do que aquele espaço podia ocasionar; quem sabe pela dor da perda de um pai em vida… Fato é que Jotão passou o restante dos seus dias ouvindo pelas ruas e pela memória a expressão “é leproso” (26:23) sobre seu pai.
A questão é que a ausência do seu exemplo, de sua espiritualidade vivida na dimensão do culto público trouxe, segundo a Bíblia, duas grandes consequencias: a) a primeira, o povo continuou a fazendo o que era mal, o que era errado; b) a segunda, seu filho Acaz (neto de Uzias) cresceu sem qualquer referência espiritual.
Essa ausência de referência espiritual sadia fez com que o reinado de Acaz fosse marcado como AQUELE QUE FECHOU AS PORTAS DA CASA DO SENHOR (28:24). Acaz passa a adorar outros deuses (28:2), atingindo seu ápice de sandice espiritual ao sacrificar, queimar parte de sua prole para um desses deuses (28:3). Ele se fascina com outros altares (II Reis 16:10-12), e passa a preferir os deuses que dão algum tipo de resultado, cujo maior exemplo é sua adoração aos deuses da Síria, os quais, para Acaz, tinham concedido a vitória da Síria sobre Judá (28:23). Para Acaz, não importava o que era certo, mas o que dava certo. Ele então rompe com todos os valores e com tudo que é sagrado (28:4,21,24). Perde tudo aquilo que era realmente importante e passa a buscar ajuda nas fontes erradas (28:24). Descobre, tardiamente, que uma vida longe de Deus é uma vida de abandono, de solidão, de falta de socorro e de perdas. Por falar nelas, sua última perda foi a sepultura. Ele não foi enterrado com a dignidade de um rei, pois foi colocado em outro lugar diferente de onde os reis eram enterrados (28:27).
Mas aí vem a Graça de Deus sobre essa família que parecia ter tudo para ser visitada pelo mal até a 4a geração. A Graça prorrompe do modo mais improvável: com o filho de Acaz, que se torna o rei Ezequias. EZEQUIAS FOI O REI QUE ABRIU E REPAROU AS PORTAS DA CASA DO SENHOR (29:3). É possível desdizer uma história, uma vez que não somos pré-determinados. Entre Calvino e Paulo Freire, estamos mais para a perspectiva construtivista de Freire. É possível não repetir o péssimo exemplo. É possível escrever uma nova e diferente história, por causa da GRAÇA de Deus. Ezequias se tornou um homem cuja oração Deus costumava ouvir (30:20; 32:20-21; Isaías 38:1-8).
Que neste ano de 2017 voce estabeleça um propósito de ser alguém como Ezequias – que abre as portas da casa do Senhor. Um instrumento de Deus para tocar o coração das pessoas que estão à sua volta, afim de que elas se voltem para o Senhor de todo o coração. Que você neste ano, valorize o culto no Templo, esse momento de adoração a Deus que temos como amigos, como família do Senhor. Não despreze as portas da Casa do Senhor como fez Uzias; Não tenha um relacionamento com Deus da porta para fora, como fez Jotão, porque o Senhor a quem servimos quer intimidade e não superficialidade; muito menos feche as portas da Casa do Senhor como fez Acaz, pois essa é uma trajetória de perda de valores, de referenciais, de pessoas, de Deus; e por fim, seja como Ezequias, instrumento da Graça de Deus para abrir as portas da Casa do Senhor. Assuma sua parte no sustento e no serviço do Senhor na Sua Igreja, que se torna nossa pela convivência como família de Deus, a saber, a Igreja Batista Marapendi.
Deus nos abençoe. Um 2017 diferente, muito melhor espiritualmente para todos nós, do que foi 2016.