Novos Caminhos, Velhos Trilhos

maio 16, 2014

LIDERAR É UM ATO DE AMOR

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 6:42 pm

O que você líder faz quando é desafiado por um liderado? Quando alguém coloca você em cheque? Eu queria nesse breve texto convidá-lo a pensar sobre essa aparente “inversão”.

Normalmente um líder que é questionado adota uma das duas posturas: ou ele “parte pra cima” do liderado lembrando a ele “suas divisas”, sua “patente” de líder; ou então, ele se encolhe, se retrai se enfiando numa caverna, assim como um dia Elias fez (I Reis 19). A grande questão é que embora o líder reconheça que não é perfeito, que possui lá suas falhas, suas idiossincrasias, ele além de não gostar de vê-las expostas, possivelmente entende o status de liderança como um invólucro ou um momento de perfeição. Nesse sentido, ao liderar o líder abre mão de sua humanidade para agir no nível de uma representação, tentando ser ou aparentar ser o que não é. E o liderado, bem, na maior parte das vezes prefere o líder teatral, a figura do ator, o performático digno dos maiores papéis no cinema, teatro ou TV.

Fato é que eu e você, líderes que somos, erramos. De igual modo os liderados vêem nossas falhas. A discussão que cabe então é o local a e a forma destes exporem o que viram daqueles. Rejeitar a pontuação externa simplesmente não é o caminho. O problema se agrava com mais dois ingredientes.

O primeiro advém da cultura. Na pós-modernidade há um desrespeito estabelecido a toda e qualquer figura de autoridade. É uma era psicologizante: as emoções, o sentir é valorizado ao extremo e as posições, os títulos são desprezados. Não importa quem é o general: importa que nenhum general merece respeito. Cantar aquele antigo, gostoso e lindo cântico que identifica Jesus como General nesse tempo é um convite ao desprezo do Mestre… infelizmente, diga-se de passagem. Estamos inserido nessa cultura que desafia qualquer figura de autoridade; em que as “fardas” recebem a agressividade ambiental. Fica muito difícil liderar desse jeito quando todos partem da premissa que são comandantes. Fica impossível exercer o voluntariado quando há tão poucos servos e tantos “caciques”.

O segundo agravante da questão da autoridade está na contramão cultural e também na contramão do mais puro e genuíno sentido da Bíblia. Trata-se da invasão da noção neopentecostal de que o pastor é o “ungidão” do Senhor,  e que devido a essa unção vive num estado de semi-perfeição, acima de todo e qualquer questionamento e ponderação. Instala-se uma ditadura espiritual a qual produz cataclismas em comunidade inteiras de gente que vem sendo abusada por esse tipo de liderança e cujo resultado é a produção do que Darci Dusilek profeticamente chamou de “flagelados da fé”. São os crentes não praticantes do senso do IBGE, abertos para Deus, mas fechados para tudo que diz respeito a Igreja, pastor, etc. 

Quando Maquiavel legitimou o governo principesco pelo discurso religioso no prisma da predestinação, da escolha divina, ele não chegou no nível do neopentecostalismo. Ele sabia que o governo sofreria suas críticas, oposições, daí a necessidade de estratagemas de condução política como o famoso “dividir para governar”. A versão neopentecostal turbinou essa idéia maquiavélica primeira. O “escolhido” pastor, bispo, é agora um semi-deus ou mesmo a personificação ministerial do Espírito. Por isso é proibido e “pecaminoso” pensar de modo diferente dessa figura. Há uma renúncia coletiva do pensamento e do que é razoável. Para quem se inspira nesse tipo de liderança, quero dizer a você que esses modelos ditatoriais e tirânicos pertencem ao Diabo e não a Deus.

E o que fazer então? 

Jesus sempre será nossa fonte de inspiração e alvo mimético. Após proferir o Sermão de Monte, o que alguns (acertadamente, penso eu) chamam de “Constituição do Reino de Deus”, as multidões se maravilharam de seu ensino (Mt.7:28), porque Ele não fazia como os escribas, mas falava com autoridade (Mt.7:29). Em que diferia a autoridade de Jesus da dos Escribas? E em que residia sua autoridade?

Os Escribas eram uma autoridade imposta. Uma vez conquistado o espaço de escriba, de fariseu, sua autoridade era imposta ao povo. Perceba bem: é como após um concílio alguém dizer “me respeite porque sou pastor!”. Jamais alguém que não se dê o respeito terá respeito. Pode haver dissimulação perante o cargo, função ou mesmo patente de alguém; mas respeito só vale quando vem do coração. E nisso Jesus se distanciava dos escribas. Seu respeito, conquanto pudesse ser imposto por ser DEUS, era conquistado.

As pessoas, como todo ser humano, observavam Jesus. E nele havia uma palavra “mágica” para a liderança: coerência. Ele vivia o que dizia. E a moral que havia na sua vida perpassava pelas suas palavras. E isso atingia seus ouvintes em cheio. Guarde bem uma coisa: palavra bonita, bem empostada mas que não possui lastro moral é palavra oca, vazia. As multidões estavam admiradas de verem a coerência de Jesus, uma vez cansadas da incoerência dos fariseus (veja Lucas 13).

Outra coisa que havia em Jesus era amor. Ora quem não confiaria sua vida, seu respeito, sua obediência a uma pessoa que tanto nos ama? Cristo demonstrava esse amor pela escolha pelo serviço. Paulo ao assinalar essa peculiaridade de Cristo diz que Ele, sendo Deus, assumiu a forma de Servo (Fil.2:7). Engana-se quem pensa que imbuído de um cargo, de uma função de autoridade, acha que pode pisar ou mesmo espezinhar os outros. Faz-se louco aquele que sendo cristão entende a liderança como forma de poder e não de serviço (Mc.9:30-37). Quer o respeito dos seus liderados? Ame-os profundamente, servindo-os a todo tempo. Mas não represente o amor, nem o serviço. O “simulacro” de Jesus só gera revolta e espaço para a ação do Diabo numa comunidade de fé. Na liderança cristã, todos estamos crescendo (líderes e liderados). Não cabe portanto exigência de obediência e de respeito, mas a conquista dos dois.

Ser líder não é fácil. Contudo, como um dom dado por Deus, ele precisa ser exercido. E na sua prática encontramos realização. Exerça-o, é o meu convite e não uma ordem (rsrs!), com amor e serviço as pessoas. E lembre-se que Jesus foi criticado, sofreu oposição e perseguição. Possivelmente você experimentará isso também, afinal ao discípulo basta ser como seu Mestre (Mt.10:25).  

Com carinho,

Pr.Sergio Dusilek

sdusilek@gmail.com

 

 

 

Blog no WordPress.com.