Novos Caminhos, Velhos Trilhos

março 31, 2014

A MULTIPLICAÇÃO DA GRAÇA! (Mt.18:21-22)

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 3:40 pm

É no mínimo curiosa a relação desse texto com o Gênesis 4:24, o contexto da abordagem sobre a Culpa de Caim. Alguns comentaristas alegam que diante da intransigência de Lameleque, que revelava um coração fechado e não apto para o perdão, Jesus apresenta a contrastante necessidade de se ter um coração aberto, pronto para o perdão. Pode ser que Cristo tenha falado 77 vezes. Pode ser que sua referência seja 490 vezes como foi traduzido. Fato é que esse trecho é a chave hermenêutica para entendermos os capítulos 18 e 19, sendo que no capitulo 18 há alguns dos versos da Bíblia que são mais usados.

Por isso que a “recusa” em ouvir (v.17) se torna em sinalizador de alguém alheio a Graça. Porque a Graça de Deus só consegue alcançar os corações humildes. E um coração que um dia foi humilde e agora se encontra endurecido pelo pecado, em algum momento desse trâmite exortativo acabará por reconhecer seu erro, se quebrantará. O coração humilde conhece o perdão e sabe que continua a carecer dele.

O verso 18 já fala da Inclusão que o perdão oferece. De fato, o rol de membros das igrejas não é igual o rol do Livro da vida do Cordeiro. Muita injustiça, muita arbitrariedade foi cometida ao longo da história cristã. Gente foi excluída, excomungada do rol temporal, mas seus nomes continuam no rol eterno. Isso porque Deus não daria a chave da salvação, como não confiou a obra salvadora, a homem algum. O caminho, a obra prefeita e concluída, a dádiva da salvação vem de Jesus. Esse verso então fala de uma postura ao longo da missão da Igreja, qual seja a da inclusão. E essa inclusão só pode acontecer se houver perdão, pois as pessoas precisam primeiro serem aceitas para depois serem acolhidas/recebidas no seio da Igreja.

O verso seguinte (19) aborda um dos milagres que Deus faz continuamente na vida da igreja. Como pessoas diferentes, com cosmovisões diferentes, poderão pedir a mesma coisa? Essa concordância, fruto da convergência, é sinal da ação de Deus no meio do Seu povo. Uma pergunta aparecer agora: como manter um grupo junto? Somente se houver perdão…

No momento em que há graça encarnada no perdão na Igreja de Jesus, a presença dEle é sentida (v.20). Não precisa de manipulação, nem indução emocional. Onde o amor se materializa em perdão, as pessoas percebem a presença de Jesus. É mais do que Sua garantia de estar na reunião… é a convicção de que Ele está reinando ali. E num culto em que Cristo foi entronizado, as pessoas sairão mais graciosas dali.

Por fim o perdão mantém o coração amolecido, e não endurecido (19:8). Perdoar é sinalizar a possibilidade de renovação. Por isso o divórcio acontece: pela falta de perdão. Jesus ali não estava autorizando um tipo de divórcio, como os legalistas querem ler o texto. Jesus estava dizendo algo mais profundo. Quer resgatar o que existia no princípio? No princípio era o Verbo, no princípio era só a Graça, só Jesus. Enquanto houver perdão, mesmo que haja o pior tipo de ameaça a continuidade conjugal que é a infidelidade, haverá esperança num prosseguimento da caminhada a dois.

A grande lição que fica desse diálogo entre Pedro e Cristo que se transforma na chave hermenêutica desse texto é que na Graça não há contagem. Uma vez contabilizado o perdão, ele deixa de ser perdão. Por isso Deus nos perdoa e coloca nosso pecado no fundo do mar, como disse o profeta Miquéias. Não faz sentido para Ele ouvir um “novo” pedido de perdão. Contudo faz sentido a um perigoso sentimento que é o religioso. Entenda: o legalismo que se alimenta da religião em seu estado puro, quantifica; a Graça de Deus nos qualifica. Por isso Santo Agostinho dizia: “A Graça de Deus não encontra homens aptos para a salvação, mas torna-os aptos a recebê-la.”

Na própria parábola que Cristo conta (v.23-34) Ele aponta para o fato de que a Graça supre qualquer pecado, por maior e mais impagável que ele pareça. Paulo dizia que onde abundara o pecado, superabundara a Graça (Rm.5:20). Dostoiévski assim se expressou em Irmãos Karamazov: “O homem não pode cometer pecado tão grande, que esgote o amor infinito de Deus.” Essa é a maravilhosa Graça de Deus! Aleluia!

março 24, 2014

A SUBTRAÇÃO DA CULPA

Filed under: Estudos — sdusilek @ 6:22 pm

Um dos motivos pelos quais os romancistas Machado de Assis e Fiódor Dostoeivsky são tão celebrados é que eles tratam com particular acuidade e felicidade de sentimentos humanos reais. Em seus romances Dom Casmurro e Crime & Castigo os respectivos autores se tornaram celebrados pela literatura mundial. Neles ambos tratam da culpa, o mais avassalador sentimento que pode dominar o coração humano. O primeiro deixou-nos até hoje sem saber se Capitu era ou não culpada, se as desconfianças de Bentinho eram fake ou reais. O segundo mostra-nos Raskolnikóv completamente tomado pelo remorso e pelo medo de confessar seu crime, uma vez que ele havia assassinado duas mulheres. Fato é que a culpa, com seu caráter universal, acaba atraindo nossa atenção.

 

Nesse tempo de reflexões na IB Marapendi sobre “A Matemática do Perdão” nós precisamos não só compreender o conceito da culpa, como também procurar enxergar o olhar divino para ela. O que Deus tem a dizer sobre a culpa? Onde ela nasce? Ela morre? Se morre, qual é o seu cemitério?

 

1)      O QUE É A CULPA?

Culpa no grego é katakrima. É um sentimento e como tal possui sua ilogicidade, que representa uma condenação/reprovação pela nossa consciência diante de um ato cometido, um comportamento tido. Nesse sentido a culpa fala (v.10). A voz do sangue de Abel não era outra senão a da culpa do seu irmão Caim que estava recalcada por uma série de arrazoamentos carregados de auto-justificação. O grito do fundo de um alma que estava prensada pela culpa de cometer um fratricídio.

Para Freud a culpa é o efeito do constrangimento social (uma espécie de medo do juízo alheio) que tem suas raízes na repreensão paterna na infância. Já Lacan vai dizer que o objetivo da psicanálise é apaziguar a culpa (v.14, c,d).

Para o teólogo Martin Buber a culpa era o resultado da violação de uma relação humana (v.11). Essa liberdade que dispomos nos leva ao risco e também a possibilidade de ferir e ser ferido. Nesse choques de liberdades é que ocorrem os conflitos, as violações e portanto a culpa.

Para o filósofo Paul Ricoeur há uma culpa irreal (normalmente neurótica) e outra real (ética) (v.13). Nesse sentido a culpa se torna uma benção para nós, como bem assinala Caio Fábio, pois por ela podemos corrigir nossa trajetória, reconhecer nossos erros e entender que precisamos da ajuda de Deus.

A culpa está muito ligada a religião. Ela não é só um tema psicológico, mas como vimos, um termos religioso, espiritual. A Bíblia fala de uma culpa existencial, de uma culpa em relação a Deus (v.14a,b). Essa só pode ser tratada via Jesus Cristo.

Culpa pode ser ainda a tensão entre o que somos e o que gostaríamos de ser.

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2)      COMO LIDAMOS COM A CULPA?

A culpa nos faz tão mal que normalmente lidamos com ela usando os mecanismos de defesa que temos na alma. Dessa forma, evitamos encarar as nossas falhas e por isso, REPETIMOS sempre os mesmos erros. Geralmente fazemos uso de:

2.1- expedientes de FUGA (v.14) – Caim se tornou fugitivo. Fugir é não querer encarar a realidade, nem relembrar aquilo que fizemos de ruim. Quem foge não está tratando o problema, simplesmente o suspende unilateralmente. Lembra da crise entre Esaú e Jacó? 20 anos depois os ânimos estavam mais acirrados. O que mudou para que houvesse reconciliação entre aqueles dois? Jacó alterou sua postura (ele se humilha perante o irmão), e agora “meio manco” não podia mais fugir dos seus problemas.

A Fuga pode pregar peças para nós. O texto de Genesis 4:16 diz que Caim foi para Node, ao oriente do Éden. A direção do oriente era, na poesia bíblica, associada muitas vezes com expectação do juízo divino. Ou seja: Caim esperava receber uma punição exemplar. Culpa não tratada gera auto-punição. Pessoas sofrem e passam a sofrer numa tentativa de purgar/apagar seus erros. Só que o auto-flagelo não redime a culpa, nem sua voraz fome de destruir o nosso interior.

 

2.2 – Recalque – é quando sublimamos a culpa. Essa sublimação se manifesta em agressividade e esquecimento. Nem toda agressividade é oriunda da culpa, mas toda culpa recalcada conduz o indivíduo a uma agressividade. Passa-se também a esquecer das coisas que têm ligação com aquele ponto;

 

2.3 – Neurose – podendo criar uma culpa falsa sobre a verdadeira. Para Ricoeur a neurose era o resultado de uma culpa não resolvida. Paul Tournier faz uma interessante citação da definição de neurose pelo Dr.Stocker: “neurótico é aquele que não fala um palavrão”. Exemplo disso em Gênesis 4 está na descendência de Caim. O resultado da neurose de Caim alcançou e foi multiplicado no coração de Lameque (Gen.4:24).

 

2.4 – Deformação do senso de responsabilidade – é quando passamos a nos culpar pela realidade nefasta presente no macrocosmo. Exemplo: ao invés de ter sensibilidade para os que padecem privações (sem casa, sem comida, etc), passamos a nos culpar por termos estas coisas enquanto os outros não a possuem.

 

2.5 – Apêgo a um moralismo – que nos leva a projeção no outro daquilo que não suportamos em nós. O que não vencemos em nós, realçamos no outro de modo implacável. Daí passa-se a dar valor extremado a certos tipos de códigos ou de leis, em detrimento do ser humano.

 

2.6 – Auto-justificação (4:9) – sempre tentando explicar o inexplicável. Com isso acabamos transferindo nossa responsabilidade. Adão (Gen.3) transferiu para Eva que por sua vez, jogou a culpa na serpente.

 

A grande questão da culpa é que ela não afeta somente nosso comportamento. Ela rouba o melhor que temos dentro do nosso mundo interior. Retira nossa paz, nosso equilíbrio; atrapalha nossa leitura da realidade. Além disso ela afeta as nossas decisões e escolhas. Muita gente sofre porque toma decisões, faz opções calcadas na culpa. Há pessoas que por conta da culpa, boicotam a si mesmas.

 

  •   VOCÊ JÁ SE ARREBENTOU POR TER FEITO UMA OPÇÃO BASEADA EM SUA CULPA? COMPARTILHE COMO FOI…
  •   QUAIS DESSES EXEMPLOS DE MECANISMO DE DEFESA MAIS SE ENCAIXAM A VOCE? O QUE VOCE PRETENDE FAZER PARA MELHORAR?

 

3)      QUEM É CULPADO?

A Bíblia não alivia. Ela diz que todos somos culpados, uma vez que não há um justo sequer (Rm.3:10) excetuando Jesus (Rm.3:26). A Lei aponta para nossa realidade: ela mostra quão incapazes e deploráveis somos. Por isso não só somos culpados, como também somos culpáveis. Exemplo da agonia que essa verdade e realidade trazem está no drama existencial escrito por Paulo em Romanos 7.

 

4)      COMO DEUS LIDA COM A CULPA?

Ele sabe que não podemos suportar continuamente o peso da culpa. Por isso Ele VEM AO NOSSO ENCONTRO! E assim o faz para apagar a culpa consciente (Mq.7:18) e tornar consciente a culpa reprimida/recalcada (II Sm.12).

No Éden e fora dele a culpa é oriunda do pecado, da escolha errada. Porém em ambos os casos (Gen.3 e 4) Deus vai ao encontro do ser humano.

A proposta de Deus é a subtração (Mt.11:28). Quando o Senhor vem tratar Caim ele age com severidade para que houvesse confronto com o pecado, mas também com graça. O sinal que ele deixa em Caim não era uma punição, mas marca da Graça dEle. Os sinais de Deus ao longo da história não são demonstrações narcisísticas de poder, mas sim dispensações do Seu Amor, da sua Misericórdia e da Sua Graça. Exemplo maior disso é a Cruz! Nela está toda a culpa (Col.2:14) da humanidade (uma das razões pelo qual Cristo não conseguiu carregá-la todo tempo na via crúcis) mas também nela estava toda a Graça de Deus.

Quando erramos Deus não nos abandona ao sufocamento da culpa. Ele vem ao nosso encontro com o oxigênio do perdão!

  •   DEUS VEIO AO SEU ENCONTRO… O QUE VOCE PRECISA FAZER AGORA? O QUE VOCE SENTE QUE DEVE FAZER? COMPARTILHE…

 

CONCLUSÃO

Há uma culpa mãe que está na gênese de toda culpa. É nossa culpa existencial, oriunda do pecado contra Deus. Algo que nos dá a dimensão que somos devedores. Algo que faz com que sempre queiramos pagar alguma coisa… quando Cristo já quitou tudo!

E essa culpa se trata diante de Jesus, com Ele. Você quer fazê-lo agora? Então ore ao Senhor, peça perdão a Ele e agradeça por ele ter quitado sua impagável divida. E desfrute da doce verdade de Romanos 8:1

 

“Agora pois, nenhuma condenação (culpa) há para os que estão em Cristo Jesus.”

O TABELÃO DO TJ/RJ

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 1:42 pm

Em ano de copa, com muitos campeonatos acontecendo, nada mais comum do que se falar em tabela. Só que ao invés de falar das tabelas de jogos, gostaria de abordar um outro tipo de tabela. Trata-se da tabela para indenizações.

Nunca fui de acionar a justiça. Acho que ali não é espaço para mim. Nem quando sai do Bradesco, tendo uma bolada para receber em direitos, eu não entrei na justiça. Peguei minha rescisão e só. Contudo, diante das últimas solapadas que recebi como consumidor resolvi acionar a Justiça. Isso porque sou daqueles que procura não dar trabalho pro outro, não incomodar o outro, nem sendo esse outro um banco.

Pois então, me rendi a “industria” da indenização. Não pelo dinheiro, mas para que a empresa que lesiona ou permite que o consumidor seja lesionado reveja seus procedimentos. O processo indenizatório, antes de ser um meio de arrecadar recursos é indicador das relações contratuais quebradas e que precisam ser refeitas. Nem toda empresa descumpre o acordado por maldade. Por isso, mediante os processos (e não só eles, como também canais de comunicação com o cliente (SAC, Ouvidoria)) elas podem rever procedimentos.

Entrei com duas ações contra duas diferentes empresas, tendo dois bons advogados nas causas (ambos diferentes). Ganhei as duas, só que a indenização de ambas foi de cerca de R$2000,00. Ora, parece haver um tabelão já pré-definido no TJ/RJ. Se por um lado isso limita a má fé daqueles que buscam situações para criar causas e ganhar dinheiro, por outro torna o ciclo viciante. As empresas continuarão a receber processos e não rever seus procedimentos, pois o custo para elas continua sendo baixo. Tem organização que só aprende quando a pancada é forte e no bolso.

Entendo a intenção do TJ (caso realmente haja um tabelão, o que para mim parece fato consumado), porém o resultado dela pode ser o inverso do esperado. Ao invés de desmotivar e diminuir as ações indenizatórias, por não se resolver o problema gerador, elas tendem a aumentar pelo crescimento dos insatisfeitos com os serviços contratados.

Pr.Sérgio Dusilek

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