Novos Caminhos, Velhos Trilhos

junho 19, 2015

O LUGAR DA HUMILDADE NA VIDA CRISTÃ

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 12:27 pm

Está em curso no protestantismo brasileiro, quando se pensa em relação ao poder, uma espécie de feudalismo cristão. Alguns líderes se encastelam exercendo influência nas suas imediações, possuindo inclusive ares de suserano. Aliás quanto mais impositivo e postado for o líder, quanto maior for sua audácia em decretar ordens ao divino, tão mais admirado ele se torna. Se no protestantismo há uma iconoclastia, coa-se as imagens mas deixa-se passar a idolatria à pessoa, uma vez transferida para a figura do líder. Mais do que suserano, o líder se tornou uma espécie de demiurgo.

Fato é que essa postura rompe com a humildade, virtude básica e imprescindível para o cristianismo e para o cristão. Nada tão estranho quanto ao espírito do cristianismo quanto esse apego pelo poder, pela posição e pelo palco. Vale a pena lembrar que o cristianismo (ou cristandade, como preferiria Heidegger), nasce numa manjedoura e não num palácio…

É pelo resgate da humildade que sugiro essa reflexão. E quando falo em humildade não abordo o seu estereótipo. A vaidade precisa de estereótipos e se transmuta neles. A humildade não. Aliás qualquer penduricalho que se coloque sobre a humildade a torna descaracterizada. Nesse sentido, destaco que: a) a pobreza pode ser sinal de um tipo de humildade, a financeira, mas não significa humildade cristã. Há muito pobre orgulhoso, com cerviz dura, que resiste a Deus e aos outros; b) a cara de piedade, de auto-comiseração não é sinal de humildade. É de patologia mesmo; c) a voz mansa igualmente não é sinal de humildade. Sob uma voz mansa se escondem muitas vezes corações duros como a pedra. A humildade cristã tem a ver com postura em relação a vida, a Deus, num reconhecimento da finitude pessoal e da necessidade de outros.

Passemos agora a algumas considerações sobre o lugar da humildade cristã.

  • A Humildade Cristã é o meio de compreensão da Relevação (Fil.2:6-8)

Auerbach bem asseverou que se Cristo viesse em todo seu esplendor e glória não haveria revelação. Primeiro porque ninguém conseguiria compreender o que seria mostrado. Segundo porque impediria o processo de interpretação e registro do conteúdo revelatório. Ao se humilhar, ao encarnar, Cristo tornou a revelação divina acessível aos homens. Sem humildade não é possível compreender nada a respeito de Deus.

Os umbrais do entendimento humano não conseguem açambarcar a plenitude da Glória de Deus. Da sua Shekinah temos somente emanações, nas experiências espirituais e presença como símbolo salvífico.

  • A Humildade Cristã é o meio de compreensão da Palavra (Mt.13:13,23; 5:3)

Há uma caráter universal na mensagem bíblica. Mas como ela pode ser acessível a todos os homens? Mediante a humildade. O intellectus spiritualis só é acessado pelo caminho da humildade. Quer entender a Palavra de Deus? Seja humilde. E humilde aqui se traduz num coração pronto, como uma terra fofa pronta para receber a semente.

  • A Humildade Cristã é o meio para a unidade da Igreja (Col.3:12; Rm.12:16; I Pe.3:8)

Segundo o dicionário, humildade é “a virtude que nos dá a dimensão de nossa fraqueza”. Ao nos enxergarmos como fracos, reconhecemos a necessidade de ajuda, de andar com o outro, do apoio do outro. Por isso que o autor de Hebreus dizia que não era bom abandonar a congregação (Heb.10:25). Há momentos que essa teia chamada igreja será o recurso que Deus usará para nos segurar, nos sustentar, nos suportar.

Pela humildade eu posso caminhar junto. É sobre ela que se sedimenta o caro conceito da unidade. Ora, se cada um se bastasse, se cada pequeno grupo se bastasse, para que a Igreja? Mas não, a Igreja está construída num aspecto humano, sobre uma necessidade que é a nossa fraqueza.

  • A Humildade Cristã é o canal para Salvação (Mt.19:23-24)

Por que o camelo passar pelo fundo da agulha? Por que a dificuldade do rico em entrar no Reino de Deus? São figuras que apontam para a necessidade de humildade. O camelo porque a agulha era um limitador de altura na entrada que obrigava o camelo a se ajoelhar, mesmo carregado. E o rico porque se bastava…

A condição primeira para salvação é humildade. Era o que faltava ao jovem rico. Ele era o retrato da autopretensão. O que mais preciso fazer para ser salvo? – perguntava. Ora, a resposta era nada (porque a salvação fora feita por Deus) e tudo (precisava abdicar de usa posição pretensiosa). Sem humildade não reconhecemos a necessidade de um salvador. Sem humildade não abdicamos dessa postura moderna de tentar resolver tudo, inclusive de ser capaz de efetivar uma auto-salvação. Sem humildade não há descanso em Deus.

Conclusão:

Não estamos aqui para sermos senhores, nem tampouco orgulhosos. Estamos aqui por conta da humildade. E saiba que uma pessoa que se afasta da Igreja tem na perda da humildade um de seus motivos fundantes.

Você “pode” ser maduro espiritualmente para não precisar de igreja; mesmo assim e especialmente nesse caso, a Igreja precisará de você, missão esta que precisa ser acolhida com humildade. Pense nisso.

Pr.Sergio Dusilek

sdusilek@gmail.com

junho 9, 2015

David Malta Nascimento

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 1:33 pm

Ontem (08/06/15) foi sepultado um dos grandes homens de Deus que essa Terra conheceu. Era tão especial que continha um triplo nascimento: baiano por nascimento, celestial pelo Novo Nascimento, e pelo sobrenome Nascimento.
Pr.David era um homem íntegro e propagador dos valores do Reino. Conquanto tivesse grande envolvimento com a denominação batista, não se engane, sua visão era do Reino. Prova disso é sua participação como fundador/integrante do Movimento Diretriz Evangélica que convidava a Igreja à desenvolver uma consciência de justiça social. Era muito mais do que assistir os carentes… era apontar caminhos para uma sociedade igualitária. Algo pioneiro para a época que apareceu. Era de fato uma pessoa de vanguarda, sendo uma das poucas lideranças batistas citadas por integrantes da esquerda brasileira que sofreu nas mãos da ditadura militar.
Pr.David era tido injustamente como “vermelhinho” por grupos conservadores. Uma forma de diminuir ou mesmo tentar isolar sua influência. Na verdade ele era justo. E seu acurado senso de justiça não estava refletido na sua carreira como advogado, mas sim na sua cosmovisão e nos valores nela contida.
Pr.David foi um grande pastor e um excelente administrador. Particularmente falo agora de sua gestão no Seminário do Sul, findada em 1984 após 13 profícuos anos como reitor. O Seminário do Sul só permanece aberto por conta do auge que atingiu na administração Malta. É somente isso o que ainda sustém aquela casa. Pode crer! O Seminário do Sul ainda existe, 30 anos após sua saída, por conta da sua abençoada gestão. Dificilmente os batistas teremos novamente um reitor do quilate e da visão do Pr.David Malta. Interessante dizer que falta aos gestores do STBSB a humildade de percorrer o caminho de volta (Ap.2:5) para tentarem uma nova guinada. Não é se distanciando pedagogicamente, filosoficamente e metodologicamente que o Sul vai voltar a brilhar. Se não há como evitar o distanciamento do tempo, há como recuperar a proximidade (mas jamais a igualdade) daquela gestão.
A denominação perdeu no domingo seu alter-ego. O quase centenário Pr.David Malta era a maior consciência dos batistas brasileiros. Seu progressivo silenciamento por conta da idade representou simetricamente uma distensão dos conceitos como verdade e integridade no âmbito da CBB.
Sempre me lembrarei com carinho do Pr.David Malta. Quando criança no Seminário do Sul, sob sua gestão, foi criado um clima familiar entre parte do corpo docente que atuava ali. Foram anos dourados para todos que tiveram sua infância naquele lugar. No meu casamento com Lili, convidei Pr.David para dar a benção final. Com todo seu característico entusiasmo e doçura ele terminou com uma pequena expressão que nunca mais esqueceremos: “Levantem-se meus netinhos lá da colina!”. Fomos adotados no altar… só o Pr.David mesmo.
Penso que quando os grandes se vão, ficam não as lacunas, mas os buracos. É isso que sinto nesse momento.
Oro para que toda a querida família do Pr.David Malta receba o consolo do Espírito nesse momento.
Termino dizendo que não estive no velório do Pr.David. Minha homenagem, ainda que póstuma, se dará num arquivo científico que escreverei (possivelmente em Outubro) e que reposicionará Pr.David, e não o seu sucessor (como este último gostava de auto-propalar), como o maior gestor do Seminário do Sul.
Deus deu Pr.David; Deus tomou para si um dos mais preciosos servos que tinha aqui. Louvado seja o nome do Senhor!
E o Seminário do Sul dos anos 80 vai sendo reunido na Glória Celestial…
Com tristeza e saudade,
Pr.Sergio Dusilek

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