Quando uma coisa não cabe num lugar.
2Coríntios 6:14c – “Que comunhão há entre a luz e as trevas?”
Já faz algum tempo que li uma coluna de Marta Medeiros, do O GLOBO, em que ela comentava um acontecimento que presenciou. Na saída de uma escola, na Zona Sul carioca, uma mulher tentava parar um carro do tamanho de um Santa Fé da Hyundai numa vaga que se coubesse um Picanto da Kia era muito. Lógico que apesar da destreza da motorista, da sua persistência, e de suas renovadas tentativas, ela não conseguiu parar seu carro naquela vaga.
Esse relato tem muito a ver com a vida de cada um de nós. Por vezes queremos acondicionar coisas incompatíveis num mesmo espaço. Achamos que nossa persistência, nossa habilidade, nossa destreza, e até mesmo as renovadas tentativas em algum momento vão conseguir compactar o que todos sabem que não cabe. Nessa hora manifestamos nossa teimosia, perdemos tempo, energia, e deixamos de ver “outras vagas”, outras oportunidades que estão ali, bem perto de nós. Mas em nossa cabeça pensamos é melhor uma pequenina vaga do que nenhum espaço… será?
Há coisas que são incompatíveis. Você sabe que não dá, no fundo do coração você já foi convencida de que o motivo de sua insistência será também a causa do seu fracasso. No entanto, mesmo lá dentro sabendo, você insiste. Talvez por medo de não “achar outra vaga”; talvez por domínio, por relação de poder, para dizer que tem algo que lhe pertence, ainda que esse algo honestamente não lhe sirva; talvez por consideração ou mesmo apego ao que tem de ser perdido… Entenda algo de uma vez por todas: o tempo não traz compatibilidade; ele petrifica aquilo que é incompatível, o que implica num prolongamento desse incômodo. Em outras palavras: ou voce adia o fim, ou ele virá sobre “essa vaga de estacionamento”, ou mesmo sobre você, tornando-a uma pessoa irreconhecível.
De certo modo é isso que Paulo está dizendo no texto acima. Sem me alongar, quero somente dizer que Paulo não condenava a amizade de crente com não crente. Ele condenava a associação para o mal. Na sua época o CDL (“clube de diretores lojistas”) de Corinto exercia forte e maléfica influência sobre os comerciantes. Era quase uma “milícia”. Quem não rezava a cartilha podia perder o negócio. E essa reza passava por celebrações ao Diabo e por prostituição. Com gente com vida assim, dá para ter contato, mas não dá para “ter tudo em comum” (= koinonia – comunhão). De fato jamais haverá plena identificação entre luz e trevas. Ambas estão figuradas no “Feitiço de Áquila” (lembra do filme?): quando uma aparece a outra some. De fato, plena comunhão jamais haverá. Se tem algo que puxa você para longe de Deus, em algum momento você terá que escolher o que vai querer: Deus ou essa coisa/situação/pessoa. Nesse sentido o Feitiço de Áquila se torna um exemplo também que essas partes podem se tocar, por um instante, mas não há como permanecerem juntas.
Se tem algo que não cabe, não insista. Aconselho a você a orar e a buscar em Deus força para desapegar. Insistir só vai ferir voce ainda mais, visto que a nossa teimosia não tem o poder de mudar a realidade.
Pr.Sergio Dusilek
sdusilek@gmail.com