Em sua primeira viagem missionária, Paulo e Barnabé se depararam com um paralitico desde seu nascimento, na cidade de Listra. Lá Paulo é usado por Deus para realizar um milagre incrível. Algo que ganhou total publicidade na cidade. Até o sacerdote pagão ficou impactado com o milagre (At.14:13). Todo o povo queria sacrificar algo aos dois missionários, porque o via como encarnação de deuses (v.12). Afinal algo sobrenatural e indescritível tinha acontecido no meio deles.
Eles estavam certos numa coisa: aquilo era obra do Deus maior. Mas erraram ao creditar aos homens a glória devida a Deus. A coisa foi tão flagrante, que os apóstolos tiveram que tomar uma medida chocante e drástica: rasgaram suas vestes no meio deles e gritaram reafirmando sua humanidade (v.14,15). Se um povo tinha tanta fome de Deus que ao menor sinal do poder divino, tinha disposição de divinizar o instrumento da operação do milagre, Paulo e Barnabé mostram o auge de uma consciência servil ao não aceitar uma glória que não era deles. Se a ausência de Deus era absoluta entre os de Listra, a presença e a Glória de Deus enchia a vida daqueles missionários. Somente alguém cheio de Deus para recusar a fama. Somente alguém cheio do Espírito para direcionar o holofote para Jesus!
Fome de Deus boa certamente era a que impulsionava Paulo e Barnabé a buscarem cada vez mais o Senhor. Essa eu oro para que nós tenhamos sempre. Fome de Deus ruim era a do povo de Listra, que o tornava preso de manifestações extraordinárias. E mesmo quando Deus manifestou a Sua Glória naquela cidade, na vida de um homem, eles insistiram em confundir o Criador com a criatura (v.18).
Essa experiência bíblica me faz pensar na igreja contemporânea. Muitos que estão na igreja têm uma legítima fome de Deus a qual procuram satisfazer buscando a Sua presença cada vez mais em vida de sintonia e comunhão íntima com Ele. São como Paulo e Barnabé, instrumentos para a manifestação da Glória de Deus.
Há outros que estão na igreja e embora se digam (ou até sejam crentes!) têm fome de Deus. Mas são como os de Listra. Se apegam às pessoas e não a Deus. Querem sacrificar aos homens e não cultuar a Deus! Sua fé precisa de uma muleta. E essa muleta são seus líderes. O problema maior é que líderes como Paulo e Barnabé são escassos hoje. Gente que não só fala, mas que vive para a Glória de Deus… Gente que não aceita a idolatria do povo, que se despe e que mostra sua humanidade… ao contrário disso, o que mais tem é líder querendo o status de “semi-deus”. São líderes sem Deus para um povo faminto de Deus. Será que esse é seu caso? Será que voce está em uma igreja assim?
Olhe só para alguns fenômenos comuns:
a) lideres sem Deus e igrejas com uma fome ruim de Deus, são aquelas que somente o líder principal tem poder. Os outros não valem nada. O que presta é somente esse líder principal. E ele faz de tudo para manter essa cultura da idolatria. O discurso pode até ser diferente disso, mas a prática… essa é sua realidade? Não falo aqui de carinho e reconhecimento, falo de um processo de divinização de um homem, o qual rouba a glória que é devida somente a Deus;
b) líderes sem Deus e igrejas com uma fome daninha são aquelas que voltam ao processo de sacerdotalização do líder. É como se o líder fosse o único mediador entre a pessoa e Deus. É como se somente ele tivesse os “oráculos” divinos. Deixa a figura de pastor e se transforma em uma espécie de “guru, cartomante da fé”. Deus então teria deixado de falar com seu povo para falar enviesadamente através desse líder. Perde-se o relacionamento com Deus para se construir uma via paralela de relacionamento com o líder. Se na sua igreja só vale a palavra, o atendimento com o pastor principal, é porque talvez voce esteja vivendo um processo de “envelhecimento do Testamento”;
c) outro fator dessa fome de Deus é a sensação de que na ausência do líder principal a igreja vai acabar… ora, a igreja é de quem? Se ela tem dono entre os homens então creia: ela vai acabar mesmo! Mas creia também que ela nunca foi igreja! Uma igreja que possui um líder bom, fiel e temente a Deus (coisa rara, cá entre nós) pode sentir sua saída, mas jamais sofrer uma descontinuidade. O que é de Deus e que procura fazer a vontade dEle não morre! O toque de Deus é pela eternidade. Sua igreja é do seu pastor ou de JESUS?
d) outro fenômeno correlato dessa fome de Deus que leva, ao invés de uma aproximação, a um distanciamento é a glorificação do líder e não de Deus. Os feitos e fatos são atribuídos ao líder e não a Deus. E esse líder acaba aceitando e acolhendo essa divinização. Tudo é o “fulano que fez”. Não o Senhor de nossas vidas. Se você tem este comportamento ou segue alguém que o estimula, sinto em dizer, mas há um vazio de Deus em sua vida.
Essa foi uma lista pequena. É bem possível que tenha outros inúmeros fatores. O que é triste é que a igreja evangélica brasileira hoje se assemelha a Listra. Se Paulo e Barnabé estivessem aqui, acho que rasgariam de novo as vestes.
Que O Senhor tenha misericórdia da gente!
Pr.Sergio Dusilek
sdusilek@gmail.com