Novos Caminhos, Velhos Trilhos

julho 31, 2020

Homens que caem, vidas que se vão.

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 2:20 pm

Homens que caem, vidas que se vão.

(Uma Homenagem ao querido e saudoso Pastor Antonino Mello Santos)

“Quando (o rapaz) fez menção que a arca de Deus fora tomada pelos filisteus, Eli caiu da cadeira para trás, junto à porta, e quebrou-se-lhe o pescoço, e morreu, porquanto era o homem velho e pesado. Ele tinha julgado a Israel quarenta anos.

E chamou ao menino Icabode, dizendo: De Israel se foi a glória! Porque fora tomada a arca de Deus, e por causa de seu sogro e de seu marido” (I Samuel 4:18, 21)

O texto acima fala de um momento de grande dificuldade na história do povo de Deus. Não bastasse a opressão imperialista dos filisteus, o povo era conduzido ao engano pelos sacerdotes Hofni e Finéias (filhos de Eli – I Sm.3:13-14) através de tentativas mágicas de manipulação do divino (I Sm.4:3-4). Ao invés de preferirem ouvir àquele que ouvia Deus falar com ele (Samuel – I Sm.3:21-4:1), o povo se voltou para uma estética cúltica embalada pelos experientes manipuladores da fé, Hofni e Finéias.

Em momentos de perplexidade histórica, em que a morte se avizinha, é bom ter homens de Deus por perto, ao alcance dos nossos olhos, ainda que eles não estejam nos vendo, seja pela distância, seja pela dificuldade em ver (vista com catarata – I Sm.4:15). Reitero: somos nós que precisamos ter nossas referências ao alcance dos olhos…

Eli era um homem piedoso e zeloso com as coisas de Deus. Prova disso foi a repreensão a Ana (I Sm.1). Era um bom discipulador, líder, como mostra a influência positiva que exerceu em Samuel. Aliás penso que Samuel foi a forma do Espírito de redimir Eli pelos seus dois filhos. Sim, meus queridos, há muitos sacerdotes que são piedosos, sérios, de Deus; contudo, com filhos problemáticos… Aliás, nem todo filho de pastor problemático o é por causa do pai. Muitas vezes é por causa da própria igreja mesmo… Nem tampouco um filho de pastor que não queira saber da igreja seja sinal de falta de sujeição ao pai… as vezes é só a recusa de sujeição a um sistema religioso opressor… uma forma de empatia com o pai, de dizer, ainda que de uma forma estranha para muitos, que está do lado do pai.

Eli foi alguém que acolheu os mais novos. Ele recebe Samuel, reconhece a ação de Deus na sua vida. Não tolhe a ação de Samuel, antes a celebra, dando espaço cada vez maior a ele. A grandeza de um líder se mede aí: no espaço que ele dá para novas lideranças. Uma grande liderança que serviu a Deus todo tempo possível – 40 anos (I Sm. 4:18) é o período bíblico apontado como o melhor pois indica que um líder serviu à sua geração ao longo de sua vida útil.

Sua morte abriu espaço definitivo para o ministério efetivo de Samuel. Eli, por providência divina, tinha preparado seu sucessor. O povo continuaria a ter uma liderança espiritual.

Mas o que isso tem a ver como o querido e saudoso pastor Antonino?

Ontem (30/07), no seu sepultamento cuja pandemia tirou a dignidade maior da honra que lhe era devida nesse momento, o Espírito me lembrou essa palavra. Pastor Antonino teve sua vida “abreviada” por conta de uma queda… como perder um líder, um homem como pastor Antonino para uma queda? Hoje entendemos o drama que invadiu a casa de Israel com o falecimento de Eli.

Sim, pastor Antonino era um Eli do nosso tempo. Só que muito, mas muito melhor. Líder, sempre zeloso com as coisas de Deus, sua trajetória nos muitos cargos que ocupou na denominação batista, atestam a lisura, honestidade, irrepreensibilidade de sua condução. Uma verdadeira inspiração, para uma época em que líderes se servem da res batista ao invés de a servirem.

Pastor Antonino foi um grande pastor. Há vários “Samuéis” espalhados Brasil a fora que foram acolhidos, reconhecidos e impulsionados pelo ministério de Antonino. Dentre os muitos que poderiam constar nessa lista, li, vi e ouvi o testemunho dos Prs. Eliel, Nyander Kaizer e Jorge Alberto (que o sucedeu no ministério da TIB Ilha do Governador). Todos eles marcados pela generosidade de um homem de Deus que os pegou “meninos” (eufemismo para vocacionados) e os tornou pastores, sacerdotes.

Seu tom era sempre conciliador. Por vezes de uma, confesso que para mim perturbadora, crença na bondade humana. Um típico olhar de quem andava com Jesus e que via a dignidade humana mesmo quando submersa por camadas e mais camadas de pecado. Um sinal desta sua acuradíssima inteligência emocional é que ele foi, numa turma (Martin Luther King Jr. 1968) de grandes líderes batistas que cursou o Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, o seu presidente durante os 4 anos. E não só isso: como bem lembra o Pastor Samuel Pereira de Souza, ele foi até a última 3ª feira, o presidente da turma, sem que houvesse qualquer ranço ou traço ditatorial. Isso diz muita coisa, não acha?

Pastor Antonino foi melhor que Eli também pela sua família. A irmã, musicista, professora universitária Dra. Regina Márcia, com quem Antonino teve um longo casamento é digna do ressalto e da nota, ao contrário do anonimato da esposa de Eli. Regina, para ficar num exemplo, montou uma escola, um projeto de música na PIB em Gardênia, último ministério que pastor Antonino desenvolveu. Se você que nos lê, tivesse a ideia da beleza desse projeto…

O que dizer dos filhos? Muito melhores do que os de Eli. Conheço bem Raquel e André. Inteligentes, honestos, amigos, tementes a Deus. Constituíram famílias que, na minha opinião, são lindas! Marco e Daniela, genro e nora, são pessoas maravilhosas, profissionais competentíssimos, presentes escolhidos e merecidos de Deus para celebrar a fidelidade do pastor Antonino.

Os netos? Privilegiados por terem convivido, ainda que por um pouco de tempo, com esse avô espetacular e que vai fazer falta. Agora, perceba a diferença: o neto de Eli, que ele não conheceu, chamava-se Icabô; o primeiro filho de Raquel e Marco chama-se Gabriel; a primeira filha de André e Daniela chama-se Sofia. Gabriel o mensageiro de Deus; Sofia, o apego a sabedoria e ao conhecimento. Indicativo isso não? Para mim, sintetizador da vida do pastor Antonino: alguém com recado de Deus e sempre voltado para o conhecimento, para a filosofia… Lindo, não? Um parêntesis: a produção de netos não parou aí…

Caminho, então, para uma última palavra. Entre 3ª e 4ª ouvi e li vários testemunhos justos, ainda que sintéticos, sobre o pastor Antonino. A impressão que me deu é que Deus tinha terminado a modelagem em Antonino. Deixa eu explicar a você. Na narrativa bíblica, os personagens são reveladores da presença e da ação de Deus. Nesse sentido a modelagem pela qual eles passam, se torna o meio pelo qual vemos Deus neles. Um José, adolescente, sonhador, escravo, preso, se torna vice-governador do principal Império do seu tempo. Faltava uma coisa: resolver uma pendência emocional-familiar. Uma vez dissipada e sendo usado para salvar muitas vidas da fome, a modelagem acaba. A narrativa sobre José termina. Começa o livro de Êxodo.

Eli tem sua modelagem cessada. Na narrativa bíblica não interessa muito o tipo de morte (alguns nem são mencionados), mas o fato de que a modelagem, o propósito daquela vida em revelar Deus, havia terminado. O foco passa a ser o herdeiro da fé, que no caso de Eli, foi Samuel.

A nora de Eli estava certa. Num tempo de profunda crise espiritual, de massacre imperialista com os filisteus “dando as cartas”, a perda da Arca da Aliança (que simbolizava a presença de Deus) e a morte de Eli, cuja vida mostrava, apontava para Ele, era sinal da perda da Glória de Deus. Sim, a custosa morte (Sl.116) de um santo de Deus como pastor Antonino apaga um pouco dessa glória na História. É como se deixássemos de perceber um dos Seus mais vigorosos sinais, ou mesmo deixássemos de notar Seus vestígios.

Pastor Antonino, o querido examinador no concílio de organização da Igreja Batista Marapendi em 17/03/2012, faleceu. No entanto quero realçar: ele não caiu. Sua modelagem acabou. A narrativa de um grande servo de Deus cessou. Quem disse isso é o nosso Supremo Narrador – Deus. E nós contaremos e rememoraremos suas histórias por longos dias. Afinal, alguém como pastor Antonino ficará para sempre marcado no nosso coração e acessível, porque gravado, pela memória.

Com gratidão a Deus pela vida do Seu servo,

Pr. Sérgio Dusilek

Igreja Batista Marapendi

sergio@igrejamarapendi.org.br

 

Crie um website ou blog gratuito no WordPress.com.