Novos Caminhos, Velhos Trilhos

novembro 28, 2023

Por que a Igreja não dá certo?

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 5:00 pm

Por que a Igreja não dá certo?

[Exposição compartilhada no Encontro da Fraternidade do Evangelho em Salvador-BA/Novembro/2023].

Introdução.

A primeira grande questão que se apresenta a nós é a estranheza com o título. Ora, um grupo sócio-religioso em franca expansão, parece ter dado certo, não? Pelo menos quando se pensa em um sentido mercadológico. Mas, a igreja que dá certa está certa? Uma igreja que transformou seus templos em diretórios partidários, que abraçou a cultura armamentista, a cultura da violência, pode ter dado certo?

O fato que a negação do outro a partir de uma visão de sistema econômico afeta a economia dos dons espirituais, silenciando a ação do Espírito Santo na Igreja. Uma comunidade de fé que silencia o Espírito Santo de Deus não pode dá certo, pensando estritamente nos termos do Evangelho.

Entre outras possíveis razões, penso que a palavra que sintetiza essa vocação para o flerte com o erro e a prática do equívoco, é a falta de discernimento espiritual (I Cor.12:10). Falta discernimento da Igreja.

1. De que Discernimento estamos falando?

Há duas palavras principais para julgamento no NT, isso porque discernir envolve uma síntese, um juízo. A primeira é dokimazo, que vem do verbo dokeo, que traz a ideia de sopesar, de a partir das evidências colhidas, pôr a prova (Lc.12:56 e I Tess.5:21). É a atitude dos bereanos diante da pregação paulina.

A segunda é krino que envolve o julgamento entre o certo e o errado. Diakrino é o juízo que envolve uma escolha a partir de uma distinção, de uma separação. É quando ficamos em crise diante de uma escolha a ser feita, de uma decisão a ser tomada. Pode indicar uma mente dividida e, por vezes (Mc.11:23, Mt.21:21, Rm.14:23, Rm.4:20) sinalizar incredulidade. Diacrisis (I Cor.12:10) é ser atravessado por uma escolha, ser atravessado por uma percepção que implica em discernir os espíritos (veja Micaias I Reis 22:13-15), a diferenciar entre o bem e o mal (I Reis 18).

Discernir os espíritos é o que falta a Igreja Evangélica no Brasil. Uma igreja que abraça messianismos de gente sem vocação para isso.

2. Onde Faltou Discernimento?

Estamos olhando em direção a um texto sobre a Igreja de Corinto. Uma igreja tida como carismática (a maior lista de dons espirituais está em I Cor.12), mas que não possuía uma maturidade espiritual correspondente. Maturidade espiritual não tem a ver com dons espirituais, nem com tempo de caminhada na fé; maturidade tem a ver com conexão, com tempo diante de Jesus.

Se olharmos, então, para a Igreja de Corinto, vamos notar diversas ocasiões, já na primeira Carta paulina, onde aquela igreja evidenciou sua ausência de discernimento. Ao sublinhar tais momentos, pretendemos jogar luz sobre a Igreja Brasileira, sabendo que os problemas presentes nas igrejas neotestamentárias não são muito diferentes, na sua raiz, dos problemas vivenciados pela igreja de hoje.

Sendo assim, sugiro uma lista que não se esgota em si mesma:

1) Em Corinto, faltou discernimento para saber que não importa a preferência, o batismo, o partido, mas sim Jesus que está acima de todos e de tudo (I Cor.3);

2) Em Corinto, faltou discernimento para reconhecer a apostolicidade de Paulo. Por que desfazer a vocação de quem a gente não concorda?

3) Em Corinto, faltou discernimento para saber lidar com o pecado (“Incesto” – I Cor.5);

4) Em Corinto, faltou discernimento para lidar com os litígios entre irmãos (I Cor.6);

5) Em Corinto, faltou discernimento para entender o limiar do testemunho (I Cor.6,8);

6) Em Corinto, faltou discernimento para diferenciar aspectos culturais de espirituais (I Cor.8);

7) Em Corinto, faltou discernimento para celebrar a Ceia em Paz, quando o ágape corrompe o AGAPE.

Corinto era a igreja das manifestações espirituais, porém sem discernimento.

3. Como Opera o discernimento, o dom do discernimento espiritual?

a) O dom de discernir os espíritos opera no amor e não no ódio (Veja Eliseu e Jorão, em II Reis 2);

b) O dom de discernir os espíritos opera na intimidade, intuitividade, subjetividade. É no íntimo, do íntimo que brota a convicção, o discernimento.

c) O dom de discernir os espíritos opera sob a dispensação do Espírito Santo. A Igreja é eclesia-pneumatikoi, comunidade espiritual, pertencente ao Espírito Santo.

d) O dom de discernimento opera para construção, edificação da Igreja.

Onde estávamos quando este vento fundamentalista soprava sobre o Brasil?

Conclusão.

Que Igreja queremos ser?

A “igreja que dá certo” no Brasil tem muito pouco da essência do que é ser igreja, convenhamos. Ela é mais empreendimento, mais “case” de administração do que resultado da vivência, da experiência de ser um corpo, uma comunidade de fé. Os casos mais bem sucedidos nesta linhagem da corporação religiosa, tem nos seus espaços sagrados verdadeiros shoppings da fé. Tem de tudo, para todos. Inclusive um ombudsman da fé…

Seja qual for o caminho que a igreja evangélica no país tomar, seja qual for a ênfase que o Espírito der a cada comunidade de fé, em todos eles é vital o discernimento espiritual. A Igreja evangélica no Brasil, essa mesma que se dobra aos modismos e aos ventos de doutrina, precisa ser atravessada pela DIACRISIS. Somente assim ela:

  • deixará de tratar as escolhas políticas sob o prisma moral. Escolha política é exercício democrático, da livre consciência;
  • nunca mais plasmará a figura messiânica em nenhum candidato político. Nenhum político merece essa santa menção;
  • aprenderá a nunca mais chamar de puro o que Deus não purificou; e chamar de impuro o que Deus já purificou (Atos 10). Quantas vidas foram desperdiçadas pela Igreja Cristã ao longo da sua história, sendo jogadas no lixo, desprezadas, e que tinham sido purificadas por Jesus! E quantas pessoas foram abraçadas como sendo irmãos, a partir da cooptação política, e nunca o foram!
  • não se permitirá deixar Jesus ser confundido com preferências políticas, como autenticador de projetos de poder, como certos pastores que propagaram o seu jejum (que deveria ser de caráter íntimo, pessoal, segundo Jesus em Mateus 6), de 80 dias para conferir espiritualidade no seu apoio político a certo candidato que, inclusive, é conhecido como DERROTADO.
  • discernirá que o espírito de divisão não vem de Deus, tampouco é Santo!

QUE DEUS ABENÇOE A SUA IGREJA NO BRASIL, DERRAMANDO O DOM DO DISCERNIMENTO ESPIRITUAL SOBRE SUA GREI!

Pr. Sergio Dusilek

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