“Porque nós não somos falsificadores da palavra de Deus, como tantos outros; mas é com SINCERIDADE, é da parte de Deus e na presença do próprio Deus que, em Cristo, falamos.” (II Coríntios 2:17)
Paulo já tinha usado o termo sinceridade no capítulo primeiro, verso 12 do mesmo livro. Sinceridade é a qualidade de caráter que reluz e reflete a integridade. Antigamente os vendedores de vaso, quando tinham um produto danificado por uma trinca, rachadura, passavam um pouco de cera e tornavam a expor a mercadoria para ser vendida. Uma espécie primitiva do comércio no Paraguai (para quem já foi lá…rsrs!). Ao comprador cabia uma única chance de colocar o objeto contra o sol, pois nessa hora as trincas seriam reveladas, impedindo que ele levasse um produto com defeito.
Sinceridade deveria ser a marca de um cristão e de grupos cristãos. Deveríamos valorizar a sinceridade, pois ela é conduíte para a verdade. Contudo parece que alguns grupos não estão preparados para a verdade, não é mesmo?
Lembro-me de uma reunião na qual participava. Uma organização batista, com nova direção, assumia publicamente para seu conselho que a dívida que possuía era maior do que espelhado no “irreal” balanço. Ao invés de celebrarem a sinceridade e a verdade ali exalada, parte do grupo afrontou o novo executivo, o mesmo que agia com integridade e sinceridade e que não fizera um centavo daquela dívida toda, ora revelada… A coisa é tão insana que me pareceu que tais irmãos gostariam de continuar a serem enganados, numa celebração contínua da falsidade e da mentira. É… você percebe que uma organização perdeu seu caráter crístico, quando delibera pelo falseamento.
Grupos assim distribuem tapinhas nas costas na mesma intensidade com a qual apunhala o outro. E nesse clima de mornidão é que sobram os machões cheio de opiniões que machucam atingindo pelo lado da couraça, o lado do ombreamento, o lado pertencente aos amigos (Sl.55). Grupos assim estimulam a premiação de uma fidelidade a alguém que se mostra servo, capataz de líderes ou interesses maiores. Grupos assim acolhem quem elogia o contraditório no privado, mas que dissimula no público.
Por que falo isso aqui? Primeiro porque por vezes eu já fui pego por essa insinceridade. É muito ruim. Ainda mais para alguém com meu perfil…
Segundo porque essa ausencia de sinceridade já começa a se manifestar. Já tive pessoas que alteraram as versões ao comentar um dos meus escritos. Conforme o diálogo se processa e os argumentos se esvaem, a pessoa ao invés de parar vai editando sua ponderação até excluir o comentário. Já conheci muita gente que vive de versões… e quem assim faz, não vive de verdade e para a verdade.
Ao contrário de muitos que pensam e de outros que nem pensam, procuro expor as minhas opiniões. Não faço isso para ofender alguém: o meu último texto, por exemplo, traz uma opinião pessoal, mas ele não é “pessoal”. É uma crítica que julgo pertinente ao funcionamento da CBB; uma crítica institucional. No entanto, alguns não assertivos (melhor eufemismo que encontrei para expressar o que estou pensando) (perceba: não considero ninguém que se posicione diretamente desse modo), iniciam processos laterais de crítica e comentário. E o fazem de modo cruel, envolvendo inclusive familiares. Você percebe que uma organização vai mal quando ela não consegue digerir uma crítica, optando pelo caminho da auto-ilusão, do embevecimento pelos elogios. Você nota que uma organização perdeu o rumo quando só há ovacionamentos e quando a sinceridade é lida como afronta. Você percebe que uma organização passou quando ela lê as coisas da forma como lhe interessa: coloca acidez onde não tem; enxerga doçura onde não existe, etc.
Uma vez pegos no erro, não assumem. Falta-lhes sinceridade para reconhecer a verdade. E assim, de falsidade em falsidade os grupos cristãos vão perdendo sua identidade, sua semelhança com Jesus. Às vezes penso que o homo religious (Mircea Eliade) se torna um exemplar sistêmico, perdendo inclusive a condição humana. Chega a perder inclusive a condição de HOMEM sob o foco da noção da responsabilidade na ética contemporânea.
Sinceramente…
Pr.Sérgio Dusilek
sdusilek@gmail.com