Visibilidade x Relevância
Para muitos, contagiados pela cultura midiática e dos números, a relevância de algo se dá pela sua visibilidade. Se tem algo que aparece, algo que ganha foco (especialmente o midiático), isso passa a ser considerado por muitos como relevante. Na verdade somos instados a achar que relevância vem da projeção.
Gosto do Evangelho, entre outras coisas, pela sua contra-cultura. Ao comparar a revolucionária e transformadora mensagem do Evangelho, Jesus usou a imagem de uma semente. Ele não fez alusão às técnicas do agronegócio, mas fala de semente. A produtividade não está na técnica, mas na junção solo-semente que gera uma nova vida.
E quando Jesus fala do fazer o bem? Que sua mão direita não saiba o que fez a mão esquerda… para Deus isso é relevante. Para a sociedade atual, só quem aparece com cheque de valor alto no Criança Esperança… para a nossa cultura, relevância está na visibilidade.
E sobre o ofertar? Jesus falou da viúva que deu dois leptos (alguns centavos) mas nada citou daqueles que carregavam sacos de dinheiro até o “lugar do tesouro”. Os sacos de dinheiro tinham visibilidade, mas para Cristo a relevância estava estampada na atitude e no coração daquela mulher que deu tudo o que tinha. Perceba: Ele não criticou aqueles que deram muitas moedas, mas destacou aquela que dera todas as suas. Notou o padrão anti-cultural?
Jesus também contrariou as expectativas da religiosidade quanto a proximidade com Deus. Para os fariseus, intimidade desembocava em visibilidade, em bonitas e vistosas preces feitas em público. Para Cristo essa proximidade requer um local íntimo. Ele fala de quarto, de solitude, de coração aberto para Deus. Relevante para Jesus não é o “orador oficial” que sempre “deixa sua marca” aparecendo nos momentos de intercessão. Ao contrário da visibilidade, relevante para Cristo é aquele que busca somente e sinceramente ser visto por Deus.
Transportemos isso para a Igreja. Uma igreja pode ter uma enorme visibilidade por conta de sua numerosa membresia. Políticos podem assediá-la especialmente num contexto eleitoral como o nosso. Mas essa comunidade local é relevante? Pode ser que sim, pode ser que não. O que quero dizer é que relevância não está ligada necessariamente à visibilidade. Para assentar o que estou dizendo, veja Noé, um homem de uma relevância única que se torna especialmente visível para Deus. Porém sua pregação não conquistou uma alma sequer. Sua visibilidade, nos padrões humanos era perto de zero. Mas sua relevância em termos espirituais era gigantesca. O que não falar da Torre de Babel? Total visibilidade, mas nenhuma relevância para Deus. E Filipe pregando para o eunuco de Candace (At.8)? Visibilidade ali mínima, mas totalmente relevante para o Espírito divino.
Quer aparecer ou ser relevante? Pode ser que nossa relevância tenha visibilidade. Pode ser que não. Mas de modo nenhum o aferidor de nossa importância pode ser a cultura dos números ou mesmo a cultura midiática. A nós só cabe querer ouvir a voz do Mestre dizendo: “Muito bom servo bom e fiel; sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.” (Mt.25:21). Interessante que o senhor da parábola toma conta da obra, da tarefa designada ao servo. Isso porque nem sempre o que Deus quer que façamos produz visibilidade. Mas tudo que Ele nos pede é importante e gera relevância.
Pr.Sergio Dusilek
sdusilek@gmail.com