É isso aí! Tô fazendo esse convite a você no carnaval! Pode parecer anacrônico, mas não é. Justamente na época do ano em que a sujeira carnal é mais evidenciada, propagada, aceita e desejada (pasmem!) vamos falar em santidade. Isso, garanto a você, não é uma insanidade. Insano é acreditar na veiculação da mídia de que pode-se “brincar” e até se “esbaldar” no carnaval que a vida continua depois como se nada tivesse acontecido. Essa postulação de que o carnaval seria um tempo de amnésia moral sem seqüelas tem cara do Diabo. E como tal afronta o Senhor.
Deus é Santo e Ele nos convida a vivermos em santidade. Ser santo é bom. Traz paz ao coração e alegria para a vida. Santidade jamais foi, nem será, o projeto da “chatice divina”. Ela é um dos ideais mais caros para a humanidade. Isso porque não dá para se relacionar com Jesus sem que Ele nos marque, nos mude, nos transforme. Quem ama Jesus acaba procurando andar como Ele andou (I Jo.2:6). Quem ama Jesus tem prazer na caminhada que se faz no Caminho e não nos descaminhos. Quem ama Jesus olha para esse mundo com olhar de compaixão, de serviço/ministração e não com olhar de consumo, de volúpia.
As palavras bíblicas kadosh (hebraico) e hagios (grego) são as que traduzimos como “santo”. Elas querem dizer essencialmente separado, totalmente consagrado, destinado para uma função. O Deus santo quando nos salvou nos consagrou. Recebemos em nossa conversão a Unção, isto é, o batismo com o Espírito Santo. Fomos encharcados com toda santidade do alto! E ali fomos totalmente consagrados para adoração a Deus e separados para Seu serviço, para o exercício dos dons que Ele nos deu. Contudo, o grande problema é como construir essa santidade. Queria então compartilhar algumas idéias (de uma lista que não se esgota aqui) que podem ajudá-lo(a) a viver esse projeto de Deus para nós.
1) Santidade não é um convite a reclusão (Jo.17:15, I Pe.2:11-12, Mt.5:13-14)
Ao longo do cristianismo alguns pensaram (e ainda pensam) que para viver em santidade é preciso experimentar uma desconexão com o mundo. Desliga a tv, cancela a internet, quebra o computador, descarta os cd´s de músicas “mundanas”,… tudo cheio da melhor intenção e maior devoção. Só que logo após tomadas essas atitudes descobre-se que o mal, que o desejo da carne (Rm.7) continua latejando dentro da alma. Nem o viver dentro da igreja gera essa santidade. No máximo produz “igrejade”.
Essa proposta de uma auto-exclusão foi especialmente encarnada pelos monges na idade média. Muitos viveram piedosamente. Mas eles seriam piedosos em qualquer lugar, não só no monastério, pois não é o ambiente que faz o monge e sim o monge quem faz o monastério. Contudo outros (lembra do romance “O Nome da Rosa” de Humberto Eco) sequer chegaram perto de qualquer ideal de santidade. Não é a reclusão que nos torna santos, mas a inclusão do Senhor em TODA nossa vida. É reconhece-Lo em todos os nossos caminhos. E reconhece-Lo envolve adquirir consciência plena que sou de Jesus, que pertenço ao Senhor tanto dentro quanto fora do ambiente igreja; tanto na multidão quanto na solidão. A proposta de Deus não vem pela desconexão e sim pela conexão; não vem pelo isolamento, mas pelo compartilhamento de uma vida diária com Deus. Isso nos leva a segunda idéia:
2) Santidade não se constrói com negação, mas com afirmação (I Cor.8:3; Tg.4:4; I Jo 2:15-17; I Pe.1:13-16, 3:11)
Para muitos santo é aquele que não faz, que não se envolve, que vive isolado. Santo seria aquele que tem medo de respirar o mesmo ar dos outros. Santo seria também um predestinado a redoma. Muitos vivem a vida cristã baseando-se nas negativas que tem de exercitar e nos convites que precisam recusar. Ocorre que viver pela negação não lhe conduz necessariamente à afirmação. Não é dizendo o que é o errado que se afirma o que é correto. Não é correndo do Diabo que se chega em Jesus. Quando pensamos em santidade como afirmação estamos falando do SIM que devemos dar a Deus. Não só o sim que nos conduziu a salvação, mas aqueles que também nos conduzem a santificação. Quanta coisa Deus precisa mexer em nós! Quantas mudanças o Senhor quer fazer! Quanto lixo para tirar… sim porque por vezes por conta da conversão embalamos o lixo, porém esquecemos de tirá-lo de casa (da nossa vida) para colocá-lo na lixeira… E tudo isso depende do nosso sim diário, constante, rendido, entregue ao Senhor.
Quando dizemos sim a Deus, conseguimos dizer não aos convites do mundo. Mas agora dizemos não por medo de sermos pegos, ou mesmo porque os outros dizem (aquela negativa que nem sabemos explicar o porquê dela), mas sim por convicção. Um crente que constrói sua espiritualidade pelo caminho da negação acaba se tornando muito diferente de Jesus, fica esquisito, insuportável e com nuanças de fariseu. Guarde bem isso: espiritualidade genuinamente cristã é edificada pelo sim, pelo espaço que você dá a Deus na sua vida.
3) Santidade não gera luz própria (Cant.6:10; II Cor.3:18; Fil.2:15; Mt.6:5b)
Todo aquele que vive em santidade tem uma marca indelével: resplandece Jesus. A luz que aparece não é a da pessoa, mas a do Senhor Jesus. Isso porque a santidade enquanto reafirma os sim´s para Deus, nos leva a dar as negativas não só para convites que são do Diabo, mas sobretudo para o nosso ego. Isto é: quanto mais de Deus em nós, menos de nós mesmos (Jo.3:30). A boca de um santo fala das obras de Jesus, da vida de Jesus e não daquilo que ele tem feito em nome dEle. Nada tão estranho ao evangelho quanto a existência de gente que se diz SERVO (isto é – escravo (doulos-grego)) mas que é tão cheio de si cujo assunto é ele mesmo. Em outras palavras: se você começa a pensar em alguém como herói, como “o cara” (já que ele se promove para tal), comece a desconfiar de sua fé e da dele. Isso é tão sério que algo que possua uma fonte de luz própria acaba atrapalhando a reprodução de uma fonte maior!
Ser santo é resplandecer a Cristo, é brilhar Sua luz e não a nossa. No dizer de Salomão em Cânticos, somos vocacionados para sermos “luas” de Deus e não “sóis” do Senhor. E não é essa Luz do Senhor que o mundo almeja ver? Ele (mundo) anda em trevas. As pessoas tateam no escuro. Não possuem referenciais. Não foram estabelecidos limites para seu próprio bem. Não sabem a beleza e bonança que é viver com e para Jesus. Precisam de luz.
4) Santidade não se mantém com ausência de sujeira, mas sim constante limpeza (Sl.51:1-3,7; I Cor.6:11; Tg.4:7-10; I Pe.1:22; I Jo.1:9)
Não só um brilho próprio pode atrapalhar o resplandecer da Luz de Deus em nós. A sujeira também pode ofuscar esse brilho. E em nome desse ideal de limpeza alguns cometem um equívoco. Acham que vida santa é uma vida de preservação pessoal, de corte de relacionamentos com pessoas somente pelo fato delas não serem crentes também. Gosto de uma frase do Pr.Ivênio dos Santos: “não é mais limpo quem nunca se suja, mas quem sempre se lava.” Se é impossível que não nos sujemos, que o pó desse mundo não se apegue em nós, é possível e factível que tomemos providência para que ele não resida conosco. Se não posso evitar a sujeira, posso não ficar encardido por ela. Daí a importância da confissão. Por isso precisamos constantemente estar aos pés de Jesus, em contrita devoção, para que o “sangue dEle nos purifique de cada/todo pecado”. Quem acha que não tem do que se arrepender, do que pedir perdão, não é santo; é convencido. Porque toda vez que olhamos (Sl.34:5) para Ele, percebemos quão indignos somos e vemos com nitidez os pecados que cometemos (inclusive os “microscópicos”, cometidos em pensamento).
Portanto, use esse período para descanso. Mas use também para reafirmar seu desejo de ser santo assim como Ele é Santo!
Pr.Sergio Dusilek
sdusilek@gmail.com