Novos Caminhos, Velhos Trilhos

fevereiro 15, 2012

CONVITE A SANTIDADE

Filed under: Estudos,Teologia — sdusilek @ 12:25 pm

É isso aí! Tô fazendo esse convite a você no carnaval! Pode parecer anacrônico, mas não é. Justamente na época do ano em que a sujeira carnal é mais evidenciada, propagada, aceita e desejada (pasmem!) vamos falar em santidade. Isso, garanto a você, não é uma insanidade. Insano é acreditar na veiculação da mídia de que pode-se “brincar” e até se “esbaldar” no carnaval que a vida continua depois como se nada tivesse acontecido. Essa postulação de que o carnaval seria um tempo de amnésia moral sem seqüelas tem cara do Diabo. E como tal afronta o Senhor.

Deus é Santo e Ele nos convida a vivermos em santidade. Ser santo é bom. Traz paz ao coração e alegria para a vida. Santidade jamais foi, nem será, o projeto da “chatice divina”. Ela é um dos ideais mais caros para a humanidade. Isso porque não dá para se relacionar com Jesus sem que Ele nos marque, nos mude, nos transforme. Quem ama Jesus acaba procurando andar como Ele andou (I Jo.2:6). Quem ama Jesus tem prazer na caminhada que se faz no Caminho e não nos descaminhos. Quem ama Jesus olha para esse mundo com olhar de compaixão, de serviço/ministração e não com olhar de consumo, de volúpia.

As palavras bíblicas kadosh (hebraico) e hagios (grego) são as que traduzimos como “santo”. Elas querem dizer essencialmente separado, totalmente consagrado, destinado para uma função. O Deus santo quando nos salvou nos consagrou. Recebemos em nossa conversão a Unção, isto é, o batismo com o Espírito Santo. Fomos encharcados com toda santidade do alto! E ali fomos totalmente consagrados para adoração a Deus e separados para Seu serviço, para o exercício dos dons que Ele nos deu. Contudo, o grande problema é como construir essa santidade. Queria então compartilhar algumas idéias (de uma lista que não se esgota aqui) que podem ajudá-lo(a) a viver esse projeto de Deus para nós.

1) Santidade não é um convite a reclusão (Jo.17:15, I Pe.2:11-12, Mt.5:13-14)

Ao longo do cristianismo alguns pensaram (e ainda pensam) que para viver em santidade é preciso experimentar uma desconexão com o mundo. Desliga a tv, cancela a internet, quebra o computador, descarta os cd´s de músicas “mundanas”,… tudo cheio da melhor intenção e maior devoção. Só que logo após tomadas essas atitudes descobre-se que o mal, que o desejo da carne (Rm.7) continua latejando dentro da alma. Nem o viver dentro da igreja gera essa santidade. No máximo produz “igrejade”.

Essa proposta de uma auto-exclusão foi especialmente encarnada pelos monges na idade média. Muitos viveram piedosamente. Mas eles seriam piedosos em qualquer lugar, não só no monastério, pois não é o ambiente que faz o monge e sim o monge quem faz o monastério. Contudo outros (lembra do romance “O Nome da Rosa” de Humberto Eco) sequer chegaram perto de qualquer ideal de santidade. Não é a reclusão que nos torna santos, mas a inclusão do Senhor em TODA nossa vida. É reconhece-Lo em todos os nossos caminhos. E reconhece-Lo envolve adquirir consciência plena que sou de Jesus, que pertenço ao Senhor tanto dentro quanto fora do ambiente igreja; tanto na multidão quanto na solidão. A proposta de Deus não vem pela desconexão e sim pela conexão; não vem pelo isolamento, mas pelo compartilhamento de uma vida diária com Deus. Isso nos leva a segunda idéia:

2) Santidade não se constrói com negação, mas com afirmação (I Cor.8:3; Tg.4:4; I Jo 2:15-17; I Pe.1:13-16, 3:11)

Para muitos santo é aquele que não faz, que não se envolve, que vive isolado. Santo seria aquele que tem medo de respirar o mesmo ar dos outros. Santo seria também um predestinado a redoma. Muitos vivem a vida cristã baseando-se nas negativas que tem de exercitar e nos convites que precisam recusar. Ocorre que viver pela negação não lhe conduz necessariamente à afirmação. Não é dizendo o que é o errado que se afirma o que é correto. Não é correndo do Diabo que se chega em Jesus. Quando pensamos em santidade como afirmação estamos falando do SIM que devemos dar a Deus. Não só o sim que nos conduziu a salvação, mas aqueles que também nos conduzem a santificação. Quanta coisa Deus precisa mexer em nós! Quantas mudanças o Senhor quer fazer! Quanto lixo para tirar… sim porque por vezes por conta da conversão embalamos o lixo, porém esquecemos de tirá-lo de casa (da nossa vida) para colocá-lo na lixeira… E tudo isso depende do nosso sim diário, constante, rendido, entregue ao Senhor.

Quando dizemos sim a Deus, conseguimos dizer não aos convites do mundo. Mas agora dizemos não por medo de sermos pegos, ou mesmo porque os outros dizem (aquela negativa que nem sabemos explicar o porquê dela), mas sim por convicção. Um crente que constrói sua espiritualidade pelo caminho da negação acaba se tornando muito diferente de Jesus, fica esquisito, insuportável e com nuanças de fariseu. Guarde bem isso: espiritualidade genuinamente cristã é edificada pelo sim, pelo espaço que você dá a Deus na sua vida.

 3) Santidade não gera luz própria (Cant.6:10; II Cor.3:18; Fil.2:15; Mt.6:5b)

Todo aquele que vive em santidade tem uma marca indelével: resplandece Jesus. A luz que aparece não é a da pessoa, mas a do Senhor Jesus. Isso porque a santidade enquanto reafirma os sim´s para Deus, nos leva a dar as negativas não só para convites que são do Diabo, mas sobretudo para o nosso ego. Isto é: quanto mais de Deus em nós, menos de nós mesmos (Jo.3:30). A boca de um santo fala das obras de Jesus, da vida de Jesus e não daquilo que ele tem feito em nome dEle. Nada tão estranho ao evangelho quanto a existência de gente que se diz SERVO (isto é – escravo (doulos-grego)) mas que é tão cheio de si cujo assunto é ele mesmo. Em outras palavras: se você começa a pensar em alguém como herói, como “o cara” (já que ele se promove para tal), comece a desconfiar de sua fé e da dele. Isso é tão sério que algo que possua uma fonte de luz própria acaba atrapalhando a reprodução de uma fonte maior!

Ser santo é resplandecer a Cristo, é brilhar Sua luz e não a nossa. No dizer de Salomão em Cânticos, somos vocacionados para sermos “luas” de Deus e não “sóis” do Senhor. E não é essa Luz do Senhor que o mundo almeja ver? Ele (mundo) anda em trevas. As pessoas tateam no escuro. Não possuem referenciais. Não foram estabelecidos limites para seu próprio bem. Não sabem a beleza e bonança que é viver com e para Jesus. Precisam de luz.

 4) Santidade não se mantém com ausência de sujeira, mas sim constante limpeza (Sl.51:1-3,7; I Cor.6:11; Tg.4:7-10; I Pe.1:22; I Jo.1:9)

Não só um brilho próprio pode atrapalhar o resplandecer da Luz de Deus em nós. A sujeira também pode ofuscar esse brilho. E em nome desse ideal de limpeza alguns cometem um equívoco. Acham que vida santa é uma vida de preservação pessoal, de corte de relacionamentos com pessoas somente pelo fato delas não serem crentes também. Gosto de uma frase do Pr.Ivênio dos Santos: “não é mais limpo quem nunca se suja, mas quem sempre se lava.” Se é impossível que não nos sujemos, que o pó desse mundo não se apegue em nós, é possível e factível que tomemos providência para que ele não resida conosco. Se não posso evitar a sujeira, posso não ficar encardido por ela. Daí a importância da confissão. Por isso precisamos constantemente estar aos pés de Jesus, em contrita devoção, para que o “sangue dEle nos purifique de cada/todo pecado”. Quem acha que não tem do que se arrepender, do que pedir perdão, não é santo; é convencido. Porque toda vez que olhamos (Sl.34:5) para Ele, percebemos quão indignos somos e vemos com nitidez os pecados que cometemos (inclusive os “microscópicos”, cometidos em pensamento).

Portanto, use esse período para descanso. Mas use também para reafirmar seu desejo de ser santo assim como Ele é Santo!

Pr.Sergio Dusilek

 sdusilek@gmail.com

fevereiro 13, 2012

UMA AMBIÇÃO QUE POUCOS TEM – Lc.12:13-21

Filed under: Estudos,Teologia — sdusilek @ 10:23 am

Todo ser humano normal ambiciona alguma coisa. Nesse exato momento você pode estar fazendo planos para trocar o carro ou quem sabe adquirir a primeira moto. Talvez esteja pensando em comprar uma roupa mais cara, ou quem sabe até mesmo a igreja esteja pensando numa ampliação, compra de nova aparelhagem de som, ou mesmo de uma bancada diferente. Fato é que todos nós ambicionamos, desejamos coisas que ainda não alcançamos.

A Bíblia não condena a ambição em si. Mas condena toda e qualquer forma de vida que seja reduzida ao serviço às coisas. E nada exerce tanto atrativo nesse quesito como o amor ao dinheiro. E é nesse ponto que a avareza torna uma pessoa escrava do bem adquirido ou desejado. Acaba servindo, adorando, a Mamom (Mt.6:24).

Para evidenciar que o Reino não é dos avarentos, mas sim dos que partilham dos seus bens com liberalidade, Jesus após ser instigado por um homem, conta uma parábola. Interessante notar que ao provocar uma reação em Jesus, aquele homem:

a)      Mostrava claro sinal de avareza, pois nenhum valor deu ao seu pai que havia morrido, mas sim aos bens que deixara. Ao que tudo indica essa morte não devia ter ocorrido há muito tempo. Mesmo assim aquele rapaz já estava interessado na partilha. Coisa triste, não?

b)      Acaba encomendando um juízo a Jesus. Ora, se ele via Jesus como um árbitro, devia confiar em sua deliberação e não encomendar o juízo. Ele chega dizendo o que Jesus deveria fazer (v.13). Mesmo sendo comum aos mestres decidirem, ajuizarem (aliás eles eram também reconhecidos pela sua jurisprudência), não cabe a ninguém dar uma causa a Deus e pedir a parcialidade ao seu favor.

c)      O Mestre passa então a recusar essa função. A espada que Cristo veio trazer (Mt.10:34) não é a do dinheiro, mas do Evangelho. Famílias seriam partidas por causa das Boas Novas do Reino. Não por causa de heranças. Sempre que houver espaço o Evangelho será promotor de reconciliação e não de divisão. Na verdade Jesus queria substituir a palavra meristes (grego – dividir) por mesistes (grego – reconciliar). De fato aquele homem estava ali reduzindo Cristo a um mero árbitro.

1)    Aquele homem tipifica o avarento porque só pensava em si (v.13-14)

Um dos grande problemas do avarento é que sua postura é como a da sangue-suga (Pv.30:15). Sua mão é fechada o que o impede de repartir, de dar, mas também de receber. Uma mão fechada acaba não retendo aquilo que Deus quer derramar sobre ela, porque para reter é preciso estar aberta para agarrar o que vem do céu. Tal conduta revela um elevado grau de individualismo. Isso porque pessoas avarentas se relacionam com coisas e não com gente. Acabam terminando sozinhas.

Na parábola o homem rico estava ficando cada vez mais rico – seu campo produziu com abundância (v.16). Sua preocupação então era armazenar aquilo que conseguira amealhar ao longo de sua vida profissional (v.18). Jesus propositadamente evidencia um contra-senso: ora, por que um homem já abastado, rico, quer ter mais do que possui? A resposta é uma só: por conta da sua avareza, do seu amor ao dinheiro.

Aquele homem passara toda a vida se dedicando ao ter. E quando chegou ao final descobriu que não ERA! Alguém que acredite que para ser alguém precisa ter as coisas e ostentá-las um dia descobrirá, como aquele fazendeiro da parábola, que não é nada. Toda sua riqueza não pode livrá-lo da morte (v.19-20). Se definir por aquilo que faz ou pelo que possui, por coisas externas a essência do ser, é admitir uma tremenda falta de consistência interna.

Conta-se que no enterro de um dos homens mais ricos que esse mundo conheceu o armador grego Aristóteles Onassis, vários de seus amigos comentavam sobre a herança que ele havia deixado. Num dado momento, um deles teria interrompido e dito: “é verdade que ele deixou muitos bens… mas o que ele levou consigo?”

A avareza coisifica o ser humano. Ser avarento é ser pequeno, solitário, embora o celeiro possa ser enorme. Amar o dinheiro faz com que a pessoa pense somente em si. E isso faz com que deixe de ser benção na vida dos outros. Será que você é assim?

2)    Aquele homem tipifica o avarento porque queria só ajuntar para si (v.17-18)

O Mestre vai denunciar as motivações e intenções daquele reclamante (v.13) mediante a parábola.

Qual era a marca do pensamento do fazendeiro da parábola? Ele pensava em ajuntar bens somente para si. As expressões encontradas no texto são o que “VOU” fazer? “MINHA” colheita; “MEUS” celeiros; “MINHA” safra; “MEUS” bens. No entanto, ao passo que ele ia ajuntando bens ia perdendo a sua alma (Mt.16:26). A parábola não fala de lar, de esposas, de filhos, de amigos, de sinagoga/Templo, de vida com Deus. Não havia nem uma pessoa para herdar aquilo que ele ajuntara (v.20). Ele simplesmente havia perdido sua alma.

A marca de um cidadão do Reino não é a avareza, o isolacionismo, mas a comunhão. A primeira evidência da conversão de Zaqueu foi o desprendimento de toda a avareza, pois ele doou metade dos seus bens aos pobres (Lc.19). O primeiro sinal de que o Espírito estava operando na Igreja “Primitiva” era a comunhão que eles tinham a ponto dos discípulos de Jesus, vivendo num ambiente judaico e judaizante, optarem por terem tudo em comum. E muitos como Barnabé venderam suas propriedades para depositá-las aos pés dos apóstolos afim de que os recursos fossem distribuídos (At.2:44; 4:32-36). Se houve um comunismo (entendido aqui por ter as coisas em comum) na História esse aconteceu no nascedouro da Igreja.

Tudo isso para apontar o elevado grau de serviço da igreja. Ser cristão, cidadão do Reino não é entrar em disputas de herança, mas sim buscar servir o outro.

No seu dia-a-dia, na sua agenda pessoal, existe tempo para socorrer alguém ou só para aumentar os seus “celeiros”? Gosto de uma máxima que diz: se você não vive para servir, não serve para viver! Pense nisso!

CONCLUSAO

Ambição para ter dinheiro, bens, sucesso, todos têm. Alguns até em grau de distorção como é o caso dos avarentos, sobre os quais Jesus falou nessa parábola.

Contudo há uma ambição que poucos têm. E ela está ligada a expressão final que Cristo usa no verso 21. Poucos querem ser ricos para com Deus. Já ambicionou isso alguma vez? Conhece alguém assim?

Talvez até haja uma indagação no seu coração: como ser rico para com Deus? Quero terminar este estudo dando a você uma lista não esgotável:

a)      Ser rico para com Deus e tê-lo como a riqueza maior de sua vida. É ter Deus como seu tesouro maior (v.34). Isso implica em sempre estar disposto a servir e a ter uma agenda flexível para receber a direção de Deus. Esse é seu caso?

b)      Ser rico para com Deus é ser rico de Deus! Isso implica em viver uma vida pela Graça e transbordando Graça para todos os que perto de você estão. É viver tendo a misericórdia, o amor, triunfando sobre o juízo (Tg.2:12b);

c)       Ser rico para com Deus é ser rico aos olhos de Deus. O sucesso para Deus e para seu Reino não está nos números que você possui (sua riqueza pessoal, seus celeiros). O sucesso para Deus está em sua obediência e comprometimento (fidelidade) a Ele. Noé foi um fracasso como evangelista, mas foi um sucesso como crente (Gen.6; Ez.14:14). Filipe estava “arrebentando” em Samaria até que o Espírito o levou para o deserto a fim de ganhar o mordomo de Candace para Jesus (At.8). Riqueza aos olhos humanos é quantidade. Riqueza aos olhos de Deus é fidelidade ao Seu querer. Qual é a sua riqueza hoje?

d)      Ser rico para com Deus é ser rico do galardão de Deus (I Cor.15:58; Heb.6:10; 11:6). É experimentar a recompensa que vem do Alto ou mesmo a que “lá em cima” está reservada para nós (II Tm.1:12). É se envolver na obra do Senhor com alegria e amor. É permitir que Ele o use para fazer grandes coisas.

Que tal a partir de agora almejar ser rico para com Deus?

Textos: I Tm.6:6-11; Ap.3:14-22; Ec.5:10-6:2; Mt.17:24-27; II Cor.9:6-15; Fl.4; Lc.12:13-21

[ESTUDO PUBLICADO NA REVISTA PALAVRA E VIDA DA CONVENÇÃO BATISTA FLUMINENSE NO QUARTO TRIMESTRE DE 2010]

Pr.Sergio Dusilek

sdusilek@gmail.com

fevereiro 5, 2012

UM INVESTIMENTO SEM RESULTADO – LUCAS 13:6-9

Filed under: Estudos,Teologia — sdusilek @ 2:32 pm

Uma das experiências mais frustrantes que um ser humano pode ter é a falta de retorno. Pais que investem anos em filhos que por sua vez não dão nenhum retorno a eles, seja afetivo, seja material; igrejas que investem em seminaristas que simplesmente não vingam; pastores que investem em igrejas que não saem do lugar; amigos que “carregam as fichas” numa amizade e que na hora de maior aperto são abandonados por eles. Ou mesmo quem sabe alguém pegou seus recursos e fez uma aplicação esperando retorno significativo, mas acabou descobrindo que perdera o que foi tão difícil juntar… Sem dúvida alguma, não ter resultado em um investimento é muito frustrante.

Frustração é o sentimento do coração de Deus quando contempla uma figueira sem fruto. Interessante é que a figueira na Palestina dá fruto 10 meses por ano. Em qualquer tempo um homem encontraria figo para comer, até mesmo na figueira mais desavisada. Quanto mais aquela da parábola! Escolhida, plantada em um lugar especial (sim, pois a vinha era plantada em solo fértil – v.6), desejada pelo dono da vinha, cuidada com todo carinho… como podia não dar fruto? Será que sua vida está como aquela figueira? Boa terra, bom cuidado, excelente Dono, mas sem fruto?

1)    Entendendo o contexto;
Para que você entenda melhor esta parábola explicito os significados que foram atribuídos a figueira ao longo do Velho Testamento.
Um primeiro significado era da figueira como símbolo da paz e da prosperidade sobre Israel. Em tempos de paz, cada israelita descansaria debaixo de sua figueira (Mq.4:4; Zc.3:10; Os.9:10).
Outro significado seria a figueira como a liderança de Israel. Gente em quem Deus investiu tempo, Palavra, mas que se recusava a andar segundo Seu coração.
Por fim há a idéia do povo de Deus (Jer.24). Nesse sentido figueira e vinha eram usadas como expressões correlatas. Ocorre que no Novo Testamento, por ser o fruto da vide o símbolo da nova aliança entre Deus e o povo, a vinha passa a tipificar de modo preponderante esse papel (Jo.15). Interessante que o “evangelista” do Velho Testamento, o profeta Isaías, faz mais uso da vinha do que da figueira para tipificar o povo de Deus (Is.5). A vinha seria então o Israel de Deus, a “assembléia universal dos Santos” (Heb.12:22-23). Todos os salvos no passado, presente e futuro, ao longo de toda a história da humanidade.

Nesse sentido Jesus então contrasta com sua vinda a esterilidade de Israel. Os teólogos destacam com razão que Israel era para ser uma nação sacerdotal, um lugar em que (até mesmo pela sua localização geográfica) os povos acorreriam para buscar a presença de Deus. Uma terra onde a Presença de Deus seria anunciada, vista e vivida. Só que Israel falhou nesse propósito sacerdotal. E essa ausência de frutos era agora mais evidenciada com a vinda de Cristo, meio pelo qual não precisamos mais de sacerdotes, nem de nações sacerdotais para termos comunhão com Deus (I Pe.2:8-9; I Tm.2:5). Por isso o uso por Jesus de uma figueira no meio da vinha… de algo que foi tido como povo de Deus mas que por se recusar a crer no sacrifício de Jesus, deixara de ser.

Para evidenciar essa percepção, Lucas registra logo após essa parábola o encontro de Jesus com uma mulher israelita, freqüentadora de uma sinagoga (tanto que encontrou o Mestre por lá), mas que havia 18 anos era “cavalo do Diabo”. Uma figueira no meio da vinha que agora se tornara uma vinha no meio das “figueiras”. Gente no meio do Israel de Deus, do povo de Deus, mas que não é povo do Senhor. Será que tem gente assim no nosso meio? Porque se tem, não é ficando no nosso meio que as coisas se resolverão. É indo para diante de Jesus (13:12a), nesse encontro com o Senhor da vinha é que se torna ligado a videira verdadeira (Jo.15) e deixa-se de ter uma vida infrutífera.

2)    Há um tempo para arrependimento
Que fruto você tem dado? Que resultado em termos de investimento você tem apresentado diante de Deus? Suas mãos estão cheias ou vazias?
A mulher encurvada nada tinha a apresentar. Assim também acontecia com os judeus que questionaram Jesus sobre a morte dos galileus (13:1) e aos quais o Mestre falou da queda da torre de Siloé (v.4). Sem entrar no mérito desses dois fatos históricos, o que importa para gente é a lógica do infrutífero: “reconheço que não dou fruto, mas há árvores infrutíferas piores do que a minha”. Ou ainda: sou pecador, mas tem pecador pior do que eu, como se ser melhor do que alguém num quesito péssimo (pecado) torna-se alguém aprovado (bom). Afinal: ser menos pior torna alguém melhor? Foi essa lógica da auto-complacência que Cristo desmascarou.

Essa era a lógica de Israel diante de Deus. Fomos escolhidos como povo. Sabemos que não estamos vivendo a plenitude do que Deus quer, mas certamente não somos os maiores pecadores do mundo… você consegue ouvir esse eco de raciocínio? O que Jesus quis trazer é que há um tempo para arrependimento e que esse momento havia chegado. Em Cristo somos salvos. Olhando para Cristo, todos precisam de arrependimento, sejam judeus ou não.

Nesse sentido quero dizer que não creio num plano especial de Deus para salvar o povo judeu no futuro. Algo como dar um “by pass” na mediação de Cristo e salvá-los por causa de uma “herança abraônica”. Nesse sentido vejo muita incompreensão sobre a mensagem bíblica. Senão vejamos:

a)    A Palavra de Deus fala de modo abrangente e pródigo sobre arrependimento. Talvez dois dos textos mais duros e claros sejam: Hebreus 2:2-3 e II Pe.2:4-11.
Se nem anjos foram poupados, porque homens o seriam? (veja também Rm.11:21);
b)    A Palavra assevera a primazia de Cristo na Criação (Cl.1) e na eternidade (Ap.1-5). Fala também da cruz de Cristo como local de encontro entre o homem e Deus. O autor de Hebreus revela um Cristo que é maior que todos os componentes da fé judaica. A supremacia de Cristo fica evidente sobre cada aspecto religioso do judaísmo.
A Palavra apresenta também Jesus como a mensagem central da Bíblia. O Caminho para o Pai. Sendo assim, falar num plano outro para algum povo é tornar Israel melhor que os outros povos e até mesmo melhor que Cristo. Biblicamente falando, é inadmissível qualquer depreciação da obra de Cristo. Israel existiu por causa de Cristo e não Cristo por causa de Israel.
c)    Há uma incompreensão sobre a fala de Paulo em Romanos 9-11. Israel fora uma nação escolhida, mas agora perdera a condição eleita porque o pacto salvífico não era via etnia, mas via promessa (fé – Rm.9:6-8). Nem todos de Israel (pátria) eram israelitas (povo de Deus). A expressão “todo Israel será salvo” (Rm.11:26) fala portanto de todo o povo de Deus ao longo da História. A eleição agora se dá em Cristo (Ef.1:4-5; Rm.8:29; I Pe.2:8-10;
d)    A esperança para Israel se chama Cristo. O caminho continua sendo o arrependimento (At.2:37-39). Para aqueles que creram e crerão, estes integram acima de tudo o Israel de Deus!

3)    Deus procura fruto
Ao que tudo indica aquela figueira não queria dar frutos para Deus. Provavelmente a fala do dono se deu no 9º ano de vida dela. Isso porque 3 anos eram necessários para a árvore crescer; 3 para dar um fruto considerado proibido (Lv.19:23); no 4º ano (7º de vida da figueira) era o fruto puro para ser dado ao Senhor (Lv.19:24), coisa que devia ser renovada a cada 4 anos (Dt.14:28,29). O dono da vinha procurava fruto havia 3 anos! E aquela figueira se recusava dar fruto ao Senhor. Será que você é bem sucedido em tudo, frutifica em todas as áreas, menos dentro da vinha, do Reino de Deus?

O dono da vinha então volta procurando fruto. E não encontra. Nos evangelhos encontramos 2 outras experiências assim: a de Joao 15 e a vez em que Jesus procura figos (Mt.21:18-22). Quando o Senhor da vinha não encontra fruto ele pode:

a)    Arrancar (13:7), cortar. A palavra no grego katargei significa tornar inútil, ineficaz, gastar totalmente. Particularmente foi isso que aconteceu com Israel como nação, como vimos anteriormente, cumprindo assim a profecia de João Batista (Lc.3:7-9). Postura semelhante no resultado, mas diferente na forma, foi a que aconteceu com a figueira que não tinha fruto para Jesus e que por ordem do Mestre, secou-se (Mt.21:19);
b)    Há ainda a posição de limpar (Joao 15:2). A palavra no grego para cortar airô pode significar levantar o ramo, limpá-lo. Por vezes ramos caem e são pisados se tornando infrutíferos. Para esses o dono da vinha os levanta, limpa de toda sujeira para que possam então produzir fruto. Que imagem mais linda de como o Senhor trata conosco!
O Dono da Vinha procura fruto. Você tem frutificado? Se não, deixe o Senhor limpá-lo…

CONCLUSAO
Por fim essa parábola mostra um dilema (v.7-8). Mas não é um desacordo na Trindade. Gosto da idéia de Keneth Bailey de que o debate que ocorre ali é entre os atributos de Deus: misericórdia e juízo. E como a Palavra revela, a misericórdia triunfa sobre o juízo (Tg.2:13). Se Deus procura fruto, se ainda há tempo para arrependimento é porque da parte dEle há tempo para perdão. A palavra no verso 8 para “deixa-a” é a palavra usada no NT para perdão. Deus é compassivo, tardio para irar-se! Aleluia!
Que na visitação do Dono da Vinha sobre sua vida Ele o encontre carregado do Fruto (Gl.5:22-23). E que caso você ainda não esteja frutificando, lembre-se que se houve severidade com Israel e com os anjos, também haverá contigo. Deixe o Senhor levantar e limpar você! Porque pela Sua misericórdia, você ainda pode alcançar perdão!

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