Novos Caminhos, Velhos Trilhos

maio 31, 2020

“1968 – O ano que não terminou”

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 2:17 pm

Quero agradecer à turma Marthin Luther King Junior pela honra do convite feito
a mim para ocupar esse púlpito. Vocês são uma turma singular, turma com a
qual sempre aprendo. São referenciais e é por isso que esse espaço se torna
tão especial para mim.
Tomo como empréstimo para tema nessa noite o título de uma das obras do
jornalista Zuenir Ventura. Se para Zuenir aquele ano servia como lição e não
como exemplo, é simplesmente porque ele desconhecia que uma especial
turma de teologia o sacralizou ao escolher como patrono o Pr. Martin Luther
King Jr. Sim, vocês sacralizaram aquele ano! Ano da primavera de Praga, das
passeatas de Maio em Paris, do movimento hyppie americano, do AI-5 aqui no
Brasil, do assassinato de Martin Luther King Junior… que ano foi aquele!
Mas por que me proponho a defender hoje e aqui que o ano de 1968 não
terminou?
1) O Ano de 1968 não terminou porque vocês vivem e viverão
como memória e história a ser contada e relembrada
Quem eram vocês? Quem são vocês?
 Pastores das biografias ministeriais mais lindas e dignas
 Professores cujo envolvimento na academia engrandeceu a causa da
educação no Brasil;
 Servidores, profissionais liberais, outrora trabalhadores da iniciativa
privada que honraram suas funções, testemunharam de Jesus e
dignificaram o nome dEle pelo exercicio da diaconia bíblica.
DIACONIA essa que abre a porta da igreja, que dá lastro ao querigma. É um
equívoco pensar que a diaconia se resume a uma distribuição de donativos, de
elementos da Ceia. Olhem para Atos dos Apóstolos! Na parte “petrina” do livro,
dois diáconos figuram, ao lado de Pedro, como os grandes pregadores da
Igreja! Falo de Estevão e Filipe.
Isso me faz pensar que a Igreja perde sua relevância toda vez que enfatiza o
kerigma em troca da diaconia. É a diaconia que legitima o kerigma. Kerigma
sem diaconia é retórica vazia. Por isso que ao invés de promover clínicas e
seminários de pregação expositiva, a denominação deveria, seguindo o legado
do Dr. King Jr. promover encontros de promoção da DIACONIA bíblica, visando
nessa realidade que ela se encontra?
Sim, por muitas gerações a história de vocês seguirá sendo contada, pois suas
vidas, a semelhança de Abel, não podem ser silenciadas pela morte; elas ainda
falarão! E mesmo que os batistas se recusem a falar de vocês, Deus já os tem
preservado na Academia! Sabia que a turma de vocês tem sido citada em
dissertações de mestrado em Universidades publicas e privadas?

2) O Ano de 1968 não terminou porque o patrono de vcs segue
mais atual do que nunca.
Parece que voltamos 50 anos; flertamos como nação com uma ultra-direita que
faz despertar até os que dormem o sono escatológico pré-milenarista. O
próprio presidente recém eleito, em uma de suas declarações, afirmou que
gostaria de voltar 50 anos na história…
Cá entre nós, não imagino a pressão que sofreram – dentro de um sistema
rascista e conservador, num país dominado pela extrema direita, com
formatura somente há 13 dias do AI-5… como vocês ousaram escolher Martin
Luther King Jr. para seu patrono? Aliás essa era uma a única
suposição/afirmação dessa reflexão sem lastro, até que nessa semana recebi
um texto do saudoso Pr.Isaltino em que ele faz referência à resistência que a
liderança do Seminário e da Convenção Batista Brasileira (à época) fizeram a
escolha de vocês.
Talvez dentro de vocês, àquela tempo ecoasse as palavras de MLK ou similar
sentimento que elas evocam:
“Sobre algumas posições, a Covardia pergunta ‘É
seguro?’, a Conveniência pergunta ‘É político?’ e a
Vaidade se apresenta e pergunta ‘É popular?’. Mas a
Consciência pergunta ‘Está certo?’. E chega um momento
em que devemos assumir uma posição que não é segura,
nem política, nem popular, mas devemos fazê-lo porque a
Consciência nos diz que é certo. A melhor medida de um
homem não é como ele se posiciona em momentos de
conveniência, mas onde ele se situa em momentos de
desafio, de grande crise e de controvérsia. (…) Deve haver
outros que preferem seguir um caminho diferente, mas
quando assumi a cruz reconheci seu significado. Não é
algo em que você simplesmente ponha suas mãos. Não é
algo que você use. A cruz é algo que você carrega e sobre
a qual acaba morrendo. A cruz pode significar a morte de
sua popularidade. Pode significar a morte de sua ponte
com a presidência. Pode significar a morte da verba de
uma fundação. Pode cortar um pouco o seu orçamento,
mas pegue sua cruz e simplesmente a carregue. E foi essa
a maneira como resolvi agir. Venha o que vier, agora não
importa.”
Estou convicto de que mais do que nunca precisamos daquilo que Dr. King
chamou de uma “lealdade ecumênica e não exclusiva, em torno da noção de
humanidade”. Mais do que nunca num país como o nosso que abole direitos
em prol da remuneração TRANSNACIONAL, em que “motivos ligados ao lucro
são considerados mais importantes do que pessoas” vemos ressurgir aquilo
que MLK chamou de “trigêmeos gigantes do rascismo, do materialismo e do
militarismo” precisamos da preconizada “revolução de valores” pela qual tanto
lutou o patrono de vocês.
Não é sem “razão” que parte da caminhada ministerial de vcs foi preterida,
obstaculada. Vocês escolheram amar mais a Jesus do que a “carreira”
ministerial, essa que é construída entre conveniências… Contudo, ao mesmo
tempo: como obstacular uma turma como a de vocês? DEUS SEMPRE FOI E
SEMPRE SERÁ MAIOR DO QUE OS ENTRAVES DENOMINACIONAIS. E as
dificuldades que imagino vcs tiveram no inicio foram transformadas por Deus
na laje sobre a qual vcs construíram sua diaconia, seu ministério. Vidas dignas
em serviço e louvor ao Senhor.

3) Por fim, o ano de 1968 não terminou porque ao escolherem o
seu patrono e seu orador2, vocês anunciaram um modelo de
vanguarda ministerial;
Cito o Pr. Martin Luther King Jr. novamente:
“Temos o poder de mudar este país e de dar um novo tipo
de vitalidade à religião de Jesus Cristo. E podemos fazer
com que esses rapazes e moças que perderam a fé na
Igreja percebam que Jesus era um homem sério
exatamente porque lidava com a essência do humano em
meio ao fulgor do Divino e se preocupava com os
problemas do homem. (…) O maior revolucionário que a
história conheceu. E quando as pessoas nos disserem, ao
nos posicionarmos, que nos inspiramos nisso ou naquilo,
voltem e lhes digam de onde vem nossa inspiração.
Li O capital e o Manifesto comunista anos atrás, quando
era aluno de faculdade. E muitos movimentos
revolucionários do mundo nasceram em resultado daquilo
que Marx discutiu. A grande tragédia é que a cristandade
não conseguiu ver que ela tinha a prerrogativa
revolucionária. Não é preciso recorrer a Marx para
aprender a ser um revolucionário. Eu não me inspirei em
Karl Marx; inspirei-me num homem chamado Jesus, um
santo galileu que se dizia consagrado a curar os
desesperados. Ele estava consagrado a enfrentar os
problemas dos pobres. E é daí que tiramos nossa
inspiração. E nós começamos nossa jornada num
momento em que temos uma mensagem para o mundo, e
podemos mudar esse mundo e mudar esta nação.”
A mensagem de vocês para toda a igreja brasileira segue mais atual do que
nunca. Uma igreja que se perde em apoios e partidarizações precisa se
reencontrar com Aquele que não pode ser contido por nenhuma legenda, nem
por ser enquadrado por qualquer sistema: JESUS CRISTO. Não é por outra
razão que:
 há 50 anos vocês anunciaram que a mudança do mundo não vem pelas
ideologias;
 há 50 anos vocês anunciaram que a relevância da igreja não está
calcada no modelo e muito menos ainda no método de crescimento
(herbalife) que ela possui. Tem coisa mais esquisita que essa sacralização de métodos de marketing multi-nível pela sua transposição
para a estrutura da Igreja?
 há 50 anos vocês anunciaram que instituições não devem ser
entronizadas e que denominações só podem ser respeitadas se Jesus
for sua principal razão de existir;
 há 50 anos vocês, através do seu orador, insinuavam (subliminarmente)
que iniciativas denominacionais muitas vezes tinham motivações que
não eram as mais iluminadas pelo Espírito Santo, conquanto viessem
travestidas de certa “celestialidade” (falo da Campanha das Américas).
Ao fazê-lo mostraram que toda denominação, como todo grupo social
(Rubem Alves; Pierre Bordieu) carece de uma autocrítica, necessita de
seus “profetas”. Vocês foram e são profetas!
 há 50 anos vocês repisaram que os direitos humanos são não só para
“humanos direitos”; que a humanidade é um valor intrinseco e
transnacional;
 há 50 anos vocês, de modo vanguardista e que continua sendo atual,
sinalizaram que Teologia e Ministério só têm sentido e relevância se
forem feitos em diálogo com o mundo (na linguagem do orador de
vocês, não adianta a igreja “guardar o remédio no frasco”);
 há 50 anos e sob influência de Harry Emerson Fosdick vocês, num
tempo em que muitos se encastelavam com medo da ciência, se abriam
para um profundo e profícuo diálogo com ela. Isso é impressionante:
vocês não tinham medo da ciência!
 há 50 anos, juntamente com o patrono vocês proclamavam que “a
verdadeira compaixão é mais do que jogar uma moeda para um
mendigo” e sim a viva percepção que “uma casa que produz
mendigos precisa ser reformada”;
 há 50 anos vocês denunciavam que a justiça nem sempre está atrelada
a lei. Sim, o próprio MLK foi preso inúmeras vezes por causa das leis,
mas em nenhuma delas por ter sido injusto (preso pela justiça, porém por causa da JUSTIÇA). As leis podem ter função e aplicação política… “Morô”?
 há 50 anos vocês resgataram a construção da paz pela não violência e
do amor que vence todo ódio, ódio esse gerado no ressentimento de
alguém que é rebaixado por outro;
 há 50 anos vocês trouxeram a figura de Jesus de Nazaré para seu lugar
central de referência, de adoração.
Termino minha fala dizendo que a apropriação do tema de Zuenir Ventura
termina aqui. Isso porque o ano de 1968 do Zuenir Ventura um dia irá acabar,
mesmo que falemos isso num momento em que ele parece renascer…
Mas o ano de 1968, ano da Turma Martin Luther King Jr., esse jamais passará.
Isso porque:
– os laços que vocês criaram jamais passarão;
– as vidas que vocês impactaram e continuarão impactando, jamais esquecerão
de vocês;
– a admiração que vocês despertaram jamais cessará;
– o convite a ousadia a uma perspectiva ministerial a-sistêmica; para-sistêmica,
para sempre persistirá;
– a morte não tragará a vida, nem tampouco obliterará a memória de vocês.
Uma vez ousados na História, para sempre lembrados serão por ela.
– MESMO PORQUE A VIDA NÃO ACABA QUANDO A MORTE CHEGA.
– E ASSIM SE REPETE O DIZER ESCRITURISTICO NA TURMA MARTIN
LUTHER KING JUNIOR:
ESSAS COISAS “SERÃO CONTADAS PARA MEMÓRIA DE VOCÊS” (Mt.
26:13b)

Pr. Sérgio Ricardo Gonçalves Dusilek

1 Discurso proferido na Capela do Seminário Batista do Sul do Brasil por ocasião do Jubileu de
Ouro de formatura da Turma Dr. Martin Luther King Jr. – 1968-2018.
Que Deus abençoe suas vidas e a santifique a memória de vocês!

2 Você pode acessar esse discurso pelo link:
http://www.prazerdapalavra.com.br/component/content/article/1332/1050-darci-dusilek-discurso-deorador-
da-turma-martin-luther-king-jr-do-stbsb-proferido-no-dia-30-de-novembro-de-1968-.html

maio 28, 2020

Sobre a Tolerância

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 6:27 pm

“Se quisermos como sociedade ter um futuro ele terá de passar pela via da tolerância.
Nenhuma forma de aniquilamento do outro é cabível de aceitação. O caminho da tolerância é o caminho do futuro. Sua perspectiva é a da inclusão. E só há inclusão quando a consciência da igualdade é desperta. É formar uma oficina do saber. E como sabemos, é nas oficinas que as construções, devido a seu caráter artesanal, acontecem. Se a religião e seu ensino nos ajudam a olhar para o passado a fim de compreendermos como os valores que hoje adotamos foram recepcionados, a tolerância ajuda-nos a ter uma perspectiva, pois aponta para o futuro.
Na multiplicidade de formas e substratos sociais que caracterizam a sociedade da
modernidade tardia, é imperativa a existência de um caminho que não seja o do banimento do diferente, nem tampouco da exclusão do discordante. Essa trilha é a da tolerância e seu atalho para ela chama-se amor.”
[Sergio Ricardo Gonçalves Dusilek
Paralellus, Recife, v. 7, n. 16, set./dez. 2016, p. 411-423]

 

OBS.: Veja o pedido na coluna ao lado do Blog.

 

A História precisa ser contada.

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 6:25 pm

Recentemente tomei contato com a crítica de um líder da CBB ao que seria um julgamento anacrônico, isto é: um julgamento de ações do passado pelas “lentes” do presente. Dessa feita os lideres do passado são justificados, assim como, me parece, ele espera ser no futuro…
Esquece ele que, por exemplo, a recomendação historicista é de que um período histórico não pode ser avaliado em comparação a outro período, pois (como bem lembra Auerbach) em todo momento histórico há o potencial para sua própria evolução, inclusive para a compreensão de Deus).
Sendo assim, os atores históricos não estão isentos de avaliação. Os períodos sim, da comparação. Por isso é importante que equívocos sejam nomeados, tanto para que não se repitam os mesmos erros, como também para que eventuais reparações sejam feitas. Afinal, o erro continua sendo condenável, ainda que a prática cultural de uma época, ou ainda o olhar mais condecendente de outra, procure adoçá-lo.
Ao se recusar a ver as coisas como são (e foram) tais líderes (religiosos, por exemplo) acabam, na tentativa de salvaguardar suas organizações e “carreiras”, adotando uma postura de relativização de valores, postura esta que normalmente consideram insuportável em seus desafetos.
Verdade é também que essa postura que bloqueia a consciência plena dos fatos, recalca e internaliza tais erros na estrutura, especialmente a religiosa. São demônios que agem nas sombras: todo mundo sabe que ele está ali, mas ninguém mexe nele. Pecados estruturais passam a compor as mais diferentes estruturas. O resultado? Não há, nem haverá cura se o portador da doença crônica não se convencer que precisa de tratamento.
A Bíblia fala que Deus traz à luz, revela o que está escondido. A ciência histórica é um destes instrumentos. Pena é que as instituições não lamentem seus erros, seus líderes atuais não chorem, nem se humilhem por eles (a exemplo de Neemias), o que perpetua entre nós esse incômodo cheiro de que algo apodrece entre nós.
Nós precisamos de uma revisão histórica nesse país, afim de que:
1)soframos e choremos pelos erros do passado;
2)responsabilizemos (que haja nomeação) de quem os cometeu;
3)haja reparação daqueles que foram prejudicados
4)e sobretudo que esse processo seja finalizado e celebrado com o perdão e a reconciliação.
Feridas não saradas são reabertas e voltam a sangrar.
Pr.Sergio Dusilek

maio 19, 2020

ONDE ESTÁ DEUS?

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 8:47 am
ONDE ESTÁ DEUS?
(Daniel 3)
“Na fila para a câmara de gás (por conta da perseguição nazista), ao ver uma criança judia sendo enforcada gritou:
‘- Onde está Deus?’
Ao que alguém respondeu: ‘- Deus está naquela forca, com aquela criança!’ (Elie Wisel (1928-2016))
Uma das perguntas que traz mais incômodo à fé cristã é a de porque o justo sofre. Perceba que a questão em si não é o sofrimento, mas a injustiça de quem não o merecia passar por ele. No entanto esta é uma questão de apropriação externa,da análise e do desafio teológico, do lidar com o Mal e do fazimento de uma teodiceia possível. Enquanto isso, outra pergunta correlata,de cunho mais existencial é feita por quem está no meio do sofrimento: onde está Deus? Essa foi a tônica, por exemplo, do clamor de Jesus na cruz, ao recitar o Salmo 22:1.
Por isso é que escolhi reler Daniel 3. Três rapazes judeus são injustamente acusados e levados a sofrer uma intensa dor (essa á a figura da fornalha de fogo ardente). A acusação era verdadeira, entretanto a injustiça estava na sua natureza (cunho religioso) e na contradição com o local (Babilônia). Ao que tudo indica, não bastava ao rei Nabucodonozor sentar no trono, mas sim ser entronizado. Não bastava também ser o detentor de toda a riqueza do seu império, mas também usá-la e tomá-la tão somente para si. Quando o ouro, a riqueza de uma nação é apropriada pelo seu líder em projetos de autodeificação, e não compartilhada com seus cidadãos, temos um sério problema. Foi isso que Nabucodonosor fez ao construir uma estátua de 30m de altura por 2m de largura de ouro, instituindo um culto à sua imagem. Foi pela recusa a participar disso que Sadraque, Mesaque e Abdnego foram acusados (v.5,12).
O paradoxo é que a Babilônia é a figura bíblica e apocalíptica para tudo que contraria os valores do Reino de Deus. A pressão, o convite para a cooptação, para o erro eram tão grandes que dos 10.000 judeus levados cativos à Babilônia em 587 a.C. a Bíblia dá testemunho somente de 4 deles. Sim, a história da fé não é contada a partir das multidões, mas pelos fiéis. No lugar do malfeito, da corrupção, da futrica palaciana, três jovens judeus tinham um testemunho tão consistente, uma vida com Deus tão sólida que somente um flanco tinham: sua fé em Deus (Dn.3:16).
Para executar sua insana ordem, revelada no aquecimento de uma fornalha (7 vezes mais), o rei manda alguns de sua tropa de elite executarem a ordem. Eles a fazem com galhardia, mas morrem queimados. Os 3 jovens caem amarrados na Fornalha. Onde Deus estava que não impediu? Onde Deus estava em toda essa loucura de um governante que fez pessoas sofrerem e morrerem (caso dos soldados de elite)?
1) Deus estava e está na razão (I Pe.3:15) que fundamenta uma vida de fé que não negocia seus valores. A fé daqueles três jovens era tamanha, que não se via quaisquer flancos para a endêmica corrupção babilônica. Era uma fé íntegra, resultando numa vida de integridade.
2) Deus estava  e está nos relacionamentos profundos. Pense comigo: a ordem do rei de aquecer a fornalha 7x mais… houve um tempo de espera entre a sentença e o cumprimento dela. Ao invés deles brigarem entre si, se culparem, eles se mantiveram juntos. A pressão evidenciou um relacionamento profundo. Não murmuraram, não buscaram um culpado entre eles, nem tampouco uma fala interna de esmorecimento.O texto não diz, mas é bem possível inferir que eles seguiram se abençoando, estimulando a perseverança mútua. Honestamente falando, qual seria seu caso?
3) Deus estava e está na fé e na vida que se abre para qualquer auditoria externa, mas que se “fecha” (que dá um “fechado”) na relação com Deus (v.16). A resposta dos 3 ao rei foi de uma inigualável maturidade de fé e integridade. Eles afirmam que poderiam responder por quaisquer coisas, negócios, que estiveram sob seus cuidados na Babilônia; porém, não necessitavam responder pela questão religiosa, naquilo que foi uma versão primeira da defesa da liberdade religiosa. Ao responderem assim, se abriam para uma auditoria externa ao mesmo tempo em que reafirmavam a subjetividade e o valor intrínseco da fé em Deus.
4) Deus estava e está na fornalha. Guarde bem uma coisa: nem toda fornalha é criada por nós e incandescida pelos nossos atos. Isto é: a lei da colheita existe (Gl.6), mas nem tudo que acontece conosco se deve a uma semeadura errada. A injustiça tem esse nome justamente por ocorrer sobre pessoas boas e justas. A fornalha era da Babilônia e quem mandou colocar mais lenha nela foi Nabucodonosor.  Mas Deus não se furtou a ela. Até os mais valentes não conseguem entrar na fornalha conosco. No máximo vão até a entrada ou morrem queimados na aproximação… Isso não ocorre com Deus. Ele já está nos esperando no meio do nosso mais intenso sofrimento. Ele não nos abandona. Por vezes Deus nos livra da Fornalha; por outras entra conosco nela, dando-nos paz em meio ao sofrimento; por outras Ele nos sustenta em meio ao sofrimento.
5) Deus estava e está na entrega (v.28). Como entregar sua vida para o martírio pela sua fé, se Deus não estiver nisso? Ao falar isso não estamos dizendo que Deus queira tal violência à vida. No entanto é preciso reconhecer que dispor da vida em prol de sua crença, pode ser ato de fanatismo ou de fé. Nesse último, nesta entrega, não tem como não perceber Deus.
6) Deus estava e está no testemunho (v.29). Estamos diante do que foi o primeiro folheto evangelístico daquele tempo. Escrito por um rei pagão e lido em todo domínio do seu império. Um testemunho que alcançou boa parte do que era conhecido no mundo antigo. Nossa fornalha servirá como testemunho e como instrumento de consolação para outros (I Pe.5:9,13; 2 Cor. 1: 3-7).
A verdade é que Deus não nos abandona.  Nossa percepção pode trair essa verdade; contudo Deus sempre estará ao alcance de um clamor. Clamor este que é o grito da alma, não da boca.
Deus abençoe sua vida.
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Pr. Sérgio Ricardo Gonçalves Dusilek

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