Novos Caminhos, Velhos Trilhos

julho 31, 2015

O FIM DA VIDA.

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 3:28 pm

Qual é o fim da vida? Onde ela termina? Onde acaba a sua exuberância, a sua força? Para alguns a vida acaba na morte. Para os que tem fé “a vida nunca tem fim”. Para outros, chacoalhados pelos acontecimentos duros e abruptos, a vida terminou há algum tempo… Bom, de certa forma estas alternativas expressam uma forma de entender o fim, ou mesmo de experimentá-lo. Contudo, queria falar de outro fim. O fim do valor de uma vida. E aqui me reporto a cena mais chocante da semana: a do trem da Supervia.

Quando um corpo inerte (vivo ou morto?!!) recebe tamanha desconsideração a ponto de um trem receber autorização para passar por cima de uma pessoa, é porque a vida chegou ao fim. Quando uma decisão técnico-administrativa confere força para mover um trem sobre uma pessoa, é porque a vida deixou de ser valorizada e vivida. No momento em que uma máquina “engole” uma pessoa é porque a vida escorreu de nossas mãos, das mãos sócio-culturais. A nossa cultura perdeu a vida.

Não pense você que isso está restrito ao subúrbio. Uma vez que o fim da vida se torna um valor cultural, somos nós atingidos por isso também. Passamos a aceitar com naturalidade a morte de pessoas e a não ver o menor sinal de tragédia quando os infantes e inocentes são atingidos. Passamos a aceitar que decisões empresariais que literalmente matam são normais… E achamos que o único motivo para passeata em agosto é para derrubar uma acuada presidente e seu inescrupuloso partido. Ledo e perigoso engano. Devíamos ir às ruas não contra a corrupção, mas a favor da correção. Lembrando que toda correção nasce da valorização da vida, e que toda corrupção é uma forma de depreciação dela.

O fim da vida como valor cultural é o nosso fim como sociedade. Se Giambattista Vico falava de uma Providência divina que propiciou a formação da sociedade quando o homem deixou de ser predador e buscou constituir família, o que vemos hoje é o retorno ao estágio predatório. A vida foi assentada como valor na base da constituição social, uma vez que o predador mata, mas também morre. Foi o desejo de viver, a consciência que passa a amar mais a vida e a temer a morte (como diria Hegel), que propiciou esse lastro social. Contudo, o que vemos hoje é uma volta a tempos pré-sociais.

Só há um jeito de trazer a vida de volta. Não falo aqui de Ezequiel 37, pois isso depende exclusivamente da ação divina. Falo de sermos agentes. É preciso exigir, não a punição do maniquista,  dos operários de “trilho” que deram a ordem para o trem avançar; é preciso punir os gerentes e diretores que deram a ordem. É preciso cancelar esta concessão e repassar para outra empresa, na esperança que nela resida um pouco de humanidade. Que a vida, e não o lucro, seja o maior valor a orientar essa nova empresa.

É preciso também que as pessoas mais do que um impeachment, lutem pela vida. Que façam passeatas pela vida. Que a valorizem a ponto de não tratar a morte como um elemento comum, mesmo porque Deus mesmo não a vê com naturalidade. Para o Criador, a morte dos seus filhos é “custosa”. Talvez porque ela imprima uma descontinuidade na trajetória de alguém; talvez porque ela deixe um lastro de dor e perplexidade por trás. Fato é que precisamos nos assumir como agentes da História. Chega de relegar ao Diabo, ao Estado e aos outros a culpa pela realidade. Passemos a marchar sobre a História, sobre os acontecimentos. Quem sabe assim a vida não volta e expulsa a morte? Quem sabe não iniciemos um ciclo pela vida e derrotemos a morte?

Ainda perplexo com aquelas imagens,

Pr.Sergio Dusilek

sdusilek@gmail.com

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