“Não andeis ansiosos por coisa alguma; antes em tudo sejam os vossos pedidos conhecidos diante de Deus pela oração e súplica com ações de graças; e a PAZ QUE EXCEDE TODO O ENTENDIMENTO, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus.” (Fil.4:6-7).
Paz é uma das palavras recorrentes no texto bíblico. Sempre foi uma das marcas do povo de Deus, uma vez (ou melhor, na bíblia, por várias vezes) Ele é chamado de Deus de Paz. No Velho Testamento, Shalom (paz em hebraico) estava ligada a uma noção de justiça social. Justiça esta que dependia de um pacto pelo bem estar de todos. Era uma justiça que só poderia ser resultado da ação de Deus (imagina uma banqueiro judeu optar por cobrar juros bem abaixo da taxa de mercado…), e que na sua abrangência social viabilizava a paz. Paz então, era ação de Deus pela igualdade, ou contra os grandes desnivelamentos. Sendo assim, era circunstancial.
No Novo Testamento essa paz (eirene, no grego), ganha uma conotação mais profunda. Não que ela não deva estar presente nas relações sociais; por mais de uma vez os escritores do Novo Testamento nos exortam a “buscar a paz”, a “seguir a paz”. Nem tampouco ela se desvincula da noção de justiça. Pelo contrário! Ela se arraiga ainda mais na Justiça divina, pois a paz agora é decorrente da obra de Jesus no Calvário, e marca da ação do Espírito Santo em nós. O resultado disso? Uma paz existencial, ou usando uma categoria de Paul Ricoeur (“A vida em busca de um narrador”), uma paz que sinaliza o encontro da nossa vida com o narrador, com Aquele que elabora e dá coesão e sentido à nossa narrativa: Deus.
Mas, quais são as implicações práticas desta paz?
1) Em primeiro lugar, ela não está atrelada a circunstância. O vento não precisa ser favorável; não é preciso ter uma brisa para que sintamos esta paz. Lembra da música; “Esta paz que sinto em minh’alma, não é porque tudo me vai bem”? É exatamente isto. Para alguém de fora, que sabe quais são as nossas grandes lutas, não faz o menor sentido estarmos em paz. Ela excede ao entendimento dos outros;
2) Em segundo lugar, esta paz não é adquirida. Não a compramos. Ora, num tempo em que a tarja preta é o grande funil para uma paz (ainda que quimicamente fabricada), ou ainda o uso de drogas ilícitas para se ter momentos, “flashes” de paz, saber que há uma paz que não se encontra em nenhuma gôndola, afronta a compreensão humana. Excede ao entendimento saber que a paz é possível, que ela foi conquistada e mais, dada por Jesus a todos aqueles que querem.
3) Em terceiro lugar está no lugar onde habita esta paz. Ora, uma paz que guarde o “pensamento” de alguém num dia mau, pode até ser fruto de um processo de racionalização. Porém, uma paz que guarde as emoções (o “coração) em dias aflitivos essa excede a compreensão humana. É aquela paz que Deus coloca no nosso coração e que é irradiada para o resto do nosso corpo, da nossa vida. Já teve a experiência de receber uma notícia trágica, de enxergar um prognóstico ruim de futuro, mas ao mesmo tempo, de ver brotar no seu coração uma paz sem igual, daquelas que anunciam a Soberania de Deus e o cuidado dEle sobre nós? Eu já. É algo indescritível.
4) Por fim, e sem querer esgotar as razões de uma paz não racional (caso contrário seria ela se tornaria humana e não divina), esta paz é regada à oração, à comunhão com Deus. Se a ansiedade é, talvez, nosso maior ladrão de paz, a forma de domar esse buraco negro da alma que suga nossa alegria, nossos melhores dias, nossa paciência, nossa esperança e também a nossa paz, é manter uma vida de comunhão com Jesus. Por isso a recomendação de Paulo: Ore sem cessar (I Tess.5.17).
Para finalizar esta breve reflexão, lembro que no Novo Testamento, os textos sempre são precedidos por um desejo e voto de Paz. Sincera paz. E boa parte deles terminam desejando Paz também. Não desejei paz no início, embora tenha um versículo na entrada, mas faço isso agora: que você tenha uma semana de paz. Que o vínculo da Paz fortifique seus relacionamentos; que a comunhão em oração com Deus feche a boca desse “buraco negro” da alma, chamada ansiedade; que você experimente dessa paz que excede a todo entendimento, paz plantada e regada por Deus, mesmo que estoure a guerra nuclear entre Estados Unidos e Coréia do Norte.
Paz seja sobre você! Que Sobre você Deus levante o rosto e lhe dê P-A-Z (Nm.6:26)!!!
Pr.Sergio Dusilek