Novos Caminhos, Velhos Trilhos

fevereiro 22, 2021

A QUEM INTERESSA ESSE MANIQUEÍSMO?

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 11:39 am


Nos primeiros séculos da era cristã progrediu uma doutrina religiosa-filosófica muito combatida por Santo Agostinho chamada Maniqueísmo. Basicamente o maniqueísmo defendeu um dualismo, isto é, a existência de duas forças equivalentes e antagônicas, chamadas bem e mal. Logicamente que Agostinho precisou denunciar o elevado grau herético de tal posição. Deus é o Sumo Bem e nada se pode comparar ou antagonizar a Ele. Agostinho levou o combate ao maniqueísmo a um extremo, ao desidratar o mal. Para o filósofo cristão, o mal não tinha substância: só existe como ausência do bem. Lembro a você que gosta de florear o Armagedom que nem batalha vai ter: a Bíblia testifica que as hordas infernais serão destruídas pela Palavra. Sim, a Palavra de Deus foi o princípio Criador de tudo; a ela caberá o desfecho também.

Nesses dias de polarização, alguns ainda vivem sob os auspícios de uma Guerra Fria, onde a tensão dual capitalismo-comunismo era bem evidente. Bom, desde o desmonte da URSS com a Perestroika de Gorbachev e a Glasnost de Yeltsin, e também a “capitalização” da China, não dá mais, histórica e honestamente falando, para sustentar esse maniqueísmo político. A Guerra Fria congelou no tempo…

O melhor hoje seria pensarmos em projetos de humanidade. Independente da linha ideológica (sim, existe ideologia de direita e de esquerda; de centro, de centro-esquerda, de centro-direita, etc.), deveríamos discernir aqueles homens e mulheres públicos que se preocupam com a humanidade, com a construção de um mundo melhor. Numa linguagem bíblica, que encarnam os valores do Reino, mesmo que, por enquanto, ainda não pertençam ao Rei. O Reino e os valores do Reino independem da crença neles; são como o Rei, existem quer você queira ou não.

As eleições acabaram em 2018. Em tese não haveria motivos para polarização, entretanto o maniqueísmo teima a imperar nesse país. E isso tem uma razão primordial simples: não há nada mais a direita do que Bolsonaro. Por isso que fica fácil rotular um neoliberal direitista como Dória de petista, assim como Witzel e até, pasmem, Ronaldo Caiado. Até então, nunca houve nas corridas presidenciais, nada mais à direita que Caiado. Agora, a claque o rotula de petista… Não meu querido, um crítico do atual governo não o faz adepto, necessariamente falando de uma ideologia de esquerda. Pode ser puro bom senso na leitura do que aí está.

O problema desse maniqueísmo é que ele funciona como um meio diabólico de deslegitimar quem pensa diferente. No púlpito da Igreja onde tenho o privilégio de servir como um dos seus pastores, já pregou tanto pastor bolsonarista, quanto petista. Para nós importa integridade ministerial na transmissão da Palavra. Interessante é que Jesus ensinou para deixarem que outros seguissem fazendo  a obra, contrariando a expectativa censora dos discípulos. Muitos hoje entendem que quem não está no mesmo barco, na mesma vibe, é contra. Como se no mundo só existisse um único ou mesmo dois barcos somente…

Soma-se ao maniqueísmo a apreensão do discurso religioso. A política não se tornou uma forma de religião na modernidade (Troeltsch), mas ao transpor o uso das categorias para a apropriação da linguagem religiosa, se tornou a religião, ou pelo menos, a continuidade, a extensão dela. O resultado? Novo endosso da polarização em que o pensamento divergente agora é desqualificado como herege. Na seqüência, todos nós sabemos que está destinado a todo e qualquer herege a fogueira. Sim, vivemos tempos inquisitórios, de caça as bruxas, de obscurantismo, de intolerâncias… um tempo beligerante, do nós contra eles, que tem matado as relações e esquecido do fato de que a maior parte das pessoas não perambula pelos pólos…

É esse obscurantismo que grassa ao demonizar o pensamento crítico, ao negar a ciência, ao dar valor ao sofisma, a opinião, e não ao que os cientistas têm falado. Se a opção obscurantista representasse uma adesão de mesa, de escritório, não teríamos maiores problemas. A questão é que o obscurantismo invariavelmente redunda em mortes. E pior: quem morre não são os obscurantistas, mas sim os demais; é como acidente de carro com bêbado ao volante: mata e fere todo mundo do outro lado e praticamente sai ileso…(e olha que essa tese não é obscurantista, conquanto pareça…).

Meus queridos e queridas, não estamos mais falando em preferências políticas. Estamos em outro patamar. A questão, por conta da Pandemia, é entre a vida e a morte. Sim, continuamos num túnel aflitivo que mistura pandemia com recessão. Mas, lembre-se: entre o sábado (ou qualquer outro fator, como a economia) e a vida, Jesus sempre optou pela vida. Lembra da frase: em primeiro lugar, as primeiras coisas? Então, a primeira coisa a se  fazer é salvar vidas. 

Definitivamente esse maniqueísmo não interessa a nós e sim àqueles que controlam, disputam e mantém o poder por tais narrativas.  A nós cabe não brincarmos com a vida, nem acolhermos, por mais que gostemos das pessoas, palavras e orientações que a coloquem em risco. Pense nisso sob a orientação e benção de DEUS

Pr. Sérgio Ricardo Gonçalves Dusilek /// sdusilek@gmail.com

fevereiro 19, 2021

HÁ LIMITES PARA A COMPETÊNCIA DO INDIVIDUO?

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 1:01 pm

HÁ LIMITES PARA A COMPETÊNCIA DO INDIVIDUO?

[OS BATISTAS E SEUS PRINCÍPIOS]

Pr. Sérgio Ricardo Gonçalves Dusilek

Igreja Batista Marapendi-RJ

sdusilek@gmail.com

Um dos princípios mais caros aos batistas é o da competência do indivíduo. Por ele os batistas ajudaram a cristalizar dois caríssimos conceitos da Modernidade: a liberdade e a responsabilidade. Ao afirmarmos a competência do indivíduo estamos expondo uma compreensão de que o ser humano é capaz de escolher seus caminhos e mais ainda, arcar com as responsabilidades advindas dessas opções.

Mas a questão é: há um limite para essa liberdade humana que encontramos na competência do indivíduo? Quero sugerir a você, caro leitor, três limites, numa lista que não se esgota por si mesma.

O primeiro deles, de caráter mais teológico, aponta para um limite à liberdade da humanidade como um todo. Se a História caminha para um ponto não crítico, mas Crístico, não pode caber ao ser humano decretar o final de sua espécie. O fim da História precisa acontecer pelo fim do desvelamento divino, pela chegada no ponto “ômega”, e não por um tropeço ou por um deslize humano. Entendo que mesmo que Deus permita (lembrando que a permissão de Deus é sua inação) que o ser humano dê fim à Sua Criação, isso terá mais feições de um processo do que de um acidente.

O que estamos tentando afirmar é que, se pelo lado filosófico concordamos com a tese esboçada por John Locke de que Deus na Sua Soberania se autolimitou, pelo aspecto teológico precisamos reconhecer que nem Deus, nem a História se tornaram reféns da liberdade humana. Quando muito, a História é consequente a esta liberdade. Sim, a liberdade humana está inclusa num diapasão, ou se preferir, num intervalo matemático, só que divino.

O segundo limite eu denomino aqui extra temporal. Sob essa classificação quero simplesmente defender que o que nos transcende, o que está para além da dimensão temporal não está sujeito a nós. Nós não “movemos o sobrenatural”, não temos como manipular o Eterno, nem tampouco o que está sob a égide da eternidade.

A implicação prática deste segundo limite? Cremos como batistas que somos incapazes de nos salvarmos. A nossa maior competência é no final das contas, assumir a nossa total incompetência, o nosso fracasso. O indivíduo, portanto, não se salva, mas tem competência para escolher o caminho da salvação, para aceitar a Graça de Jesus. No dizer de Locke, “Deus mesmo não irá salvar alguém, a menos que este o queira”.

O nosso limite se manifesta também na direção do outro. Ora, se alguém não consegue se salvar, muito menos ainda terá êxito em salvar um terceiro. Tal noção remete a algo claro e caro para os batistas: o convencimento se dá pela ação do Espírito Santo e não pela imposição de alguém, de uma figura de autoridade ou mesmo do Estado. Isso é importante de ser assinalado. Ao contrário dos fundamentalistas que desejam impor sua visão de mundo e inclusive forçar, por vezes a conversão alheia (um exemplo clássico disso na história recente foi o martírio de cristãos pelo ISIS), os batistas respeitamos a escolha individual, mesmo que discordemos dela. Inclusive defendemos o direito à liberdade religiosa, a outro tipo de culto (e aqui fomos além de Locke), mesmo que discordemos do conjunto de crenças da religião do outro. Defesa do princípio da liberdade religiosa, herança do DNA batista na modernidade não significa amalgama de crença. Significa respeito ao outro e reconhecimento da mesma dignidade que temos no direito do outro em fazer suas escolhas.

Importante salientar que essa questão fundamentalista não está restrita ao islamismo. Os cristãos tivemos momentos fundamentalistas na história. Os batistas, vez por outra flertam com um fundamentalismo de verniz protestante. Relembro novamente Locke: “não cabe ao Estado se imiscuir nas questões espirituais/religiosas”. Devemos pregar o Evangelho, mas sempre à margem do Estado, jamais pelo Estado, como bem exemplificou Jesus. É a força do argumento e não o argumento da força, como diz o professor Urbano Zilles…

Para terminar, há um terceiro limite à competência do indivíduo: o que chamo aqui de intra-eclesial. Através dele quero defender a tese que, embora tenhamos preferências políticas, e alguns até filiação partidária, a igreja é apartidária. Tenho dito na Igreja que pastoreio que o partido do profeta é Deus e Sua Justiça. Diante disso a convivência comunitária precisa transcorrer respeitando as diferenças de percepção política, sem, pelo menos no ambiente eclesiástico, demonizações de ideários de direita ou de esquerda. Somos competentes para exercer a nossa cidadania e para manifestar tolerância com a opinião divergente.

Historicamente sempre houve líderes batistas progressistas e também conservadores. Na primeira metade do século XX, alguns dos maiores filósofos sociais defenderam a tese de que os batistas eram progressistas. Seu ideal de igualdade, sua forma de congregacionalismo, sua preocupação social e com a sociedade apontava para esse elogioso (sim, enquanto Ernst Troeltsch, por exemplo, criticava os presbiterianos, luteranos, ele rasgava elogios a nós batistas) caminho. Talvez porque como batistas levemos muito a sério, pelo menos nos nossos púlpitos, o desejo de reeditar a koinônica Igreja Primitiva. A experiência igualitária mais sensacional que o mundo viu, mas que durou somente três capítulos…

Os batistas, como denominação, não somos, nem devemos ser de direita, ou de esquerda. O dia que formos de algum lado, deixaremos de ser de Deus. É preciso respeitar a competência do outro, a liberdade do outro em fazer sua opção política. De igual modo é preciso evitar a perseguição alheia por conta de divergência política. É possível ser cristão de direita, assim como é possível ser cristão de esquerda. Se é desejável ou não, isso remete ao gosto, a preferência de cada um. Verdade é também que é mais comum encontrarmos os que são de posicionamento político de centro, ou mesmo de uma social democracia, como é o caso dos países (protestantes) da Escandinávia.

No ambiente eclesiástico não somos de partidos. As facções são obras da carne (Gl.5:20). Na Igreja somos militantes da paz, que uma vez embebida na longanimidade, mansidão, domínio próprio e no amor (Gl.5:21,22), transborda em comunhão, vida e salvação (João 17:21) em nossas comunidades de fé. É primeiramente na vida da Igreja que nossa moderação, como dizia o apóstolo (Fp. 4:5) deve ser conhecida. Que assim seja.

fevereiro 15, 2021

https://www.batistasporprincipios.com.br/

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 10:43 pm

Recentemente recebi o link do blog acima. Gostei tanto que recomendo a você.

Vale muito a pena acessá-lo.

Abração.

fevereiro 10, 2021

QUEM ESTÁ NO CONTROLE?

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 1:54 pm

No mundo capitalista há sempre alguém no controle.  Não se iluda com a invisibilidade que conduziria o mercado, fábula contada por Adam Smith. O mercado tem seus mecanismos de controle,  suas cláusulas de barreira, seus limites técnicos, seus órgão de controle. Além disso normalmente lá, no Olimpo, estão os tubarões. 
Não há nada absolutamente livre no mercado. Há gestões,  comissões e, sobretudo, interesses. Quando um grupo faz, dentro da legislação (ou da brecha dela) um ataque especulativo como no recente caso da Rede GameStop, no qual pelo menos um tubarão branco foi vitimado pelas “piranhinhas” do mercado, o controle se manifesta. Não há essa liberdade toda…
Então a questão que deveria regular nosso pensamento é quem deve estar no controle. O governo federal falou nessa última semana que ele não quer interferir na política monetaria do Banco Central, nem na política de preços da Petrobrás. Uma autonomia de um presidente como este que temos sempre parece ser positiva… No entanto, esta autonomia, que nunca é plena como vimos, representa uma transferência de controle. A pergunta que devemos fazer é: interessa aos brasileiros que o mercado externo, que esses grandes tubarões do capital transnacional deem as cartas? Isso não representaria uma forma institucionalizada de colonialismo financeiro?
Talvez a autonomia de uma Banco Central faça jus aos paises ricos, do primeiro mundo, “donos” do capital mundial. Construída ao longo de décadas, com um sistema financeiro pujante que concentra boa parte das riquezas monetárias do mundo. Mas faz jus ao Brasil nosso? Faz jus ao colonialismo que ainda “impera a lista”? Tenho muita preocupação com a defesa de uma política monetária que se volte para os interesses de gente sem coração, capaz de abandonar uma multidão. 
Pensemos agora na Petrobras.  Ela é uma estatal e como tal serve ao governo, isto é,  ao melhor interesse do povo brasileiro. Como empresa, não é bom que dê prejuízo. No entanto, como estatal, também não é bom que, às custas do povo brasileiro, conceda altissima remuneração aos seus acionistas. Não cabe ao governo inviabilizar a Petrobrás, assim como não cabe ao governo permitir que o mercado inviabilize o povo brasileiro. Não controlar os preços do gás de cozinha, dos combustíveis, entre outros, é transferir o controle para quem não possui empatia: sim, o dinheiro não verte uma lágrima pelo infortúnio de alguém.  Sem contar que nunca vi a paridade cambial diminuir o preço para o consumidor final composto por brasileiros.
A verdade é que temos um governo marionetado por outros interesses, que aliado a sua incompetência quase sistêmica (o quase é por conta de um ou outro caso que salva como parece ser o caso do Ministro Tarcísio) está esfarelando o país.  Quando essa nação virar pó o capital, que sempre se esconde sob o anonimato de um “Fundo”, irresponsávelmente sairá. Afinal, dinheiro não tem amor, tem amante; não vive em casas, mas, e aqui peço perdão aos mais pudicos, em motéis. E o Brasil ,”dona Bela”, é um excêntrico motel.

fevereiro 4, 2021

AS SOCIEDADES FEMININAS E AS NOTAS DENOMINACIONAIS.

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 2:55 pm

Eu fico pensando como estão as organizações religiosas responsáveis pelo trabalho com as mulheres das denominações que assinaram as respectivas notas, ao ver, menos de 1 semana depois, que o presidente defendido comprou por 3 Bilhões a eleição do novo presidente da Câmara dos Deputados, sobre o qual pesa, entre outras, seríssimas acusações de violência doméstica contra sua (“primeira”) esposa. Fico imaginando as irmãs que estão sob os grilhões infernais da violência doméstica, sofrendo caladas em suas igrejas… tal fato não reforça a mordaça? Não prolonga a violência? Se minha impressão estiver correta, seria essa a mensagem que tais organizações quereriam passar para as mulheres que pretendem abençoar? O feminicídio, triste e previsível fim nesses casos, é o caminho a ser reforçado pela imposição do silêncio?

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