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abril 10, 2023

O que há em comum entre as “grandes” lideranças evangélicas (pastores e pastoras, bispos e episcopisas, “apóstolos”) que apoiam o atual governo?

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 8:41 pm

O que há em comum entre as “grandes” lideranças evangélicas (pastores e pastoras, bispos e episcopisas, “apóstolos”) que apoiam o atual governo?

1) São lideres de reconhecido (e questionado) sucesso ministerial: possuem muitos seguidores, membros até.

2) São lideres que por conta disso ascenderam socialmente e hoje ostentam um patrimônio não muito condizente ao labor sacerdotal. Isto faz com que tenham medo de perder o que amealharam; tal pavor fez com que muitos deixassem de curtir qualquer massa “ao sugo”;

3) São lideres que mesmo uma vez tendo sido feito pastores (a long time ago), perderam o cheiro da lã. Os “ministérios” cresceram tanto que muitos, sem perceberem, se tornaram gerentes eclesiásticos, diretores de corporações religiosas. Não tem mais contato horizontal com as pessoas… quando há contato é verticalizado, idolatrico, quase mítico; por isso não conseguem mais ouvir o gemido do pobre, do oprimido.

4) São lideres pragmáticos; e como tais, possuem um fino faro para as novas trends/tendências. Eles sempre embarcam na última onda. Eles surfam melhor do que Slater, Medina, etc. Não espere coerência deles; cobre sim a “onda perfeita”.

5) São lideres dos quais muitos vieram de lugares impensáveis, improváveis. Sim, o Evangelho não só transformou suas vidas, mas resignificou suas histórias! Por isso, com raras exceções, possuem baixa autoestima (devido ao dificil começo), o que os faz ceder até com relativa facilidade e acriticamente, às setas oriundas do espaço público.

6) São líderes com alguma deficiência na formação, especialmente na Grande área de Humanidades. Embora boa parte teólogos, pouco sabem sobre Direitos Humanos e nem imaginam que a base dessa discussão é, para os grandes teóricos do assunto, cristã, neotestamentaria e evangélica (oriunda, pertencente aos evangelhos). Para muitos a teologia ainda é um dizer “de” Deus ou “sobre” Deus, esquecendo-se das aulas de antropologia teológica, as quais nos lembram que a teologia é um labor humano… Quando eles têm currículo Lattes, administram-no como se plataforma “witzel” fosse.

7) Boa parte desses líderes estabelecem relações com politicos clientelistas, buscando benefícios próprios ou para sua agremiação religiosa. São uma espécie de “Eurico Miranda” da fé, sempre lutando pelo seu “Vasco”. Não custa lembrar que o clientelismo sempre será maior quanto mais fraco for o governo, quanto mais raquítico forem seus índices de aprovação.

8) São lideres que esqueceram ou nunca conheceram o princípio protestante da liberdade. Para eles, sempre que julgarem necessário, como na época do apoio à Ditadura, restringir as garantias individuais (inclusive a liberdade de expressão) em nome da preservação da “liberdade religiosa”, eles o farão, sacralizando toda forma de perseguição, opressão e violência.

9) São lideres que encontram-se desconectados do espírito do Evangelho. Não poucas vezes lêem os evangelhos como receituário de Coaching. Reduziram Jesus, ao traduzirem-no como uma sentença, um dogma. Já a conversão foi transmutada numa adesão por um assentimento intelectual. Esquecem-se tais lideres que Jesus é muito maior.

10) São lideres que ora pela extrema ingenuidade, ora pela mais pérfida malícia, aspiram uma teocracia cuja inspiração repousa tanto no reinado davidico, quanto no escatológico devaneio dispensacionalista. Em nome dela, vendam seus olhos para os sinais claros e evidentes de que Deus não se encontra nos palácios, ainda mais quando habitados por opressores.

11) São lideres que se acomodaram, apesar da intensa agenda de atividades que possuem. Lideres acomodados, acomodam pessoas e incomodam o Espírito. Um vez acomodados, se tornam reféns do comodismo: deixam de ser profetas, evitam tocar em certos assuntos, deixam rolar o jogo que agrada a maioria.

12) São lideres que infelizmente flertam com ou se alimentam do fundamentalismo, como se o entricheiramento por este produzido pudesse traduzir, mais do que a marcha triunfante, a marcha confessante de uma Igreja que deveria manter sua consciência oxigenada pelo mais puro ar celestial.

13) Por fim, numa lista que não se esgota em si mesma, são lideres que, via de regra, se deixam levar por uma pauta moralista. Não choram a fome do miserável, mas praguejam contra todo aviltamento de cunho sexual. Não se pronunciam contra o assassinato de crianças, mas rapidamente soltam notas, vídeos, posts contra qualquer atividade cultural que peque pelo que julgam ser excesso. Um Jesus machão e matador/assassino, não produz uma linha, uma nota; mas um afeminado de paz ganha contornos de blasfêmia… Não se pronunciam sobre feminicidios, rascismo, homofobias, mas adoram escrever sobre atentado violento ao pudor… seja por desconhecimento ou por maldade mesmo, esquecem que desde sempre, especialmente no âmbito do cristianismo, a agenda moralista foi usada por justamente quem não tinha moral, para cooptar os cristãos visando a perpetuação no poder. Sim queridos e queridas! Em nome da moral e dos bons costumes (que não são respeitados por muitos desses líderes), imorais mantiveram a consciência cristã reduzida, acorrentada e atrelada a questões menores, porque em grande parte individuais.

Pr. Sergio Dusilek

sdusilek@gmail.com

[Texto Publicado no Facebook em Dezembro de 2019].

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