Faz tempo que não escrevo sobre a Missão Integral. Como ideário, se é que podemos falar assim, percebo-a como mais próxima do conteúdo bíblico. Seus termos são abrangentes, seu desafio enorme. Seus lemas, suas máximas… provocadores demais pois nos convidam a uma santa desinstalação. Contudo, tenho observado a mediocrização da Missão muito do qual motivado por aqueles que sem saber o que é, acham “cult” dizer que fazem parte.
Há um reducionismo sobre o contéudo da Missão Integral (MI). Alguns acham que Missão Integral é fazer incursões a bolsões de pobreza. Tentam travesti-la como um evento. Marcam uma bela de uma ação social na favela e espalham por aí a comunicação que vão fazer e pior, que já fizeram.
Para você ter uma idéia, cerca de dois meses atrás as redes sociais replicaram uma foto de dois líderes da MI no Brasil numa favela carioca. E o pessoal dizendo: por isso que gosto desses caras. Ora, não entenderam que aquele fora um evento. Tanto é que sobre o líder daquele trabalho que gasta seus dias naquela comunidade visitada, nada se falou. Em tempos de “marketeamento” da MI, até os “coxinhas” ganham “cheiro” de povo. Nada que um bom banho não resolva depois.
É fato que a Missão Integral vai levar voce para a Margem e nela voce fatalmente encontrará os marginalizados. Mas dizer que realizar eventos, programas na favela é missão integral, é de um reducionismo gritante.
Outros pensam que ser da Missão Integral é declarar uma opção política, pelo viés do Socialismo. Ora, condicionar a Missão a um viés doutrinário-político é reduzi-la. Concordo com muita coisa que a Teologia da Libertação disse: que precisamos lutar pela igualdade, pela inclusão, pela participação cidadã de todos, pela luta contra os sistemas que produzem impiedade. Mas discordo veementemente com a partidarização de um ideal. Quando um ideal é apropriado por uma pessoa ou por um grupo ele se torna um bem. Nesse momento o bem comum se torna propriedade. É a conversão do Socialismo no Capitalismo. Não é assim que os múltiplos partidos de esquerda agem e fazem? Todos dizendo que eles é que são genuinamente socialistas, puramente comunistas, querendo apropriar-se de um bem, só que comum.
Ideais são para serem encarnados e não apropriados (leio aqui esse termo não na ótica hermenêutica de Heidegger, e Ricouer, para ficar em dois exemplos). O que vemos hoje é um “apossamento” de ideais, inclusive quando se fala sobre Missão Integral.
Confesso que fico extremamente incomodado com a turma da MI que defende o governo petista sob o auspício de que é para os pobres, de que procura ter um “Brasil para todos”. Jamais esse país será “para” enquanto não for “de” todos. Sob as migalhas do status político ou mesmo sob as migalhas de algum tipo de recebimento ($), alguns defendem um governo injusto que tenta “””promover justiça””” (o excesso de aspas é proposital). É aquela noção, já que a bandeira é vermelha, vamos apoiá-la. Lembro a voce que as cores de São Jorge, tal como celebrado na parte afro da religião também são vermelhas. Nem tudo que é vermelho é social…
Missão Integral é viver como JESUS viveu. Encarnar seus valores que são os Valores do Reino de Deus. E são do Reino porque são do Rei – Jesus. Isso implica em primeiro lugar numa justiça pessoal – viver dignamente, porque o Evangelho é Digno (explico nesse “aposto” para não dar margem a interpretação equivocada). Compreendo que há um Dignidade única e intrínseca no Evangelho. Mas defendo que o Evangelho é de uma dignidade dignificadora, isto é, seu imenso valor produz uma consciência em nós do nosso valor e também do valor que devemos dar a uma vida reta diante do Senhor. Há que haver também uma justiça missional – encarnar os ideais da Justiça e levá-la por onde quer que peregrinemos. Por fim, numa lista não esgotável em si mesma a justiça social que visa promover a valorização da vida, do humano, e não coadunar com qualquer forma de injustiça, seja ela pessoal, relacional, eclesial ou mesmo político-social.
Isso é tão sério, e tão difícil que somente um viveu plenamente (e aqui me lembro de Nietzsche) essa verdade até hoje: Jesus Cristo. Nietzsche dizia que o último cristão que o mundo viu (que também foi o primeiro) acabou morrendo numa cruz. De fato, todo cristianismo sério, toda encarnação da vida e da beleza que há em Cristo nos leva para alguma dimensão da cruz. A vida se instala com algum tipo de morte.
Termino convidando voce a que tenha como paradigma o próprio Jesus e não os líderes da MI no Brasil e fora dele. Que esses líderes sejam respeitados como referências e não como modelos. Que tenhamos a liberdade de lembrá-los também (e por que não?) do paradigma de todos nós.
Por uma Missão não reduzida!
Pr.Sergio Dusilek
sdusilek@gmail.com