Novos Caminhos, Velhos Trilhos

janeiro 25, 2023

O SEQUESTRO DE UM REQUERIMENTO.

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 12:09 am

O SEQUESTRO DE UM REQUERIMENTO.

Na 102ª Assembleia da Convenção Batista Brasileira (CBB) realizada em Recife em Janeiro último, um grupo de ilibados líderes apresentou um requerimento à Comissão de Assuntos Especiais (você pode ler a íntegra aqui: https://www.batistasporprincipios.com.br/2023/01/21/requerimento-a-convencao-batista-brasileira/), para que o grave desregramento institucional e inaceitável espírito inquisitório manifesto na Nota Institucional da CBB, assinada por sua Diretoria contra o Pr. Sergio Dusilek, fosse revisto, os danos reparados e os controles melhorados para que nunca mais tal equívoco viesse a acontecer.

Como requerimento, posso afiançar a você que ele está perfeito na sua redação e na sua proposição. Seus argumentos por si só se sustentam. Seu trâmite se deu pelo caminho certo, mesmo porque o proponente que encabeçou o texto é profundo conhecedor do Regimento Interno da CBB.

O requerimento se fez necessário diante do silêncio (ou descaso?) do Presidente da CBB frente a Carta (leia aqui: https://sergiodusilek.wordpress.com/2023/01/02/sobre-a-nota-oficial-da-cbb-contra-pr-sergio-dusilek/) que o Pr. Edvar Gimenes enviara a ele por ocasião da feiura-feitura Nota Institucional contra o ex-presidente da CBC. Como requerimento, ele incorpora o texto da carta, mas a supera por conta de sua abrangência.

Uma palavra mais deve ser colocada como esclarecimento extra. Por ocasião da confecção da nota institucional, embora o presidente e outros membros da diretoria tivessem meu contato, não fui procurado por eles nem antes, nem durante, nem após a sua confecção e publicação, o que remete ao claro descumprimento de Mateus 18. É verdade também que no privado, após questionado sobre a mensagem que pregou na 1ª sessão da Assembleia, o atual presidente da CBB fez uma mea culpa, sem ter no entanto o caráter dos grandes homens de assumir seus “BO’s” em público.

Isto posto sigo agora mostrando e desmontando para você, o parecer da Comissão de Assuntos Especiais que versou pela inadmissibilidade do requerimento ora apresentado.

  1. Sobre a indevida titulação aposta sobre o requerimento, a saber: “Pedido de Desculpas Relacionado à Nota da Diretoria da CBB referente a Pronunciamento de Terceiro”. Não cabe a uma Comissão mudar um requerimento, mesmo que seja para lhe conceder um novo título. Pior ainda, quando o novo título vicia o processo, pois nega o teor abrangente do documento.

Não se tratava, portanto, somente da reparação ao Pr. Sergio, mas sim de uma discussão mais ampla sobre os cuidados e limites que um presidente deve ter ao se pronunciar.

Uma vez que o documento não tratava exclusivamente do caso do Pr. Sérgio, mas exemplarmente daquela situação criada, não deveria ser por ele redigido, como a Comissão parece ter assinalado. Mesmo que ele produzisse tal documento, como ele seria apreciado por uma Assembleia Convencional, se a única janela existente seria a da Comissão de Assuntos Especiais, que exige no regimento a assinatura de cinco mensageiros? Como outras 4 pessoas assinariam, para atender à orientação da Comissão, um requerimento de reparação de caráter pessoal? Você ainda acha que seria levado a apreciação do plenário?

Perceba que a Comissão laborou em duplo erro: ao mesmo tempo em que reduziu o requerimento a um único aspecto, a saber, da reparação, ela, na sua proposição pela inadmissibilidade, inviabilizou qualquer outra forma de tal assunto tramitar no âmbito convencional.

2. Dizer que o requerimento estava em desacordo com o Regimento da CBB o que, segundo a Comissão, teria sido declarado pela Assessoria Jurídica da Convenção, é um gravíssimo erro. O artigo 44 do Regimento Interno da CBB traz no seu inciso III a clara tarefa de dar parecer sobre “qualquer assunto de caráter eventual”. Ora, o que é um assunto eventual? Eventual é todo assunto que um grupo de signatários de pelo menos cinco mensageiros inscritos na assembleia julgue ser de pertinente trato, mas que foge ao corrente fluxo das matérias a serem apreciadas nos relatórios. É um assunto fora dos relatórios, atinente ao último período denominacional e que tem a ver com a vida denominacional da CBB.

A Nota Institucional emitida pela Diretoria da CBB em Setembro de 2022 é um assunto ao mesmo tempo especial e eventual. Caberia, então, à Comissão dar seu parecer sobre a mesma, recomendando ou não sua aprovação, ou dando um encaminhamento para o requerimento.

3. É de se estranhar que um documento que teve um parecer por sua inadmissibilidade, ganhe tantos reparos e explicações. Uma das proposições do requerimento era: “Que o Conselho informe na próxima Assembleia se há alguma decisão sua ou de alguma Assembleia da CBB definindo qual seria o posicionamento político-partidário-ideológico de CBB”. A resposta da Comissão impugnou a viabilidade deste item uma vez, segundo ela, ser vedado tal pronunciamento pela Declaração Doutrinária da CBB, e pelo Princípio da Separação entre Igreja e Estado.

O que a Comissão, entretanto, não explicou foi o festival de manifestações nas redes sociais (da CBB inclusive), em igrejas e assembleias, por lideranças e presidentes, desde 2018, sempre a favor de Jair Messias Bolsonaro, sem que houvesse uma única nota institucional ou de reparo nesses casos, sendo alguns deles citados como exemplos no próprio requerimento. O que ela não explicou foi o porquê da tolerância com o vídeo de saudação de Bolsonaro à Assembleia reunida em Natal (2019), bem como o espaço dado a um dos auxiliares da Ministra Damares, pregando na mesma Assembleia, para inclusive saudá-la em nome deles.

O que está por trás deste ponto do requerimento é exatamente saber, diante da clara “balança enganosa”, onde se deu e qual foi a posição adotada pela CBB. Porque o apoio a um candidato é aceito e ao outro não, se institucionalmente, ela deveria (segundo a Comissão) condenar os dois, ou permanecer silente diante dos dois.

4. A Comissão, então, se escorou na decisão do Conselho em referendar tal Nota. Ora, é preciso lembrar que, se o Conselho é o poder máximo decisório no interregno entre as Assembleias da CBB, são as Assembleias que possuem o poder maior inclusive para rever e desfazer decisões do Conselho, caso assim deseje. Ou os batistas se tornaram presbiterianos agora?

5. Talvez a maior pérola desta Comissão tenha sido sua tentativa de blindar o presidente da CBB. Primeiro, porque nem o atual Regimento (art.25), nem o atual Estatuto (art.9º) conferem ao Presidente da CBB o poder de fazer pronunciamentos, como a Comissão ERRONEAMENTE alegou. Segundo, porque mesmo que fosse facultado em termos regimentais tal ação, ela, como todo ato administrativo, é passível de questionamento. Ou consideramos a cadeira da presidência destinada aos perfeitos? Ou divinizamos a presidência? Não pode uma diretoria incorrer em excesso de mandato?

No mais, a Comissão de Assuntos Especiais cometeu grave erro ao considerar o pronunciamento público outrora realizado como necessário. Ao opinar sobre o mérito da Nota a Comissão que deveria ser isenta, mostrou ter partido. Vale lembrar que o Requerimento apresentado desmonta, nas sete alíneas iniciais, toda base legal, regimental, bem como a pertinência da tal Nota.

6. A Comissão errou flagrantemente ao afirmar que o requerimento formulado se reporta ao último processo eleitoral, dando-o como matéria vencida. Bom, cabem aqui duas pontuações:

6.1) Primeiro, que a matéria não estava vencida, uma vez que o exemplo evocado no requerimento ocorreu no transcurso do ano denominacional anterior.

6.2) Segundo, porque o requerimento não se reporta ao processo eleitoral, mas à Nota Institucional emitida pela Diretoria da CBB, patrocinada por seu Presidente.

7. Por fim, alegaram inexistir nos documentos constitutivos da CBB uma disposição tal que autorize um mensageiro a fazer requerimento em nome de terceiro. Ao notar a insistência nesse primeiro argumento, rebatido no item 1 acima, é necessário ressaltar que também não há nenhum dispositivo, nos documentos da CBB, que verse sobre um pretenso direito de resposta. A Comissão leva o plenário a erro ao omitir esse dado.

O resultado? O parecer e o requerimento foram sequestrados pela mesa, tendo seu paradeiro desconhecido até o momento. Tal procedimento é indevido, uma vez que, observados os trâmites e cumpridas as exigências, ele precisa ser apreciado pela Assembleia, podendo ela aceitar o requerimento, rejeitá-lo, ou ainda encaminhar para o Conselho da CBB, ou entregar a uma outra Comissão.

Um detalhe: a Comissão tinha na sua relatoria um ex-presidente da CBB, fato este que me parece ser inédito para a função. Pessoalmente, nunca tinha visto um ex-presidente ser rebaixado a esta função, nem tampouco se prestar a esse tipo de papel, diminuindo sua estatura. Sim, tem certas ações que são como o encolhimento dos discos entre as vértebras: no final da vida, ao invés daquele líder estar maior, percebemos que ele ficou menor, diminuiu de tamanho.

Termino esse texto afirmando da minha tristeza pessoal ao contemplar tantos vícios, maquinações, meias-verdade numa Assembleia que se propunha proclamar a verdade. De fato, é bem contraditório, e reitero aqui, um presidente que em setembro último cancela indevidamente um pastor e em Janeiro sobe ao púlpito para pregar, para um plenário esvaziado, sobre a Unidade e afirmar que devemos evitar os cancelamentos por questões políticas (???!!!!!!!). Não deve ser cinismo, nem hipocrisia; imagino de que deva ser culpa, sequela, da Covid-19.

Aqui jaz, na esfera denominacional, esse assunto para mim.

Pr. Dr. Sergio Dusilek

janeiro 4, 2023

STBNB como POLO do STBSB???? ou QUAL A DIFICULDADE DA CBB COM O NORDESTE?

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 11:13 am

QUAL É A DIFICULDADE COM O NORDESTE?

Sérgio Ricardo Gonçalves Dusilek

O problema da atual direção da CBB (executivo e Diretoria) é que, ou não percebem a distorção que estão criando, ou o fazem de modo deliberado, o que é muito pior. Compartilho o texto do Dercinei e abaixo um arrazoado regimental que resolve esse problema de uma vez, pela raiz.

“Se a unificação dos três Seminários da CBB se concretizar, além de acabar com toda e qualquer diversidade, e consolidar a monocultura de um fazer pastoral (de mercado), também padronizará um desfazer teológico (de viés fundamentalista), e marcará de forma definitiva a transição do modelo denominacional, do presidencialista para o parlamentarista, sob o comando de um diretor plenipotenciário (alinhado à ordem sacerdotal batista).

Acha que estou exagerando? Se um executivo denominacional – que não é o Presidente, nem o Diretor Executivo – controla a formação de quase todos os pastores da CBB, dirige a vantajosa máquina de marketing missionário e administra boa parte do orçamento denominacional, ele não é, com todo esse capital político, de fato, um primeiro-ministro?” @DERCINEI

O que parece mais estranho é pensar que o Nordeste, ou mesmo oriundo do STBNB não tenha nenhum ex-aluno, capaz de dirigir o Seminário do Norte. Por que as virtudes vêm do Sul? Por que somente no Sul do país há teólogos e administradores? Seria isso um resquício xenófobo, uma punição, e forma futura de manipulação política por conta da votação majoritária da região no PT nas últimas eleições? Não seria essa opção uma forma de reforço do estigma sobre o Nordeste? Seria o Nordeste nossa nova Nazaré? Ao esquecer que os estigmas sociais promovem injustiças e cancelam verdades eternas (Jesus sai de Nazaré para iniciar seu ministério), a atual liderança da CBB sinaliza um diapasão que ora oscila entre o desprezo por uma região do Brasil que tantos e renomados líderes batistas forneceu, ora para seu próprio despreparo como direção da Convenção ao buscar soluções mais acessíveis e fáceis, desconsiderando assim a pluralidade batista (especialmente a de caráter regional).

Por que a atual CBB despreza o Nordeste e a grandeza do STBNB?

Penso que o caminho para solucionar este problema passa, necessariamente por uma correção regimental. Sim, prezados, estamos fora da nossa própria Lei. Antes de se pensar em unificar o comando dos seminários e do currículo, o que assinala um profundo desconhecimento administrativo-pedagógico-teológico por quem patrocina esta ideia, é preciso regularizar a atual situação do próprio STBSB.

Antes, é preciso destacar que, inicialmente, iria encaminhar esse arrazoado diretamente para a diretoria da CBB. Mas depois da sua predileção por minha pessoa, achei que minha contribuição seria destinada ao arquivo morto. Por esta razão, eu resolvi publicá-la no blog.

Considerando:

a) que o Diretor da JMN, foi convocado pela então diretoria da CBB para tomar posse como “diretor interino”do STBSB, visando equacionar sua grave crise;

b) que o Conselho da CBB, em sua reunião de Junho de 2017 aprovou tal medida, encomendando “um projeto para cinco anos” (no registro da ata: “o qual deverá apresentar na reunião do Conselho, em Novembro, um projeto sobre o que queremos para o STBSB, para os próximos cinco anos”);

c) que em sua ata de posse de 22/06/2017, consta a nomeação como “Diretor Geral Interino”;

d) que o prazo deste interinato já se prolonga para além dos cinco anos acertados inicialmente por decisão do Conselho da CBB, o que além de descumprir uma decisão inicial, descaracteriza a própria ideia de um interinato, este destinado a prazos menores;

e) que, segundo o relatório prestado no Conselho da CBB pelo Diretor Interino, o “STBSB encontra-se hoje em equilíbrio” (Conselho da CBB, Relatórios, Abril/2022, p. 141) e com boas perspectivas de novos superávits, recompondo seu combalido Patrimônio Líquido;

f) que ao reconhecido ganho administrativo e de marketing com a nova gestão, não correspondeu sua equivalência no campo teológico. Isto pode especialmente ser percebido no visível empobrecimento do novo currículo do STBSB aprovado na última assembleia (2022);

g) que tal alteração curricular visou atender primeiramente aquilo que a JMN julga ser importante, e não o que um curso de Teologia deveria requerer e conter;

h) que segundo o artigo 19 do Estatuto da CBB e o artigo 67 do Regimento Interno, tanto o STBSB quanto a JMN são organizações executivas da Convenção, não podendo haver relação de subordinação entre elas, nem tampouco a mudança do status para auxiliar;

i) que o artigo 16 do Estatuto, no seu inciso III, alínea “b”, atribui ao Conselho Geral a eleição do novo Diretor Geral do STBSB;

Penso, então, ser oportuno que o CONSELHO da CBB NOMEIE UMA COMISSÃO PARA QUE PROCEDA A ESCOLHA DO NOVO DIRETOR GERAL DOSTBSB, ainda em 2023. Em razão disto, toda a discussão sobre a centralidade administrativa da teologia, que transforma o STBNB e o STBE em polos do STBSB, deveria ser postergada, quiçá deixada de lado.

Reitero: pessoalmente considero um erro transformar o grande STBNB como polo do STBSB. Uma Convenção que se pretende ser forte e nacional não se constrói desprezando uma região que tantos ícones forneceu ao Brasil Batista. É de bom alvitre assinalar que a Convenção Batista Brasileira não é uma convenção do Rio de Janeiro. Nem deveria ser.

janeiro 2, 2023

SOBRE A NOTA OFICIAL DA CBB CONTRA PR. SERGIO DUSILEK.

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 2:47 pm

O texto abaixo trata-se de um potente posicionamento do ilustre Pr. Edvar Gimenes (PE) sobre a nota que a atual (2022/2023) diretoria da CBB fez contra mim. Ele foi publicizado pelo próprio autor. Uma vez usado como instrumento de sua inquisitória e, portanto, injusta perseguição, resolvi publicá-la aqui também. Especialmente os batistas que lerem, perceberão a pertinência do texto e a incoerência da vergonhosa Nota oficial da CBB.

“Ao Presidente da

Convenção Batista Brasileira

Pr. Hilquias Paim

Por compromisso com a verdade e, depois, por entender que, além de crer que cada um de nós, dirigentes batistas, prestaremos contas a Deus pelas palavras proferidas, creio também que é imensa a probabilidade de a Convenção Batista Brasileira ter que arcar com longos processos judiciais, com razoável probabilidade de sucumbir por difamação e danos morais, em face da manifestação de seu posicionamento frente ao pleito eleitoral 2022.

Explico:

1. A Convenção Batista Brasileira decidiu entrar na guerra política nas eleições para presidente da República 2022. Se em 2018 o fez através, por exemplo,  do twitter de alguns de seus principais dirigentes (o que não me parece ilegal, apenas incoerente com outros discursos públicos), neste ano o faz de maneira oficial através de sua diretoria, manifestando ”seu posicionamento em relação ao pleito eleitoral” através de suas páginas oficiais no Instagram, Facebook, Twitter e de envio de mensagem via whatsApp;

2. *Ocorre que a referida manifestação está eivada de falsidades, como exponho a seguir*:

2.1. *A manifestação da Convenção Batista Brasileira é falsa* quando inicia dizendo que seu posicionamento se dá em desfavor de “posicionamentos enganosos” e, depois, faz, de maneira enganosa, referência somente ao caso do presidente da CBC, não fazendo qualquer menção ao posicionamento ocorridos no culto de 80 anos da OPBB-SP ou ao culto da PIB de Juiz de Fora, uma de suas filiadas, no final de agosto, nos quais candidatos bolsonaristas e o próprio candidato à presidência foram privilegiados com “apoio espiritual”;

2.2. *A manifestação da Convenção Batista Brasileira é falsa* quando declara: “Reafirmamos que, como instituição, não declaramos apoio a nenhum candidato a cargo público ou partido político”, logo após ter mencionado o presidente da CBC, deixando implícita a idéia de que ele houvesse usado o nome da CBB em sua fala. Não usou;

2.3. *A manifestação da Convenção Batista Brasileira é falsa* quando declara: “Alertamos, mais uma vez, que a nossa instituição representa 33 Convenções Estaduais”. Não existe uma única cláusula no estatuto da CBB que a define como representante das Convenções estaduais. Quem estudou eclesiologia num seminário batista aprendeu que, conquanto a CBB e as Convenções Estaduais sejam formadas por base comum de igrejas, ambas são personalidades jurídicas independente e se relacionam em cooperação (Ex.: Art 19, par 2º ou Art 33 do estatuto), mas nenhuma tem poderes para representar a outra ou falar em nome da outra (Art. 4º par. 1 do estatuto);

2.4. *A manifestação da Convenção Batista Brasileira é juridicamente falsa* quando afirma: “da qual fazem parte 14 mil templos religiosos”, uma vez que a Convenção é formada por igrejas que atendem requisitos estatutários da CBB e não por templos (Art. 2º do Estatuto);

2.5. *A manifestação da Convenção Batista Brasileira é falsa* ao declarar: “e manifestamos a nossa contrariedade e indignação com relação a qualquer pessoa que venha a se posicionar politicamente em nome da CBB”, *pois* faz esta afirmação associada ao nome do presidente da CBC, quando ele, em nenhum momento fez referência nem a CBC, muito menos a CBB;

2.6. *A manifestação da Convenção Batista Brasileira é falsa* quando declara: “Defendemos o processo democrático e acreditamos no papel de nossos membros como cidadãos brasileiros que irão às urnas conforme as suas consciências, como homens e mulheres de Deus e que respeitam nossa Constituição”, *pois*, estatutariamente os membros da Convenção Batista Brasileira são personalidades jurídicas definidas como “igrejas” e não personalidades físicas definidas como “cidadãos brasileiros” ou “homens e mulheres de Deus”;

2.7. *A manifestação da Convenção Batista Brasileira é falsa* quando declara: “Defendemos o processo democrático…” quando silencia diante de fatos exemplificados no ponto 2.1., mas vem a público expor um pastor que, em nenhum momento de sua fala fez menção, repito, seja à CBC e muito menos a CBB e, em nenhum momento, com sua fala, atitude ou ação, contrariou a Declaração de Princípios ou a Declaração Doutrinária da CBB, o Estatuto ou o Regimento Interno da CBB ou mesmo o Código de Ética da OPBB. No máximo, desagradou aos que se opõem à reeleição do candidato Luíz Inácio Lula da Silva;

Infelizmente, pareceu-me que a manifestação reacionária da CBB está muito mais relacionada a uma “necessidade de posicionamento político” do que à “necessidade de pronunciamento”, razão pela qual contraria o fundamento do Artigo 8º par. 9º, alínea 3ª do estatuto da instituição que exige “necessidade”, no caso de pronunciamento, o que não me parece ser o caso.

Diante do exposto e na condição de pastor e membro de uma igreja filiada a Convenção Batista Brasileira, venho requerer que a diretoria da Convenção Batista Brasileira corrija imediatamente esta sua manifestação, a fim de que, primeiro, sejam evitados prejuízos financeiros à instituição em causas judiciais e, depois, para que quando estivermos frente a frente, em pregação ou em reunião administrativa, possamos continuar olhando uns nos olhos dos outros com o coração cheio da paz, paz própria daqueles que se empenham em viver e não somente defender, teoricamente, o conceito verdade.

Atenciosamente,

Edvar Gimenes de Oliveira, 

Pastor-presidente da Igreja Batista em Casa Forte, Recife, filiada à CBB desde 1986.”

dezembro 20, 2022

UM PREFÁCIO ATUAL.

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 4:10 pm

Um Prefácio Atual

Na segunda metade da década de 80, meu saudoso pai atuou na Visão Mundial como seu Diretor Executivo. Mesmo naquela função, vez por outra era convidado a prefaciar um livro. A obra em questão é de autoria do querido e não menos respeitado Pr. Carlos Queiroz (CE). Seu chamamento no texto é para que a igreja saia da sua secular letargia no envolvimento com processos de transformação social. Eis o prefácio escrito por ele na segunda metade da década de 80, registrando que os grifos em negrito são originais do autor e os que contém também o sublinhado são grifo nosso. Boa leitura!

“Deus se preocupa com a sua criação. Deus se preocupa com as criaturas que criou. Deus se preocupa com o ser humano em todas as suas dimensões. Deus se preocupa com as relações entre os seres humanos como indivíduos e como sociedade. Deus se preocupa com a prática da justiça no mundo. Deus se preocupa com os pobres.


Assumindo que as preocupações de Deus acima expostas sejam uma genuína expressão da verdade – e o são – é de se esperar que o assim auto-denominado Povo de Deus assuma, aqui na terra, as preocupações do Pai celestial. E o faça de modo consequente e urgente a fim de que essa realidade que entristece o coração de Deus, e os nossos, seja transformada. A hora em que vivemos no Brasil é muito grave. A pobreza se alastra não porque o País se tornou mais pobre de recursos, mas como consequência de sua má e perversa distribuição. O momento é histórico e exige do povo de Deus um comprometimento inadiável com o Senhor do Reino traduzido pela prática coerente e diária dos valores do Reino de Deus em sua vida.


Nem sempre este compromisso tem sido expresso. A verdade é que, com frequência, em vez de compromisso temos visto o comprometimento de líderes com o príncipe deste mundo. A forma mais evidente deste comprometimento tem sido a de um silêncio culposo face às situações de injustiça, embora, e é com dor que o declaro, tenha havido momentos em que, quando a Igreja falou, o fez para bajular os ricos e poderosos deste mundo


Não podemos negar, entretanto, que a Igreja tem dado, também, seus exemplos de testemunho prático na luta pela justiça. Mas essa tendência ainda é minoritária. É preciso que ela seja potencializada a fim de que os resultados apareçam numa progressão geométrica, de razão exponencial, para tornar este país mais justo e humano.(…)Quando o povo de Deus começar a sonhar os sonhos de Deus para a construção de uma nova sociedade (Isaías 65:17-25) começará, também, a agir para que este sonho se torne uma realidade.” 


Darci Dusilek.

Final da Década de 80.

novembro 5, 2022

DOIS MESES DEPOIS.

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 4:14 pm

DOIS MESES DEPOIS.

Passados quase dois meses do meu linchamento virtual, sinto-me mais tranquilo para falar tanto sobre o que aconteceu quanto sobre os seus desdobramentos. O intuito aqui é servir como registro. Aprendi há mais de uma década, de que desconhecido não se convence, pois ele não acredita em você; opositores não se mudam, pois eles são contra você; e amigos não precisam dos seus argumentos, pois estes confiam em você.

Com isso em mente é que passo a expor aquilo que somente poucos viram e viveram, com a sua (caro leitor) devida licença e paciência.

No curto período em que fui Presidente da Convenção Batista Carioca, recebi inúmeros convites para estar com políticos, para dar apoio a alguns deles. Desses muitos convites, aceitei somente três. Somente um foi direcionado ao Presidente da CBC, ou seja, se não ocupasse o cargo, não seria chamado. Falo aqui de um café com o Governador do Rio de Janeiro, no qual ele praticamente fez um monólogo…

Os outros dois foram feitos por amigos. O primeiro, em Junho deste ano, foi para participar de um evento onde estaria o deputado federal (reeleito) Hélio Lopes. O segundo convite foi feito a mim na tarde de 5ª feira dia 08/09/2022 para estar no encontro dos evangélicos com Lula, na manhã seguinte, no ginásio do Clube Tamoio, em São Gonçalo (RJ).

Em ambos os encontros fui apresentado como Presidente da Convenção Batista Carioca. Aliás, fui apresentado como tal em diferentes igrejas onde preguei ao longo deste último ano convencional. Neles também foi me dada a palavra. Só que no primeiro, com o deputado, é bem possível que você só tenha tomado ciência agora. Sim, porque para estar com apoiadores de Bolsonaro, nunca houve qualquer problema para a estrutura denominacional asfixiada pelos gases da república do Paraná.

Em tais encontros a minha fala foi personalíssima, isto é, de caráter estritamente pessoal, mesmo porque sei do axioma que rege os batistas: “nenhum batista fala pelos batistas”. Ora, justamente por entender e defender assim é que minha palavra jamais poderia ter sido tomada em caráter institucional. Mesmo porque, como você deve saber, um presidente fala, em nome de uma convenção batista (nunca em nome dos batistas), somente em três ocasiões: a) quando na direção de uma reunião oficial (Assembleia, Conselho ou diretoria); b) quando demandado ou autorizado por uma Assembleia ou Conselho (expediente que, por exemplo, provoquei já no início do meu mandato para uma demanda intra corporis sobre um assunto relacionado à CBB); c) quando, usando a prerrogativa regimental, ele (presidente) SE qualifica (o que pode ser visto no manifesto que fiz sobre o caso Moíse, congolês assassinado em um quiosque na Barra, e que está no site da CBC). O que quero mostrar a você, querido leitor, é que eu tinha plena consciência da liturgia do cargo e em nada o defraudei.

Sendo assim, reitero: esbocei minha visão, minha posição. Não falei por ninguém, mas falei com os que estavam lá em São Gonçalo, numa concordância elíptica. Assim deve ser entendida a única vez que usei um verbo no plural. Me referia tão somente aos que estávamos naquele ginásio, para aquele encontro.

Importa destacar nesse momento, dois detalhes. O primeiro é que nunca, até a eleição à presidência da CBC, participara de uma reunião com políticos, de um jantar pró-campanha, que seja. Tampouco subscrevera algum candidato, nem tirara foto para material de campanha. Por conseguinte, tampouco havia discursado em um evento político.

Não uso o púlpito para fazer política partidária. Não dou a palavra a candidato. Não desrespeito, muito menos persigo quem pensa diferente de mim. Nunca destratei um irmão por ser bolsonarista. Ao contrário, tratava com dupla honra justamente para não dar espaço para uma interpretação dúbia.

O segundo detalhe-destaque é que meu convite para falar no evento com Lula ocorreu 30 minutos antes dele ser iniciado. Sendo assim, não houve premeditação, preparação, acordo prévio, acerto, etc. Conquanto tenha sido apresentado como Presidente da CBC e Pastor Batista, o convite para falar foi feito ao Sérgio e não ao presidente ou ao pastor. Para você ter uma ideia, saí de lá com minha esposa, passei em um velório para dar um abraço no pastor que perdera sua esposa, e fui almoçar em um shopping. Não recebi reembolso de combustível, de almoço. Nem era para receber, pois nada tinha a ver com o PT.

Minha fala teve exortação bíblica aos candidatos. Teve também uma forte ênfase e denúncia social, afinal a mendicância avilta a Deus (Ez.16:49). No curto período que usei (cerca de 4 minutos) também teve a minha posição, fruto da minha compreensão, de que a Igreja deveria pedir perdão ao candidato Lula, uma vez que estava vendo se repetir o filme da campanha de 1989, quando Lula, bem mais novo, fora demonizado. No meu entendimento e leitura dos Evangelhos, Jesus não ensinou seus discípulos a colocar demônio nas pessoas, mas a tirar, exorcizar, sempre que algum se manifestava diante deles. Como cidadão, penso que se deve votar em candidatos pelas proposições que eles apresentam e caminhos que eles representam; jamais colocá-los sob um véu religioso e muito menos ainda sob uma preconceituosa pecha.

O que se viu depois disso foi um festival de horrores.

A virulência e violência com que fui atacado, o vilipêndio que sofri, as ameaças, o desrespeito com a Igreja na qual sou um dos pastores, tudo promovido em sua esmagadora maioria por gente que se diz evangélica, mostrou para mim que as igrejas cresceram, mas o Evangelho de Jesus não teve o mesmo crescimento neste país. Desta forma, penso que o exponencial crescimento evangélico no Brasil representou, em sua maioria, a adesão às igrejas e não uma conversão a Jesus Cristo.

O fato de muitos me chamarem de demônio, de anticristo, de renegarem minha vocação pastoral, meu chamado pastoral dado por dom do Espirito Santo, reforçou a minha convicção de que a fala sincera que fiz em São Gonçalo, estava correta. Se boa parte da Igreja evangélica do país não tivesse sido intoxicada com essa fundamentalista demonização da chamada esquerda, minha abordagem simplesmente não traria qualquer dificuldade. Para você ter uma noção, ninguém que esteve naquele ginásio me procurou, seja da imprensa, seja dos presentes, para fazer qualquer registro sobre minha fala. Sabe por quê? Suspeito que não tenha dito nada demais para os que ali estavam.

O celeuma criado foi fruto da edição do vídeo que viralizou contendo a minha fala, aliado ao confronto com a triste verdade, qual seja, de que a Igreja (boa parte dela) demonizara o candidato Lula. Aliás, já na 4ª feira dia 14/09, dia da entrega da minha carta de renúncia à presidência da CBC, Deus me deu uma visão do que foi a sexta dia 09/09: Nela vi que Ele me colocara como um navio (não o único) tipo o Barão de Tefé da Marinha do Brasil, usado para pesquisas e viagens a Antártica, para ir quebrando as placas de gelo sob as quais se assentava a maldita sentença que igualava Lula ao demônio. Sim, olhando para trás, tenho cada vez mais certeza de que a reação, desproporcional ao meu ver, reforça a minha convicção de que era preciso quebrar essa crosta.

Logicamente, há um custo ao casco. Ninguém passa por um linchamento, ainda mais sem motivo, sem sofrer avarias. No entanto, não me arrependo do que disse. Tenho, isto sim, muita tristeza pela reação odienta e anticristã que sofri.

A forma como meus pares e como a liderança denominacional tratou este episódio é um capítulo à parte. As muitas notas que foram soltas de convenções estaduais diferentes da CBC e mesmo da CBB se mostraram impróprias. Ora, mesmo que tivesse cometido um excesso de mandato, minha fala estaria circunscrita à convenção da qual era presidente, nada tendo a ver com as demais convenções estaduais. Ao produzirem notas, tais convenções, inclusive a CBB, violentaram o ordenamento institucional e o respeito que, entre elas, deveria haver. Por esta razão defendo que os batistas não deixaram de ser batistas na minha fala, mas na reação a ela.

Quando na semana anterior ao dia 09/09, a OPBB/SP deu a palavra a políticos (especialmente o astronauta) no culto alusivo aos seus 80 anos, não fiz nota como presidente da CBC. Manifestei meu estranhamento e desconforto a colegas de SP. Todavia, se cabia uma nota, era da própria Convenção Batista do Estado de São Paulo. De fato é uma pena que tenhamos uma liderança tão enfraquecida que não reconheça seus limites institucionais.

Não houve notas quando foi dado espaço na assembleia da CBB em Natal-RN (2019) para que um vídeo de saudação do presidente eleito fosse transmitido na abertura. Não houve notas quando um presidente da CBB, usando os canais da Convenção e se qualificando na sua fala, conclamou o povo batista a jejuar para que o STF não concedesse o habeas-corpus a Lula em 2018. Não houve condenação quando pastores cederam seus púlpitos a Bolsonaro. Não houve nota quando Franklim Graham, após angariar o apoio de igrejas, muitas delas batistas, para sua cruzada em Copacabana, projetou um vídeo do presidente.

No tocante à primeira nota da CBC, manifestei minha contrariedade à sua confecção. Entendia, e os dias seguintes mostraram que estava certo, que aquele primeiro momento era um período de silenciamento, de esperar o tufão passar, para depois contabilizar os prejuízos e tomar as melhores decisões. Sabia que, ao publicizar qualquer documento, os abutres (de sapatênis ou não) o devorariam, bem como aos seus signatários. Tinha consciência também que os pruridos impediriam uma leitura e absorção isenta num primeiro momento. Assinei a nota com um pequeno acréscimo que sugeri, após insistência de um membro da diretoria. Não antes sem renovar a advertência inicial.

Perdão caro leitor, mas nunca foi pelo princípio de separação Igreja e Estado, mesmo porque estava em um clube, não em uma igreja; à vontade e não paramentado com terno, gravata, etc.; exercendo outro princípio batista: o da liberdade de expressão. A pergunta diante dessa discrepância no trato que sugiro que você faça é: por que a balança enganosa? Era o pastor Sergio que precisava ser incinerado pela fogueira inquisitória? Caso sim, por que razão? Ou era o candidato Lula que precisava ser evitado? Nesse caso, por quê? A Convenção em algum momento fechou apoio a Bolsonaro? E se fechou, comunicaram ao Pr. Sergio? Por que culpar uma fala em evento do PT e desconsiderar falas mais comprometedoras, aos roldões, direcionadas ao candidato da extrema-direita?

Quem, minha querida irmã batista, calibrou você para que me excomungasse? Já se perguntou o porquê disso?

Registro aqui também a falta de espírito cristão e mesmo lealdade no trato para comigo. Nenhum destes signatários das notas, embora a grande maioria tivesse meu contato, sequer entrou em contato comigo para saber o que houve, para conversar, para orar. A marca da lealdade de alguns oscilou entre o avisar que no dia seguinte teria uma nota de repúdio assinada por este colega, e as indefiníveis expressões de solidariedade esboçadas por alguns na privacidade do whatsapp, ao passo que apunham suas assinaturas em tais documentos condenatórios.

O resultado desse frenesi interno foi a escalada do problema. Na minha visão, ao soltarem as diferentes notas, a imprensa foi trazida para dentro do problema. A partir daí, duas coisas ocorreram: a amplitude, o alcance do episódio extrapolou as fronteiras denominacionais, evangélicas e nacionais (sim, não só os grandes jornais e programas de respeito da TV no Brasil, como também a cobertura europeia das eleições o que me faz dar entrevistas até hoje (França, Alemanha, Suécia, Inglaterra, Dinamarca, entre outros); a perplexidade ao constatar que jornalistas que não professam a nossa fé, possuem mais discernimento espiritual e bom senso do que inúmeros irmãos e irmãs, pastores e pastoras das Igrejas Batistas. Esta última constatação, particularmente falando, para mim foi a mais doída.

Termino com gratidão a você que acompanhou este texto até aqui. E o faço dizendo que desconheço esta igreja que cancela o contraditório, que silencia o divergente, que anula o plural, que uniformiza os seus. Se esta é a realidade da igreja evangélica, quiçá batista, preciso dizer que a Igreja de Jesus Cristo pouco ou nada tem a ver com ela. Desconheço também inúmeros colegas que se pronunciaram sem sequer conversarem comigo. Desconheço aqueles e aquelas que uma vez apresentados como amigos, se mostraram desleais. Contudo celebro aqueles que se expuseram, que me socorreram, que me animaram nesse sombrio vale que é o do linchamento virtual.

Desconheço esse cristianismo inquisitório, essa fé legalista, essa convivência desalmada e essa comunhão desapegada. Enquanto a Ordem dos Pastores Batistas e meus pares de diretoria me entregavam às feras, eu recebia, mais uma vez perplexo, o cuidado da presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann. Para vergonha da denominação que professo, quem me pastoreou foi a presidente de um partido de esquerda.

Por fim, faço questão de não conhecer uma espiritualidade que se assenta diante de Saulo ou que se aconselha com Jezabel, ao invés de ouvir a Jesus. Espiritualidade esta que acha possível falar de Jesus com pedras na mão. Que acha normal apedrejar pessoas do povo de Deus. Não meus queridos! Quem caminha com Jesus, anda desarmado, pois aprendeu com Ele que as pedras são instrumentos de justiçamento e não de Justiça.

Registro minha gratidão aos membros da Igreja Batista Marapendi que me acolheram e manifestaram seu carinho e cuidado para comigo. Minha família e eu nos sentimos amparados e amados neste momento excruciante.

Em Cristo Jesus, Verdade e Esperança nossa,

Pr. Dr. Sérgio Ricardo Gonçalves Dusilek

sdusilek@gmail.com

junho 11, 2022

AURÉLIO VIANA, SENADOR

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 12:39 am

AURÉLIO VIANA, SENADOR.

Você sabia que na década de 60 os batistas tivemos um digno senador no Congresso Nacional? Trata-se de Aurélio Viana da Cunha Lima.

Hoje, dia 09/06 no qual escrevo este texto, o saudoso Senador pelo PSB estaria completando 108 anos de vida. Viana, era crente batista, integrado à vida da sua Igreja, de caráter impoluto e de uma oratória cortante. O próprio Stanislaw Ponte Preta registrou, certa vez, o bom senso e coerência do Senador Viana, em seu celebrado FEBEAPÁ. Homem de bom senso, crente honesto e de esquerda, Viana era um político respeitador e tolerante. Em uma das mais simbólicas cenas do Planalto Central, ele é registrado conversando com outro membro da Igreja Batista Memorial de Brasília, oriundo de Minas Gerais e membro do STF, Antônio Martins Vilas Boas. Sim, era um tempo em que direita e esquerda conviviam e dialogavam, congregando em uma mesma igreja. E sim, os batistas já tiveram assento no STF bem antes do presbiteriano que lá está.

Viana foi político num tempo em que os ganhos na política eram parcos. Deputado estadual e federal por Alagoas, depois Senador pela Guanabara, Aurélio Viana honrou a investidura dos cargos, sendo respeitado pelos seus adversários. Bem casado, pai de uma linda família, pagou o alto preço pela sua coerência. Diante do problema de saúde de um dos seus filhos, que o vitimaria aos treze anos, e com poucos recursos (mesmo sendo político atuante no Congresso Nacional), vendeu sua enciclopédia e seu rádio para custear as despesas médicas dele.

Nesse tempo, não faltaram oferecimentos, facilidades, as quais não passaram pelo rigoroso filtro de sua retidão. Segundo ele mesmo expressou, em carta par Dona Rute, sua amada esposa: “os que me querem emprestar dinheiro, não me servem, porquanto eu jamais poderia combate-los”. Na sua compreensão, tal oferecimento, uma vez aceito, o impediria de lutar por igualdade e justiça social, combatendo a classe social a que pertencia quem justamente tinha como lhe dar a mão.

 Ao relembrar essa fração do testemunho de vida do irmão Aurélio Viana, chamo sua atenção para que com ele sejamos inspirados a:

  1. Conviver com o diferente, ainda que de espectro político oposto ao nosso. A unidade foi possível entre Mateus e Simão (Zelote), porque Jesus estava entre eles. A convivência de Vilas Boas e Aurélio Viana na Memorial de Brasília revive e relembra essa possibilidade;
  2. Não demonizar uma pessoa por conta de sua opção política. Viana encarava sua atividade parlamentar dentro de um prisma de luta de classes, jamais contra seu semelhante;
  3. Lembrar que a opção partidária não define o caráter. Há políticos honestos e corretos, assim como os desonestos e corruptos, em todos os partidos. Falha de caráter não é privilégio ideológico; é resultado de fratura na formação moral;
  4. Lutar para termos um bom testemunho, mantermos a coerência. Pagarmos o preço de não corrompermos o nosso discurso e pregação por conta de ações que os desmentem. Saiba que a coerência cobra um alto preço, seu custo é elevadíssimo;
  5. Nos envolvermos com os desafios de Deus para nós, sempre visando a doação, o ideal, e jamais o benefício próprio. A paga vem do Senhor. Assim como é revoltante ver políticos que se voltam para seus próprios interesses esquecendo-se do povo que os elegeu, é muito triste ver líderes que se aproveitam da estrutura denominacional para empreender seu carreirismo eclesiástico, ter vantagens financeiras para si mesmos, familiares ou igrejas, ou ainda, figurar em comissões e conselhos como se isso conferisse algum tipo de status religioso.

Assim como Abel, a vida do Senador Aurélio Viana ainda fala, mesmo depois de sua partida em 21/03/2003. Que ele siga a nos inspirar a brilhar a luz de Jesus em meio a mais densa escuridão.

Termino este texto agradecendo ao Professor Dr. Aurélio Viana Junior não só pela amizade, mas pelo privilégio que ele nos concede de honrar a memória de seu saudoso pai. Gente como o senador Aurélio Viana deve sempre ser lembrado, honrado, jamais esquecido.

Pr. Sérgio Ricardo Gonçalves Dusilek

abril 30, 2022

Como confiar em Deus, quando o que ele nos manda fazer nos conduz ao sofrimento?

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 11:57 am

Como confiar em Deus, quando o que ele nos manda fazer nos conduz ao sofrimento?

Pr. Sérgio Dusilek

Igreja Batista Marapendi-RJ

Esta é a pergunta honesta que salta aos olhos de todo leitor acurado, no momento em que se depara com a fala de Paulo aos Tessalonicenses em sua primeira epístola, capítulo 2, verso 2 (1Tess.2:2). Mas talvez você indague do porquê da questão…

Vamos lá. A chegada de Paulo em Tessalônica se dá após a passagem por Filipos (At.17:1). Filipos não estava nos planos de Paulo. Ele queria ir para a Ásia (At.16:6), quando o Espírito o impediu e posteriormente lhe deu uma visão (At.16:9,10) para que fosse para a Macedônia. Pois foi lá em Filipos que Paulo e Silas tiveram a excruciante experiência de serem injusta e brutalmente açoitados (At.16:22,23; 2Cor.11:24). No caminho do cumprimento da vontade de Deus estavam as chicotadas, os açoites… como confiar nEle após isso? Como confiar quando as chicotadas traspassam os lombos e atingem a alma (Paulo fala em humilhação pública que sofreu em Filipos (v.2), traduzida em algumas versões como “maltratados”)?

Primeiro é reconhecer que o percurso da vontade de Deus não nos conduz a um “mundo de Poliana”. Por vezes, cumprir o expresso desígnio de Deus nos conduz aos açoites públicos, ao vento contrário, ao enfrentamento das tempestades. O mapa da vontade de Deus desconsidera os avisos climáticos, o radar meteorológico. Isto porque a vontade de Deus não encontra livre aceitação e fluidez nesse mundo (“que a Tua vontade seja feita na Terra como é feita no céu” é o modelo de oração deixado pelo Mestre). Além disso, nós acabamos sofrendo um processo de modelagem, de fazimento e refazimento pelo Espírito, enquanto submissos ao Seu querer.

Em termos práticos, por vezes Deus vai nos retirar de uma liderança fluída para nos encaminhar para liderar pessoas e organizações truncadas. Sem óleo (do Espírito) nas engrenagens eclesiásticas ou denominacionais. Quando assim acontecer, obedeça a Ele.

Segundo é que a confiança neste verso 2 de 1Tess.2 pode ser traduzida como ousadia, como novo voto a uma maior abertura, no mundo helênico, à liberdade de expressão. Nesse caso, o problema da confiança em Deus permaneceria… Ainda mais com a nova perseguição que Paulo e Silas sofrem em Tessalônica (At.17),agora pelos judeus. Esta produz uma nova marca no apóstolo que pode ser vista pelo termo traduzido como combate: no grego a palavra equivale a agonia. Note bem: são os religiosos, não os filósofos que perseguem o apóstolo. Lembre-se que em Atenas, os filósofos se desinteressaram pelo discurso paulino… não o perseguiram.

Parece-nos que a promessa vocacional paulina é o melhor caminho para entendermos esta confiança. Desde sua conversão, Paulo entendeu que caberia a ele dar testemunho em meio a muita provação e sofrimento. Sendo assim, confiar, descansar em Deus se torna a única alternativa para quem não encontrará descanso, inclusive nos mecanismo de projeção ao serem chamados pela turba de Tessalônica, de “transtornadores do mundo”. Se Tessalônica com suas águas termais (era a Caldas Novas/GO daquele tempo) era um natural convite ao descanso, ao relaxamento, Paulo contrapõe o acolhimento de Deus como o melhor lugar de descanso. A consciência de que sua vida estava nas mãos daquele que o chamou.

A confiança em Deus retroalimenta a fé: confiamos e ao fazê-lo, abrimos as portas para um relacionamento profundo com Deus; ao nos relacionarmos profundamente com Deus, passamos a confiar ainda mais. E esta confiança não se trata de uma experiência subjetiva, tão somente. Ela se exterioriza numa vivência ministerial exercida com lisura e honra (2Tess.2:3-12).

Por fim a confiança em Deus tem seu fôlego renovado na mensagem do Evangelho. É pelo Evangelho, para o Evangelho, por causa do Evangelho. “Sim”, já dizia o compositor sacro, “eu amo a mensagem da cruz”.

Portanto, confiar em Deus não é só a alternativa. É o resultado de quem ama Jesus e o Evangelho mais do que a própria vida. É a própria exteriorização da relação com Deus que se dá em meio ao sofrimento. Como seguir confiando em Deus quando se perde tudo como Jó? Como seguir confiando em Deus, quando no propósito de salvar as pessoas pela mensagem do Evangelho, somos por ela maltratados? A permanência, a perseverança nos dias maus, em tempos difíceis, são vigorosos testemunhos da confiança que temos em Deus, e do valor e amor que damos e temos pelo Evangelho de Jesus.

Prossiga, mesmo porque, como já dizia o poeta popular, parafraseando o Salmo 30:5:

“Mas é claro que o sol vai brilhar amanhã,

Mais uma vez eu sei;

Escuridão já vi pior de endoidecer gente sã;

Espera, que o sol já vem”.

abril 28, 2022

BRASIL: Um grande Garimpo.

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 11:45 am

BRASIL: Um grande Garimpo.

Sérgio Dusilek

Profissão tão antiga quanto a ambição humana e o desejo de ascender por atalhos, o garimpo, outrora feito sem regulamentação e cuidado, hoje é alvo de uma regulamentação própria, que visa permitir a atividade extrativista sem que deforme o meio-ambiente, deixando como lastro e rastro de sua passagem uma terra arrasada.

Logicamente que a imensidão territorial do país, os valores envolvidos na atividade, o interesse estrangeiro no contrabando de metal e de pedras preciosas, a alta taxação sobre a atividade, bem como a facilidade de mobilidade são alguns fatores que explicam a dificuldade, que passa pelo desinteresse, em caminhar pela legalidade. Soma-se a isso certa dose de uma cultura transgressora aliada ao desmonte dos aparatos fiscalizatórios.

O resultado? Meio-ambiente agredido, povos originários violentados e ameaçados, o “terror bandeirante” redivivo. O garimpo ilegal nada tem de uma pretensa e alegada liberdade para exercício de uma atividade profissional. Trata-se de uma atividade mais similar à desenvolvida por milicianos: invade áreas, impõe o medo, ameaça as pessoas, destrói o meio-ambiente, traz morte.

Diante disso, seria natural esperar que o governo agisse para coibir tal prática ilegal e não estimulá-la. No entanto, em terra brasilis, ocorre o contrário. O Governo que deveria prezar pelos limites da lei, promove constantemente sua elastização. Não é à toa que o Brasil atual se tornou um grande garimpo: promove e concede legitimidade a tudo que é ilegítimo. Transgredi e desfaz da lei a começar pelos principais mandatários, ao ponto da ilegalidade tensionar o que é legal (da lei). Parafraseando Cazuza: “transformam o brasileiro em garimpeiro, pois assim se ganha mais dinheiro”.

Não por outro motivo temos uma profusão de milícias: desde neonazistas às digitais; no garimpo e nos grandes centros; no campo e fora dele; das câmaras legislativas até o Congresso Nacional. E onde a milícia procria, a justiça, a esperança e a fé morrem. Na aridez e podridão miliciana só cresce o que é errado, o que é impuro, o que é desonesto, o que é desalentador, o que tem cheiro de morte. Nesse não-ambiente cresce também o que promove apostasia. Sim, apostasia… não é a teologia liberal que promove a perda da fé, mas a falta de justiça na terra, segundo o próprio Senhor Jesus (Lc.18:1-8).

O Estado miliciano é o estado de colônia. E nenhum Estado que retorne ao estado de Colônia o faz sem seríssimas consequências. A soberania nacional é a primeira a ser aviltada. Estranhamente é ela que vem sendo usada para “flexibilizar” várias leis, decretos, portarias, regulamentos. Aqueles que apoiam esse discurso esquecem que o fazem em nome do pretenso e autointitulado soberano da vez, e não em nome de uma soberania nacional.

Ser Colônia é assumir que o Estado brasileiro pode ser pilhado de novo. Que este país pode ser explorado pelo mundo, ao passo que seus habitantes seguem sendo socioeconomicamente rebaixados. É se prestar ao interesse internacional sem que se faça valer as aspirações nacionais. É vender o país a preço de banana…

Ser Colônia é assumir-se num Estado sem lei ou muito longe dela… tendo um oceano a separá-la. É estar à mercê do homem armado, do banditismo, do pior tipo de violência, que é a aquela fruto não da necessidade, mas da ambição e do poder. É trazer o Juiz no cabresto.

Ser Colônia é voltar ao tempo da expropriação violenta e sem rosto. É decretar que o interesse de alguns sobrepujam toda coletividade.

Ser Colônia é transformar o Brasil num garimpo, admitindo a legalidade (pela contumácia ou “jurisprudência”) do que é ilegal. É decretar o fim de uma nação que ainda nem começou. É enterrar de uma vez por todas, o “sonho intenso” de sermos um País.

O Brasil como garimpo, como Colônia, é um convite à contínua perplexidade, ao desenvolvimento de uma forma catatônica de defesa por pura desconexão com a realidade. É um convite ao choro soluçante, incontido, diante das atrocidades mais vis, como a do estupro e morte daquela criança Ianomâmi de 12 anos.

Esse “meu” Brasil garimpeiro, e não “brasileiro”; “terra” do miliciano e do grileiro, e não mais do “samba e do pandeiro”, é que precisa ser deixado para trás. É preciso seguir; não só isso: nós vamos conseguir.

fevereiro 21, 2022

Quando um Fundamentalista pede Música no Fantástico.

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 9:56 am

[Texto de fevereiro de 2021 do Facebook].

Quando um pastor vem a público dizer que um colega não pode ser de esquerda ele comete um triplo erro (e pode pedir música no Fantástico):

1) primeiro, porque em nome da Biblia afirma o que lá não está.  Lembro a você que na história do povo de Deus sempre teve gente de diferentes espectros políticos, o que não foi diferente no corpo apostólico de Jesus. Lembro também que a consciência politica não é critério biblico para a ordenação pastoral,  segundo as cartas pastorais paulinas.

2) porque ao trazer a política para a dimensão da vocação pastoral (já não bastasse o uso do púlpito como palanque), o próprio pastor se coloca sob o crivo. Alguém, por exemplo, pode achar que é inconcebível um pastor ser de extrema direita. Ora, é a carteirinha do partido ou da Ordem dos Pastores que importa agora?

3) por fim, acaba atestando que é fundamentalista. E qual é o problema nisso? Na esfera da religião, o que mata não é o ser de direita ou esquerda: o que mata é o Fundamentalismo. Em nome da sã doutrina, assssina-se a doutrina sã; em nome de sua convicção, persegue o colega, não poucas vezes privando-o de fontes de sustento; em nome da “melhor DIREITA” cancela-se o outro; em nome da defesa de Deus, mata-se um filho de Deus. 

Ora, quem defende uma absurda tese desta é fundamentalista. E na lógica fundamentalista opera a morte e não a vida.

Termino dizendo que nesse Brasil dos extremos, em que temos a extrema direita no governo federal,  há muitas colorações (só em cinza são 50 tons!) antes de alcançar o rosa-vermelho. A discordância do atual presidente não faz alguém necessariamente de esquerda. Lembro que até Rodrigo Maia (do DEM), o partido mais a direita que tinhamos no país até então, discordou várias vezes do presidente. Esse maniqueísmo político, assim como o religioso, é falso. Pastores jamais deveriam sustentar algo assim, pois além  de afrontar um dos patronos do cristianismo (Santo Agostinho), atestam (os que assim fazem) uma simploriedade não condizente com os cursos de teologia que ostentam.

Infelizmente, e aqui faço uso da “vergonha penitente” de Fosdick, no momento histórico em que temos milhões na extrema pobreza, temos que alertar para os extremismos religioso e politico. Uma pena.

ResponderEncaminhar

dezembro 16, 2021

O QUE NÃO FALARAM PARA VOCÊ SOBRE A ATUALIZAÇÃO DA BÍBLIA.

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 4:06 pm

O QUE NÃO FALARAM PARA VOCÊ SOBRE A ATUALIZAÇÃO DA BÍBLIA.

Pr. Sérgio Dusilek

Doutorado em Hermenêutica Bíblica (UFJF/MG).

sdusilek@gmail.com

Desde que o Pr. Ed René Kivitz usou essa expressão em uma de suas mensagens, uma discussão sem equilíbrio se instalou a partir de pastores e líderes de diferentes denominações. Na autoproclamada e autodemandada tentativa apaixonada de defender a Bíblia, seríssimas acusações foram feitas a um colega que possui anos de honrado ministério pastoral no meio batista. Cerca de oito minutos foram suficientes para invalidar trinta anos…

Conquanto o tenha citado, este texto não é uma defesa do Pr. Kivitz. Ele já o fez de modo brilhante e elegante, o que já foi disponibilizado para todos que desejarem e entrarem em contato com ele. Trata-se aqui da abordagem conceitual do pano de fundo dessa celeuma. É isto que passa a nos interessar agora.

A questão é que não bastasse os defensores da ortodoxia mais inflexível desconsiderarem o principal mandamento (o amor, que também é o primeiro, segundo Jesus, e o maior dom segundo Paulo), também manifestam certo desconhecimento do que é a hermenêutica, bem como das possíveis implicações envoltas numa pretensa defesa de uma não atualização do texto bíblico. Desconsideram estes que descontextualizar para depois contextualizar, representa numa forma, não a única, nem tampouco a melhor, de atualização do texto.

Não só isso: desconsideram que a atualização de um texto é uma regra, uma lei hermenêutica. Diz esta lei que todo texto é atualizado por sua leitura. Mesmo que você não tenha consciência de que faz isso, ao ler, você atualiza o texto, seja ele qual for. É como o ar que você respira: se você pensar para respirar é porque há algo errado com seus pulmões. Atualização pela leitura é automática, mesmo quando não refletida em toda sua extensão.

Desconsideram os que atacam os atualizadores da Bíblia que eles mesmos assim o fazem. Ora, qual pastor, por mais ortodoxo que seja, anda com vestes sacerdotais? Qual irmão anda com túnica? Qual irmão, nessa crise do preço da carne, não optou em algum momento por carne de porco? Na verdade prezados, a luta não é para não atualizar, mas para postular quais as atualizações que são aceitas, uma vez não cobertas pelos diferentes preconceitos que habitam cada um de nós. De igual modo a luta não é hermenêutica, mas por poder; afinal, na história da Igreja, nem toda heresia assim qualificada era heresia… simplesmente era a posição sincera e crente do grupo minoritário…

Esquecem-se tais portadores da espada de “Graysckull” que ao se portarem como ardorosos defensores do texto bíblico, terminam não por protege-lo, mas por fragiliza-lo. Ora, que Palavra é essa tida como de Deus, que precisa de uma milícia blindando-a? Que força é esta que o texto bíblico tem, que autoridade é essa que a ele é intrínseca, que não resiste a “8 minutos”, sem que uma Legião se levante para defende-lo, fazendo-o sem procuração expressa do próprio (implicado?) autor? Ao assim procederem, os mais ardorosos defensores da Bíblia não só mostram desconhecer seus ensinos, como também apontam para um texto frágil como cristal. Penso, ao contrário destes, que a Bíblia é tão forte que ela não só aguenta as diferentes atualizações, quanto, como bem lembra Ricoeur, convida o leitor a uma leitura crítica, cujo clássico exemplo é o exercício de harmonização dos evangelhos.

Por esta razão é que Ricoeur sustenta que o texto bíblico não é sagrado. Em sua perspectiva, AINDA BEM que é assim. Um texto sagrado por definição é um oráculo, uma recepção pura e cristalina da mensagem de Deus. Nessa condição ele não admite nem interpretação, precisando ser recitado, sofrendo uma leitura literalista; nem tampouco tradução, uma vez que esta sempre envolve um trabalho hermenêutico e de, pasmem, ATUALIZAÇÃO do texto, devido a dinâmica da própria linguagem. Traduzir envolve perda, luto: mas qual parte pode ser perdida? Cabe ao tradutor escolher qual parte do Sagrado deve ser mantido? Teríamos que recitar textos que não são os originais, nas línguas originais, numa repetição sistemática sem fim. Uma chatice.

Soma-se a estes fatores a básica confusão entre atualidade e atualização. Atualidade é a capacidade, pertinência de algo feito em outra época para os dias atuais. Atualização é o processo pelo qual trazemos algo importante do passado, adequando-o para nossos dias. Ora, a atualidade do texto bíblico não está atrelada somente a seu aspecto espiritual, mas também à sua extraordinária condição literária. Seja o realismo tal qual defendido por Auerbach, seja o realismo psicológico de Robert Alter, a Bíblia segue atual porque trata dos problemas existenciais, demasiadamente humanos.

Já seu processo de atualização pode ser visto especialmente na segunda raiz do problema hermenêutico de Ricoeur: a passagem da palavra para o evento, para o discurso, no que chamamos de proclamação, de querigma. A atualização acontece especialmente aqui, uma vez que é necessário comunicar de modo que os ouvintes entendam. Aqui ocorre o que Auerbach chamou de interpretação reinterpretativa, cujo exemplo maior estava em Santo Agostinho que entendia que sua homilia deveria ser abrangente dado o caráter universal do Evangelho e a urgência da mensagem de salvação.

Lembro também, e aqui faço uma analogia com a tecnologia da informação, que todo sistema que não sofre atualização está fadado a ser superado, esquecido, abandonado. Se uma máquina (hardware) não suporta updates, ela será descartada. Num mundo em constante e rápida mudança, o que não pode ser atualizado cai em rápido desuso. Nesse sentido, cabe-se perguntar se o pós-cristianismo europeu teria como único responsável o liberalismo teológico, ou se ele não seria em grande parte resultado de uma teologia que desaprendeu a dialogar com seu tempo, que perdeu sua capacidade de atualização assumindo o esgotamento de suas formas.

Aliás, esgotamento é resultado da incapacidade responsiva e dialogal de algo, de uma cultura. Ao defender a não atualização do texto anunciamos o seu fim, seu esgotamento, sua restrição a um tempo memorial. Esgotamento que implica em colapso cultural e estrutural. É isso mesmo que queremos? Estaríamos a defender uma Bíblia que não alcance, que nada tenha a falar à próxima geração?

Um texto que não se atualiza se estratifica no tempo. Ao se estratificar o texto (bíblico, no caso), perde sua vivacidade e a fé deixa de lado seu componente de vitalidade. Ele também passa a dispensar, em última análise, a iluminação do Espírito Santo que o vivificaria no ato da leitura. As letras seguem mortas e as cartas de Deus (2 Cor.2:2-3) que somos nós, se tornam tão mortas quanto as letras.

Como decorrência desta estratificação e esgotamento, temos algo ruim. Trata-se da soberba característica em muitas gerações de se achar a última a pisar a Terra. Ou pior ainda: achar que a última palavra em termos de interpretação será a nossa ou aquela que nós indicarmos, subscrevermos. De fato, uma realidade bíblica que as mais diversas atualizações preservaram é que Deus não costuma operar em meio a soberba. Seja ela geracional última; seja ela como pretensão à última palavra.

Termino dizendo duas coisas. A primeira delas é que a Bíblia sempre sofreu processos de atualização dos seus ensinos em cada geração para a sua própria geração. Tais leituras sedimentaram camadas de uma história interpretativa, muita dela constituída na forma de comentários. Caso nada mais pudesse ou devesse ser dito, poderíamos ter parado lá atrás. Mas… como foi bom ter continuado! Quantas novas perspectivas se somaram àquelas primeiras!

Por fim, espero que tenha ficado claro que não nos cabe discutir a ATUALIZAÇÃO. Ela sempre aconteceu e acontecerá. Cabe-nos, quando muito, discutir os horizontes possíveis de tais atualizações. Veja bem: possíveis não por conta da falta de profundidade da Palavra, ou mesmo da força inerente ao texto bíblico; mas por conta dos preconceitos que carregamos e que são fatores limitadores da interpretação, uma vez que compõem a nossa pré-compreensão. Não é a Bíblia, então, que não suportaria um alargamento dos horizontes hermenêuticos; a limitação está no intérprete. Cabe-nos, portanto, dialogar sobre esses horizontes; no entanto, jamais elencar a parte com a qual não concordamos como herege. Mesmo porque, heresia é chamar gente sincera e amiga de Jesus de herege; heresia é chamar de impuro, aquele ou aquela a quem Deus purificou (Atos 10), mesmo que para você ele/ela seja repulsivo e imundo como a carne de porco era para os judeus.

Afinal, o poder do Evangelho é tanto a certeza de que não há impuro que não possa ser purificado, quanto a dúvida sobre se é possível purificar o que está (ou se acha) puro. Lembre-se: os sãos não precisaram do Médico dos médicos; nem tampouco os que se pensaram salvos foram achados pelo Salvador.

Muita Paz e Graça sobre você.

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