Novos Caminhos, Velhos Trilhos

fevereiro 1, 2023

“FILHO FEIO NÃO TEM PAI.”

Filed under: Sem categoria — sdusilek @ 6:36 pm

“FILHO FEIO NÃO TEM PAI.”

(O “By Pass” que o STBSB deu no STBC)

            Sei que é um ditado horroroso. No entanto, ele cabe para o que passo a narrar. Pessoalmente considero o fato que aqui descreverei um dos mais feios que vi a liderança batista protagonizar.

            No início dos anos 80, o STBSB (Seminário do Sul), no auge da sua produção acadêmica e expansão passou a inaugurar os Campi avançados. O primeiro foi no Oeste Carioca, na PIB de Campo Grande. Também foram inaugurados, posteriormente e ao longo dos anos, o de Nova Iguaçu (PIB em Nova Iguaçú); o de São João de Meriti na PIB desta cidade; o do Sul Fluminense em Volta Redonda, entre outros.

            Ocorre que, por ocasião do final da gestão do saudoso Dr. Pr. Roberto Alves, a então Junta do Seminário do Sul, que na época tinha em sua composição cinco diretores de outros seminários, deliberou por fechar os Campis, sob alegação de que não havia mais como sustentar o acumulado déficit de cada um. Números foram apresentados ao Conselho da CBB. Sei disso porque estava nesta reunião, como executivo da JUMOC. Ao ver os números projetados, perguntei ao diretor interino, que encaminhou a questão para o Relator da Comissão de Finanças da Junta do STBSB, se aqueles números totais de cada Campi estavam enquadrados no regime de competência ou de caixa. Ambos não souberam responder.

            Foi esse tipo de Junta que acabou com os Campi, outrora estrategicamente difundidos pela gestão David Malta do Nascimento, seguramente o maior Reitor que o Seminário do Sul teve em toda sua existência. Ao fazê-lo, ela não só tirou a capilaridade do Seminário, como também sua condição de benchmark. Logicamente que interesses inconfessáveis compunham o background de tal decisão.

            Os pastores das igrejas que recebiam os Campi, líderes importantes e reconhecidos no cenário batista, pediram para que tal decisão fosse reconsiderada. Com a negativa da solicitação, alguns resolveram manter o curso de teologia nas respectivas igrejas, enquanto outros encerraram as atividades. Houve também uma terceira modalidade, caso do Seminário Teológico Batista Carioca: os professores daquela época não deixaram o curso acabar, formando uma espécie de cooperativa.

            O STBC, caso que nos interessa aqui, perambulou como curso por outras paragens até que retornou, há alguns anos, para a PIB Campo Grande. Em 2019, antes da Pandemia, chegou a ter 90 alunos na graduação, com mais 27 na Pós em Ciência da Religião, oferecida em convênio com a Faculdade Batista de Minas Gerais/IPEMIG. Nesse mesmo período, o relatório do STBSB à CBB dava conta de cerca de 107 alunos na graduação.

            Um detalhe a mais: o corpo docente do STBC, composto em sua grande maioria por pastores de igrejas locais, foi se qualificando ao longo do tempo. Hoje, além de todos terem pelo menos uma pós-graduação lato-sensu, há dois doutores, dois mestres e dois mestrandos, em cursos reconhecidos pela CAPES. Estamos falando de Universidades Federais (UFRJ e UFJF/MG).

            Foi nesse momento de franca expansão que o STBC se viu diante de dois problemas: a pandemia da COVID-19, que ele soube superar; e o comunicado do seu despejo da Igreja que o acolhia, o qual se deu por volta da primeira semana de Novembro. Mas não foi só uma saída: foi uma substituição. E aqui reside o problema.

            Primeiro porque se havia uma insatisfação da liderança da Igreja com o Seminário, nada mais cristão do que chamar para uma conversa, expor o problema e conversar sobre possíveis formas de debelá-lo, caso ele realmente existisse.

            Segundo porque, como você poderá ver mais abaixo, a substituição foi gestada ao longo de seis meses e somente no final do ano letivo é que o STBC foi comunicado. Um detalhe importante é que pastores que compõem a equipe pastoral da PIBCG já integravam o corpo docente do STBC. Ou seja: ao desalojar o STBC tais pastores assinaram um recibo de autoreprovação.

            Terceiro porque os pastores da PIBCG que foram convidados para serem professores do STBC, pouco tempo depois receberam igual convite para atuarem no STBSB.

            Ao receber a noticia, pelo diretor do STBC, do convite para desocupar o espaço da PIBCG em 2023, fui até as partes para saber o que aconteceu, ouvir a versão deles.

            Da parte do pastor da Igreja (conversa mantida em 09/11), este disse que em Abril de 2022 o educador da Igreja buscou o STBSB para incrementar uma parceria voltada para a Universidade da Palavra, um programa de educação que a Igreja tem. O interesse era ter professores do STBSB gravando algumas aulas de certas disciplinas. O porquê de serem do STBSB e não do STBC segue sendo um mistério não explicado. Eu mesmo desfiz o argumento de que os professores de lá eram melhores qualificados, o que não foi contradito pelo pastor. Verdade é que dentre os nomes citados por ele, pelo menos um me garantiu que nunca foi procurado por ele até 3 semanas atrás.

            Essas tratativas evoluíram para a possibilidade de implantação de um pólo, tendo o assunto sido tratado oficialmente em Junho, em um treinamento oferecido pelo STBSB. Por volta do final de Agosto/2022 o pastor da Igreja entendeu que deveria levar para frente a ideia do pólo do STBSB. Segundo ele, o reconhecimento do MEC, o corpo docente, o currículo e o fato do diretor do pólo vir a ser alguém da Igreja compuseram sua decisão.

            Ao ser indagado por mim, o atual diretor interino-perpétuo do STBSB disse, em 11/11, que o STBSB estava analisando o convite do pastor da igreja (lembro a você que a liderança da Igreja tinha comunicado, em torno do início de Novembro, que eles receberiam o pólo do STBSB nas suas dependências). Já em 12/11, diante da minha réplica no dia anterior, ele me falou que iria se inteirar dos trâmites com sua equipe. A réplica, para que você caro leitor saiba, versava entre outras coisas na negativa do Diretor Acadêmico sobre a ciência de qualquer formalização do assunto, o que me fora afiançado no dia anterior. Para o Diretor Acadêmico o que existia era somente a consulta sobre a viabilidade de um pólo a um membro de sua equipe.

            Em 18/11, numa ligação, o diretor interino-perpétuo me disse que não iria ter pólo do STBSB na Igreja. Reclamou do termo que usei para classificar toda esta operação: by pass. Deixei ele a vontade para sugerir outro.

Em que pese a autonomia da Igreja e a liberdade gerencial do STBSB, não me parece que a forma usada tenha sido a melhor, o que pode ser visto nas contradições presentes nos relatos que destaquei acima.

            Sobre os fatos, deixo para você, caro leitor, a elaboração de uma síntese pessoal. O que considero mais grave nesta história toda é a ampliação dos tentáculos fundamentalistas. O STBSB hoje é a principal porta de entrada e escoamento do fundamentalismo entre os batistas brasileiros. Por outro lado, o STBC ainda é um dos poucos espaços de reflexão teológica em que a liberdade de cátedra é preservada. Seu corpo docente em nada fica devendo ao do STBSB, instituição esta que vive do seu legado em meio a um povo sem memória. Seu currículo (STBC) é bem melhor do que o do STBSB, que na sua última reformulação transformou sua grade em um PRONATEC teológico. Também pudera: o STBSB virou um departamento de Missões Nacionais, o que é anti-estatutário e anti-regimental.

            Enfim, não dou dez anos para as mulheres da UFMBB serem escanteadas, as pastoras defenestradas, os escândalos eclodirem (quem agüenta viver numa loucura dessa?), e as brigas internas para saber quem é o “Fundamentalista de Ofir”, o mais puro, explodirem aqui e ali.

            Com muita, mas muita tristeza,

Pr. Sérgio Dusilek

1 Comentário »

  1. Caro Sérgio Duzilek,
    O seminário deve insistir nas aulas de plataforma virtual, ter bons professores, dispor de autonomia e liberdade, inclusive sem amarras com o Mec. Seu nome será seu reconhecimento!
    Abraços!
    Ps. Aulas gravadas não, ensino virtual em tempo real sim.

    Comentário por Abelardo Almeida — fevereiro 3, 2023 @ 3:08 pm | Responder


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